Só reformar a Previdência não basta, diz chefe do Itaú
Presidente do Itaú Unibanco destaca que mudança na Previdência deveria ser apenas a primeira de uma ampla agenda
A reforma da Previdência é a mais urgente a ser realizada pelo novo governo, diz o presidente do Itaú, Candido Bracher, mas ela não basta para que o país tenha um desenvolvimento econômico maior. “Se ficarmos só nisso, o crescimento vai ser medíocre.”
Ele defende reformas na educação, na política e na tributação.
O presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, listou a reforma da Previdência como a mais urgente a ser realizada pelo novo governo, mas ressaltou que outras mudanças precisam ser feitas para que o país apresente crescimento econômico maior.
“A principal, no sentido de que precede as demais e é mais urgente, é a reforma da Previdência. Mas, se ficarmos só nisso, o crescimento vai ser medíocre”, afirmou.
Para ele, sem outras reformas, o PIB potencial do país é de cerca de 2%, mas o Brasil deveria crescer mais.
Bracher defendeu uma reforma educacional, sem citar como seria essa mudança. “Não só por questão de ganho de produtividade, mas em igualdade de oportunidades”, acrescentou.
Ele listou ainda a necessidade de uma reforma política, que melhoraria a representatividade no Congresso e a aprovação de reformas. Em pronunciamento, Bracher havia citado também a necessidade de reforma tributária.
O executivo falou a jornalistas para detalhar os resultados do terceiro trimestre, divulgados na noite de segunda (29). No período, o banco lucrou R$ 6,5 bilhões, alta de 3,2% na comparação com igual período de 2017.
Bracher considerou que a reforma da Previdência em tramitação no Congresso deveria ser aprovada neste ano e, caso fosse desejo do novo governo, novas mudanças poderiam ser apresentadas.
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, sugeriu que o texto proposto pelo governo Michel Temer seja aprovado antes de sua posse, depois de já ter afirmado que era ruim.
Bracher defendeu, ainda, a possibilidade de usar as reservas internacionais do país, que somam cerca de US$ 380 bilhões, para a redução da dívida.
“Reservas internacionais são dólares que o país tem e que, para comprá-los, emitiu dívida. O que está se falando é usar a reserva para pagar a dívida que foi emitida. Ela custa 6,5% ao ano, e a reserva rende 1% a 1,5% ao ano. Acho saudável usar uma parte das reservas para amortizar dívida.”
Ele criticou, porém, a proposta que havia sido apresentada pelo PT durante a campanha, que envolvia o uso das reservas para investimentos.
E disse ainda que as reservas podem ser reduzidas, mas precisam permanecer em bom volume porque foram elas que impediram que o Brasil atravessasse uma crise cambial como a Argentina e a Turquia.
Reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico informou que o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, é favorável a uma redução das reservas internacionais, em razão do seu elevado custo de carregamento.
Nesta terça-feira (30), no entanto, o economista disse que as reservas poderiam ser usadas apenas para debelar crises cambiais. e recomendava o investimento no mercado de ações.
O texto gerou críticas em redes sociais e ameaças de encerramento de contas.
No texto, o banco afirma que Bolsonaro “consolidou a sua caminhada ao Palácio do Planalto com uma plataforma conservadora nos costumes, mas liberal em suas propostas econômicas”.
“Diante desse cenário, é o momento de priorizar investimentos em Bolsa. Além da confiança na economia, nossos analistas projetam um bom desempenho no mercado de ações local.”
Receberam a mensagem clientes de alta renda (Uniclass e Personnalité), e a sugestão foi de alocação em fundos multimercado.
Críticos consideraram que o Itaú demonstrou apoio político ao presidente eleito.
O banco afirma que o email era uma análise do atual cenário político-econômico com recomendações de investimentos.
“Nosso objetivo com esse comunicado foi o de reforçar que, a partir do cenário eleitoral definido, temos o papel de orientar nossos clientes sobre temas que possam impactar seus investimentos, sempre com base em argumentações técnicas”, afirma o banco.
O Itaú acrescentou ainda que lamentava não ter sido claro e objetivo ao transmitir essa mensagem e reforçou que é uma empresa apartidária.
Não é a primeira vez que um relatório de banco causa polêmica.
Durante a eleição de 2014, o Santander enviou a clientes de alta renda um relatório em que classificava a reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT) como um risco para a economia do país.
À época, o governo acusou o banco de terrorismo eleitoral, e o Santander demitiu funcionários envolvidos no caso.