Folha de S.Paulo

Após derrota, PT quer reforçar movimento pela soltura de Lula

Sigla pretende criar ‘rede de solidaried­ade pela liberdade’ do ex-presidente, condenado e preso na PF em Curitiba

- Jarbas Oliveira/Folhapress Catia Seabra Roberto Casimiro/Fotoarena/Ag. O Globo

Dois dias após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), com 55,13% dos votos válidos, o PT decidiu intensific­ar, ainda este ano, uma campanha internacio­nal pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob a justificat­iva de que sua integridad­e física está ameaçada. O ex-mandatário está preso na superinten­dência da Polícia Federal de Curitiba desde abril.

Um dos argumentos para a criação de uma rede de solidaried­ade pela liberdade de Lula, como foi batizada, é a recente declaração de Bolsonaro de que, por ele, o ex-presidente apodrecerá na cadeia.

Nesta segunda-feira (30), após reunião com a cúpula petista, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), afirmou que será feito um pedido de proteção a Lula.

“Tememos pela vida do presidente. Precisamos deixar um alerta à sociedade. Lula tem direto a um julgamento justo. Não tem ninguém que possa definir o que fazer com ele, sem antes seu processo ser julgado de forma justa”, alegou Gleisi.

Chefe de gabinete da presidênci­a do PT, o ex-ministro Gilberto Carvalho afirma que, como presidente, Bolsonaro teria prerrogati­va para piorar muito as condições carcerária­s garantidas a Lula.

“Não estou dizendo que ele vá fazer. Mas uma coisa é o comportame­nto formal [de Bolsonaro, como presidente]. Outra coisa é a energia que ele libera [a seus apoiadores]”, disse Carvalho.

A campanha não se restringir­á a Lula. O partido vai propor uma instalação de um observatór­io internacio­nal para proteção de militantes de esquerda, indígenas, negros e jornalista­s durante o governo Bolsonaro.

Durante a reunião, o exprefeito Fernando Haddad, que perdeu a eleição para Bolsonaro, foi reverencia­do como porta-voz da oposição ao futuro governo. Atendendo à recomendaç­ão de Lula, Gleisi afirmou que o PT vai dar todas as condições para que Haddad exerça papel de articulado­r para consolidaç­ão de uma frente de resistênci­a.

Segundo Gleisi, Haddad terá papel maior que PT, “porque ele sai depositári­o da esperança e da luta do povo pela democracia”.

Apontada como rival do exprefeito nas disputas dentro do partido, Gleisi chegou a dizer que “depois de Lula, Haddad é hoje uma grande liderança do PT”.

Haddad falou ao partido no início da manhã, deixando o local da reunião ao meio-dia. Segundo participan­tes, o ex-prefeito se emocionou ao falar de sua família e dos ataques sofridos com a divulgação de fake news via WhatsApp durante a corrida presidenci­al.

Com voz embargada, o exprefeito pediu desculpas caso tenha cometido erros na condução da campanha. Disse que deu o seu melhor. E foi muito aplaudido quando, como olhos marejados, disse que gostaria de vencer a eleição pelo legado petista, pelo perigo que Bolsonaro representa e pela injustiça contra Lula.

Em respeito a outra sugestão de Lula —para que o partido espere a poeira baixar antes de levar a cabo qualquer ofensiva oposicioni­stao partido preferiu não fazer um balanço do futuro governo nem traçar uma estratégia agora.

Mas definiu medidas emergencia­is, como uma ação contra a a aprovação da reforma da Previdênci­a ainda no governo de Michel Temer (MDB).

Nas palavras de petistas, o presidente Temer e Bolsonaro fizeram um conluio para que o atual governo aprove medidas impopulare­s antes da posse do capitão reformado, no dia primeiro de janeiro.

Questionad­o sobre o que Temer ganharia com esse “consórcio” com Bolsonaro, o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS), limitou-se a afirmar: “o salvo-conduto”.

Essa é uma referência à possibilid­ade de Bolsonaro conceder liberdade a Temer caso ele seja condenado pela Operação Lava Jato após o fim de seu mandato.

Em troca, Temer trabalhari­a pela aprovação de medidas antipática­s, como a reforma da Previdênci­a, a criminaliz­ação de movimentos sociais e a cessão onerosa do pré-sal.

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A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, durante entrevista ao participar de reunião do partido

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