Folha de S.Paulo

Após vídeo racista no Mackenzie, aluno é suspenso

- Fernanda Canofre Colaborou Joelmir Tavares

Para o estudante de direito Pedro Bellintani, suas falas em vídeo foram uma “bobagem”. Após as eleições, apareceu com camiseta de Bolsonaro dizendo “essa negraiada vai morrer”. Ele perdeu o emprego. Na USP, alunos são investigad­os por foto com armas na FEA.

Uma “bobagem”, um “impulso”, uma “fala completame­nte equivocada”. É assim que o estudante Pedro Bellintani Balleoti, 25, da Faculdade de Direito da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, de São Paulo, resume seus dois vídeos que provocaram revolta logo após as eleições.

Em um deles, gravado no domingo (28), Bellintani aparece em um carro, vestindo uma camiseta com a foto do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), e diz que vai “estar armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vagabundo com camiseta vermelha para matar logo”. No mesmo vídeo, ele diz que “essa negraiada vai morrer” e grita “é capitão, caralho”.

O caso foi revelado pela coluna Painel e levou à demissão de Bellintani do escritório de advocacia onde trabalhava e à sua suspensão da faculdade.

Em entrevista, o estudante disse que o vídeo foi enviado por WhatsApp para um amigo em Londrina (PR), sua cidade natal. Segundo ele, o amigo, que votou em Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno, teria repassado a outras pessoas.

“Foi uma fala completame­nte infeliz, estou completame­nte arrependid­o, não imaginava essa proporção que o vídeo ia tomar. Fiquei arrasado e arrependid­o pelo sofrimento que eu possa ter causado para todas essas pessoas”, diz ele.

Segundo Bellintani, a fala foi motivada por “indignação”, por carregar “um sentimento de injustiça de muitos anos com o governo federal, assim como 55 milhões de brasileiro­s”.

“Acabei externando nessas palavras completame­nte equivocada­s, erradas, a pessoas que não tinham nada a ver com a minha indignação. Pelo contrário, não sou uma pessoa racista, muito menos violento. Estou extremamen­te triste e até preocupado com os efeitos que eu possa ter causado para as pessoas afetadas.”

Em outro vídeo, gravado há cinco meses e enviado a três amigos pelo WhatsApp, Bellintani segura um revólver e canta versos como “capitão, levanta-te”. A arma seria uma herança de um avô, mas não está registrada em seu nome.

Nesta terça (30), alunos do Mackenzie fizeram um protesto. Integrante do Coletivo Negro Mack, que reúne estudantes negros, Lucas, 23, aluno do 7º semestre de direito, diz que alguns alunos negros faltaram às aulas desde a divulgação dos vídeos por medo.

“É uma coisa que a gente está vendo crescer no país. A eleição do Bolsonaro legitimou esse discurso. A gente tem que mostrar que isso tem que ser combatido”, diz. Pedro Bellintani Balleoti, 25 estudante de direito, gravou vídeo ameaçando a ‘negraiada’

Em nota assinada pelo reitor, Benedito G. Aguiar Neto, a universida­de diz que as opiniões e atitudes do aluno “são veementeme­nte repudiadas”. Afirma que foi instaurado um processo disciplina­r e a suspensão preventiva do aluno, além de uma sindicânci­a.

O Ministério Público também abriu uma investigaç­ão criminal para apurar o caso. Bellintani será chamado para dar explicaçõe­s. A Promotoria de Direitos Humanos também analisará o episódio, na esfera cível, e deve iniciar uma apuração nos próximos dias.

Ele diz que, depois do episódio, se considera “apolítico”. Antes, diz que tendia a ter ideias “um pouco liberais”. Agora, não se identifica com nada porque “perdeu oportunida­des e “planos que vinha fazendo há anos” para a carreira.

“Foi uma fala completame­nte infeliz, estou completame­nte arrependid­o, não imaginava essa proporção que o vídeo ia tomar. Fiquei arrasado

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Reprodução Acima, protesto de alunos da Universida­de Mackenzie, em São Paulo; no detalhe, Pedro Bellintani Balleotti, 25, autor de vídeo com ofensas

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