Empresas dão ‘match’ entre quem tem e quem não dinheiro
Ao longo de meio milênio, boa parte do negócio de empréstimos foi concentrado nos bancos, que eram as instituições mais eficientes para fazê-lo. As fintechs podem ocupar parte do lugar dos bancos oferecendo esse serviço de um modo que no passado foi rudimentar e custoso, mas que agora pode ser ressuscitado com tecnologia.
Em uma economia primitiva, um empreendedor com uma oportunidade em vista, mas sem capital suficiente, tinha que bater de porta em porta a fim de levantar fundos para levar seu negócio adiante. Tomar dinheiro emprestado era um processo lento, ineficiente e, portanto, caro e inseguro.
Entre outras funções essenciais, os bancos assumiram o papel de intermediários financeiros. Isto é, grosso modo, juntam os depósitos e a poupança dos que têm dinheiro sobrando e emprestam tais fundos a quem precisa deles. Reduzem, assim, dois custos importantes.
Primeiro, o custo de casar, “dar match”, aqueles que têm e os que não têm dinheiro, caso a caso. Por quê? Porque os bancos juntam todos esses recursos em uma espécie de fundão: quem empresta não sabe para quem está emprestando, apenas recebe seus rendimentos do banco (ou de algum fundo administrado pelo banco). Quem recebe o financiamento não tem como conhecer seus financiadores. O banco faz apenas o meio de campo.
Segundo, o banco faz o trabalho de verificar se o tomador de empréstimo tem capacidade de devolver o dinheiro que tomou, se tem crédito (e faz o serviço de cobrar as dívidas e todas as burocracias associadas a financiamentos).
Graças à tecnologia, algumas fintechs podem dar crédito de modo “primitivo”, “dando match”, “casando” emprestadores e tomadores de dinheiro, caso a caso, mas de modo eficiente.
É apenas um exemplo. As fintechs podem ainda fazer “vaquinhas” sistemáticas, “crowdfunding”, reunir poupadores para um projeto específico (um empreendimento imobiliário). Ou reunir pequenos poupadores interessados em financiar uma empresa menor, assim como grandes investidores financiam meganegócios no mercado de capitais.
As possibilidades são mui- tas. Mas, na vida real, quantas são e o que fazem as fintechs brasileiras?
Havia 377 fintechs no Brasil em maio deste ano, segundo as contas do site Finnovation, em conjunto com a Finnovista e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Em meados de 2015, elas eram cerca de 50.
O que fazem, basicamente? Pagamentos e remessas de dinheiro eram 25% do total dessas empresas. Administração financeira de empresas, 17%. Empréstimos, 15%. Gestão financeira pessoal (administração de recursos e orçamentos, e “conselhos” de investimento), 8% do total —uma área em que os bancos não vão nada bem na prestação de serviços, tratando o cliente como massa.
Essas empresas têm volume de operações para tomar espaço relevante dos bancos? Não, não ainda, pelo menos, mas podem roer a rentabilidade de alguns ramos do negócio.
Uma empresa inovadora na área de investimentos, a XP, tornou-se uma concorrente de grandes instituições financeiras e foi comprada, pela metade, pelo Itaú.
No caso do crédito, serviço central dos bancos, estima-se que menos de 1% dos empréstimos sejam concedidos via fintechs.
A maior parte dessas companhias é pequena. Apenas 10% têm mais de cem funcionários; 72% têm menos de 25 empregados. São novas: só 18% têm mais de cinco anos.
O que fazem as mais promissoras? São bancos puramente digitais. Algumas são uma espécie de mecanismo de busca de oportunidades de investimento. Outras, oferecem consultoria de aplicações financeiras por meio de inteligência artificial (“robôsinvestidores”).
Para empresas, certas fintechs oferecem assessoria na procura de empréstimos: dadas as características de uma companhia, algoritmos indicarão qual a fonte mais provável de financiamento a bom preço, no mercado.
Um ramo crescente é de serviços de pagamentos, com empresas que querem difundir os pagamentos por celular, um negócio literalmente da China, país onde tal método de liquidar transações mais se expande no mundo.
Outras misturam um serviço de empréstimos mais baratos com a oferta de aplicativos que organizam as suas contas. Isto é, se conectam a seu banco e, dadas outras informações, fazem a sua contabilidade de modo mais criativo, explicando e organizando suas receitas e despesas.
Tecnologia digital e inteligência artificial podem arrumar soluções para os pequenos a custos e riscos razoáveis