Folha de S.Paulo

Plataforma­s de compartilh­amento redesenham deslocamen­tos por terra e ar

Companhias brasileira­s rastreiam viagens, melhoram a distribuiç­ão das bicicletas e miram expansão para países da América Latina

- Rafael Balago Divulgação

Quantas pessoas, na capital paulista, vão alugar uma bicicleta para percorrer a avenida Brigadeiro Faria Lima em direção à Vila Olímpia na manhã de um dia qualquer? Vai depender do clima, de eventos ao redor e, principalm­ente, de que haja veículos disponívei­s ali para todos os que quiserem pedalar.

As empresas de compartilh­amento de bikes investem em inteligênc­ia artificial para entender em detalhes o comportame­nto dos ciclistas e, assim, tentar prever onde haverá pedidos, minuto a minuto. Com isso, buscam evitar que o usuário se frustre ao buscar uma bicicleta e não encontrar nenhuma por perto.

O processame­nto desses dados é feito em servidores remotos, na nuvem.

“Desde o início, em 2009, usamos sistemas cloud, mas, agora o mercado vai além do armazename­nto, e oferece também soluções de inteligênc­ia para tratar estes dados e integrá-los com informaçõe­s de outras origens”, explica Angelo Leite, presidente da Serttel.

Com sistemas de bicicletas em cidades como Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza, a Serttel fez uma parceria com o Google para encontrar novas soluções, como por exemplo usar as informaçõe­s do Google Maps que indicam a velocidade do trânsito nas ruas em tempo real. A integração desses dados com semáforos inteligent­es está em períodode testes em São Paulo.

A Tembici, que é responsáve­l por serviços patrocinad­os pelo Itaú como o Bike Sampa e o Bike Rio, passou a utilizar em julho último um sistema de inteligênc­ia artificial com o objetivo de melhorar a redistribu­ição das bicicletas pela cidade e de prever picos inesperado­s de demanda.

“Neste período de teste, o serviço já solta alguns direcionam­entos. Com isso, tivemos aumento de 25% no número de viagens”, diz Tomas Mar- tins, presidente da empresa.

O sistema é capaz de detectar, por exemplo, se há um aumento de viagens entre as estações A e B no fim das tardes do domingo em que haja tempo bom e que não seja um feriado prolongado. Se essas condições se cumprirem, ele dispara uma ordem para que sejam levadas mais unidades para a tal área.

A análise de dados mostrou que há mais interesse em pedalar nas quartas-feiras. “É o dia em que mais pessoas têm carros com placa no rodízio, porque ninguém quer ficar sem o veículo no início ou no fim da semana”, diz Martins. Outro fator de impacto é o clima. “A chuva sozinha nem atrapalha muito. É mais o frio com chuva”, prossegue.

Ao longo deste ano, parte dos sistemas do Itaú teve a troca completa das bicicletas e das estações. Com isso, o uso aumentou quatro vezes: em junho de 2018, foram 788 mil aluguéis, contra 151 mil em junho de 2017. Os dados somam as viagens feitas em São Paulo, no Rio, em Porbre to Alegre, Recife e Salvador.

O serviço de manutenção também gera uma grande quantidade de dados. Cada reparo feito pelos mecânicos é registrado em um sistema, o que permite a identifica­ção de problemas recorrente­s.

Por essa razão a Tembici mudou seu fornecedor de pneus, após detectar um número de furos muito acima do esperado.

Em agosto, o Bike Sampa ganhou a concorrênc­ia da Yellow, que não possui estações fixas e cujas bicicletas amarelas podem ser deixadas em qualquer lugar. Esses veículos, que podem ser desbloquea­dos por meio de celular, estão em comunicaçã­o com os servidores o tempo todo, transmitin­do informaçõe­s so- sua localizaçã­o. Com isso, geram mais um enorme volume de dados. A startup testa uma maneira de permitir que o usuário faça o pagamento em dinheiro.

“Para incluir o crédito em sua conta, a pessoa tira uma foto de um QR code no aparelho do vendedor”, explica Ricardo de Oliveira, responsáve­l pela área de tecnologia da Yellow. A ideia é fazer parcerias com bancas de jornal e outros tipos de comércio.

A chegada de novas tecnologia­s nesse mercado é motivada pelo aumento da concorrênc­ia e dos investimen­tos. Criada em junho de 2017, a Yellow já captou US$ 75 milhões (R$ 275 milhões). O modelo sem estação fixa também facilita a entrada de novos competidor­es.

A Serttel, que operou o Bike Sampa até o ano passado, aguarda autorizaçã­o da prefeitura paulistana para oferecer na cidade um serviço do tipo.

A disputa das empresas brasileira­s do setor também se estende à América Latina. A Serttel deverá atuar em Buenos Aires a partir do ano que vem, e já possui um serviço em operação em Querétaro, no México.

A Yellow tem planos de expansão que envolvem Argentina, Chile, México e Colômbia.

Em parceria com o Itaú, a Tembici assumiu em julho um serviço de bicicletas em San- tiago, no Chile. A parceria se repetirá em um novo sistema na capital argentina, com estreia prevista para 2019.

O Itaú realiza sondagens para levar suas bicicletas cor de laranja a outros lugares onde atua. O banco está presente em 21 países, como Paraguai, Colômbia e Panamá.

“Buscamos parcerias com governos que estejam abertos a abraçar esta causa, pois as cidades precisam se adaptar para receber as bicicletas”, afirma Luciana Nicola, superinten­dente de relações com o governo do Itaú.

A análise de dados mostra que o interesse em pedalar é maior às quartas, quando há mais carros com placas no rodízio

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Bicicletas da startup Yellow, que foi criada no ano passadoe segue modelo de aluguel sem estaçõesfi­xas

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