Controle acionário da Companhia das Letras passa para o grupo Penguin
A Penguin Random House, maior grupo editorial do mundo, passará a ter controle majoritário da Companhia das Letras —em 2012, o grupo havia comprado participação de 45% na editora brasileira e agora passa a ter 70%.
“Estou confiante de que, em longo prazo, a situação macroeconômica brasileira vai melhorar”, disse em nota Markus Dohle, presidente do conglomerado editorial estrangeiro.
Apesar dos inúmeros boatos nos últimos anos de que Luiz Schwarcz, fundador da casa, preparava uma aposentadoria, ele continuará na Companhia das Letras como presidente por tempo indeterminado. O editor e a historiadora Lilia Moritz Schwarcz passam a ter 30% do controle acionário da empresa.
A aquisição de parte da editora pela Penguin, há seis anos, já previa em contrato que o grupo estrangeiro teria uma opção de compra do controle majoritário em 2013 —o prazo foi prorrogado para este ano, quando a Random House se fundiu à Penguin.
“Havia uma expectativa de que, em 2018, o Brasil estaria melhor. Não foi o que aconteceu, mas era uma regra de contrato”, diz Schwarcz, que vendeu 6% de sua participação.
O fundador da Companhia afirma que, no acordo, a independência editorial da casa foi assegurada pelos sócios estrangeiros. “Desde o começo do ano conversávamos sobre em que condições isso aconteceria. A opção [de compra] vencia agora. Na sexta passada, batemos o martelo.”
A família Moreira Salles, que se associou à editora no início de suas atividades, agora deixa a sociedade.
“Essa será a única diferença. Os Moreira Salles contribuíram muito no começo, mas, numa situação em que nos tornaríamos minoritários, para eles perderia o sentido continuarem presentes.”
Schwarcz espera que, com a transação, haja maior transferência de tecnologia e recursos para a Companhia das Letras —uma vez que, de sócios, os estrangeiros passam a ser proprietários.
A negociação foi antecipada, no começo de setembro, pela coluna Painel das Letras. O presidente da Penguin Random House havia afirmado, em evento para investidores na Alemanha, que, entre seus planos para 2018, estava o de assumir o controle da editora brasileira.
“Queremos dar outro passo importante no Brasil, onde pretendemos ganhar participação majoritária na Companhia das Letras”, disse. O desejo foi tornado público em março, num evento da Bertelsmann, conglomerado de mídia alemão que controla a Penguin.
A aquisição coloca a Companhia das Letras em posição de vantagem em meio à forte crise que atinge o mercado editorial. Nos últimos anos, as duas principais redes de livrarias do país, Cultura e Saraiva, vêm atrasando pagamentos aos editores.
Na semana passada, a Cultura, alegando não ter como pagar seus credores, entrou com um pedido de recuperação judicial, aceito pela Justiça. Já a Saraiva anunciou o fechamento de 20 lojas.
“Falei para eles [da Penguin Random House] que a crise está se agravando. Disse que a gente poderia determinar outra data [para a venda]. Investiram acreditando que a crise vai passar. Não há mensagem mais positiva para o mercado editorial brasileiro”, diz Schwarcz.