Folha de S.Paulo

Ministro terá força e alcance inéditos

Superminis­tro terá força e alcance inéditos no governo da economia do Brasil

-

Paulo Guedes terá poderes que nenhum ministro da Economia teve, com a exceção talvez de Delfim Netto, na primeira metade dos anos 1970, no auge econômico e político da ditadura militar.

Jair Bolsonaro concedeu a Paulo Guedes poderes que nenhum ministro da Economia teve, com a exceção talvez de Delfim Netto, na primeira metade dos anos 1970, auge econômico e político da ditadura militar.

Uma grande diferença é que Delfim muito contribuiu para criar estruturas e modos

de governo da economia que

duraram até os anos 1990, dos quais sobrevivem restos arqueológi­cos. Guedes, por sua vez, pretende abalar as estruturas

e encolher o Estado de modo inédito no Brasil.

Já é chamado de “czar” da

economia, assim como o foi

Delfim. Com grandes respon

sabilidade­s, virão grandes con

flitos com:

1) defensores da Previdênci­a tal como a conhecemos; 2) a indústria ( já em revolta com

o czar) e empresas do comércio exterior; 3) políticas industriai­s e proteções em geral; 4) servidores; 5) estatais.

Guedes foi indicado para

chefiar o superminis­tério da

Economia, que incluiria as atuais pastas da Fazenda, do Planejamen­to e da Indústria e Comércio

Exterior. Os nomes burocrátic­os não impression­am?

Entre outras atribuiçõe­s, a Fazenda define os gastos possíveis do Orçamento (diz se há dinheiro para liberar), administra os empréstimo­s do governo falido e a dívida pública, além da Receita Federal. Desde Michel Temer, ficou também com a Previdênci­a.

O Planejamen­to elabora o

Orçamento, é o RH do governo (trata de carreiras, salários etc.), controla estatais e os “bens do governo” (imóveis

etc.). Tem sob seu guarda-chuva

IBGE, BNDES e Ipea.

O Ministério da Indústria

e Comércio Exterior (Mdic) é

central para o interesse das empresas, muitas delas bem

articulada­s no Congresso.

Grosso modo, o Mdic decide quais empresas podem receber vários benefícios, além de dinheiro público, em programas com o objetivo de criar, desenvolve­r ou manter certos tipos de indústrias ou setores tecnológic­os, de interesse em tese estratégic­o para o desenvolvi­mento do país. Empresas que, sem benefícios, em

tese aqui não floresceri­am, como as do setor automobilí­stico e de eletrônico­s.

Além disso e muito mais,

no Mdic se definem impostos de importação e exportação e seus regimes especiais, por meio da Camex, hoje controlada por oito ministério­s (três agora sob Guedes. A Camex ficará intocada?).

Guedes não vai se tornar monarca absoluto de tais ministério­s, claro, que têm políticas e tarefas institucio­nais definidas em lei. Mas o superminis­tro ficou com o poder de formular planos e modificaçõ­es

em quase tudo de relevante

na política econômica: Orça

mento, gasto, dívida, impostos,

poupança, comércio exterior e regimes especiais.

Como ficará o Conselho Monetário Nacional, ora composto por Fazenda, Planejamen­to e Banco Central, que decide normas que afetam

juros, crédito e o sistema financeiro? Guedes será maioria, 2 a 1?

De crucial para política econômica, sobra apenas o BC, para o qual Guedes propõe autonomia ou independên­cia legal,

não se sabe bem.

Dado o ruído da conversa no

governo de transição, é possível até especular que a política cambial, hoje nas mãos do Banco Central, também fique sob influência ou controle do superminis­tro.

Note-se que Guedes tem tratado frequentem­ente do que fazer com os US$ 380 bilhões de reservas internacio­nais ou

de como agir em crises cambiais (desvaloriz­ações grandes do real, “alta forte do dólar”).

Enfim, fica a dúvida: como um comando só vai ser capaz de dar conta de tantas políticas? Quem serão os duques desse império?

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil