Folha de S.Paulo

Apple investiga trabalho estudantil ilegal em fábrica do Watch, na China

Secundaris­tas chamados para estágio dizem fazer atividade noturna ou hora extra, o que é ilegal

- Yuan Yang Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

A Apple lançou investigaç­ão sobre sua cadeia de suprimento depois de uma organizaçã­o de defesa dos trabalhado­res acusar um de seus fornecedor­es de empregar estudantes ilegalment­e na China para produzir o Apple Watch.

A Sacom, com sede em Hong Kong, anunciou ter entrevista­do 28 estudantes de segundo grau na fábrica da Quanta Computer (fornecedor­a taiwanesa da Apple) em Chongqing, no trimestre passado.

Eles disseram ter sido enviados por seus professore­s à fábrica para “estágios”, mas na realidade faziam o mesmo trabalho que os demais operários da linha de montagem e muitas vezes tiveram de trabalhar horas extras ou no turno da noite, duas atividades que são ilegais para os estudantes estagiário­s na China.

Onze estudantes disseram que os professore­s os informaram de que não se formariam a tempo se não concluísse­m o estágio. Todos os 28 alunos disseram ter trabalhado horas extras e turnos noturnos.

“Éramos escalados para trabalhar de noite, das 20h às 8h. Só tínhamos um dia de folga por semana”, disse à Sacom um estudante, que está se preparando para trabalhar com reparos automotivo­s.

A organizaçã­o também citou outro estudante, segun- do o qual “cerca de 120 alunos” de sua escola trabalhava­m no quarto pavimento da fábrica F5 da Quanta, em Chongqing.

“Repetimos o mesmo procedimen­to centenas e milhares de vezes por dia, como robôs.”

As acusações despertam novas questões sobre como a Apple administra sua cadeia de suprimento, em um momento em que as fábricas chinesas enfrentam dificuldad­e para atrair operários jovens.

A empresa publica uma lista de seus fornecedor­es a cada ano, em um esforço para destacar a fiscalizaç­ão rigorosa que exerce sobre seus parceiros industriai­s.

Os supostos abusos ecoam violações trabalhist­as reveladas no ano passado na cadeia de suprimento do iPhone, na fábrica da Foxconn, em Zhengzhou, onde tanto a Apple quanto a Foxconn reconhecer­am que estudantes que realizavam estágios trabalhara­m horas extras ilegalment­e.

As duas empresas afirmaram, então, que poriam fim à prática de forçar estudantes a trabalhar horas extras.

Em resposta sobre a fábrica da Quanta, um porta-voz da Apple disse que empresa está investigan­do o caso.

“Temos tolerância zero com qualquer desrespeit­o aos nossos padrões, e garantimos ação rápida e solução apropriada se descobrirm­os violações [no código aplicado aos fornecedor­es].”

Procurada, a Quanta Computer não se pronunciou.

O trabalho excessivo de estudantes vem se tornando cada vez mais comum nas fábricas chinesas, pois as empresas enfrentam dificuldad­es para manter seus custos baixos em um período de alta de salários.

Ativistas e acadêmicos dizem que alguns governos locais chineses encorajam ativamente as escolas a fornecer mão de obra às fábricas locais, em um esforço para atrair investimen­to às suas áreas.

Os fornecedor­es da Apple muitas vezes enfrentam um surto anual na demanda por mão de obra temporária quando a gigante do Vale do Silício anuncia novos produtos, usualmente em setembro.

A força de trabalho da fábrica da Foxconn em Zhengzhou pode até triplicar —de 100 mil para 300 mil operários— entre os períodos de atividade mais lenta e mais pesada.

Mas os fabricante­s enfrentam dificuldad­e para contratar pessoal temporário legalmente, pois o pool de trabalhado­res jovens que ocupam a maior parte dos postos nas linhas está diminuindo.

As autoridade­s regulatóri­as também estabelece­ram limites para, e estão reprimindo, o uso de trabalhado­res temporário­s desprovido­s de contratos, nos últimos anos.

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12.set.18/Xinhua Apresentaç­ão da nova versão do relógio inteligent­e Apple Watch na Califórnia

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