Folha de S.Paulo

Antipetism­o pauta cidade mais bolsonaris­ta

- Felipe Bächtold

O prefeito de Nova Pádua (RS) até tentou no primeiro turno convencer os eleitores da cidade a votar no candidato de seu partido à Presidênci­a, Geraldo Alckmin.

Fazia campanha como costuma ser em um pequeno município: boca a boca, de modo discreto, sem a pirotecnia de eventos eleitorais.

Diante de tantas reações negativas, desistiu. Todos só falavam em Jair Bolsonaro (PSL).

Cercada por vinícolas e parreirais na serra gaúcha, o município de 2.548 habitantes, a maioria descendent­es de italianos, tenta se projetar como destino turístico. Mas, nas últimas duas eleições para presidente, se tornou conhecido nacionalme­nte por outro motivo: os recordes de votação contra o PT.

No segundo turno de 2014, Aécio Neves (PSDB) venceu no município com 88,1% dos votos válidos. No primeiro turno deste ano, Bolsonaro fez 82,7%. No domingo (28), o capitão reformado ampliou a votação para 93%. Foram 1.770 votos para o candidato do PSL e apenas 134 para o petista Fernando Haddad.

Os poucos partidos estabeleci­dos em Nova Pádua formam uma coalizão na prefeitura que foi eleita sem concorrênc­ia em 2016. Apenas um candidato, o atual prefeito Ronaldo Boniatti, 37, foi lançado. Não há vereadores de oposição.

Boniatti cita como motivo para o índice de 93% um “repúdio à política assistenci­alista do PT, que não combina muito com a ideologia daqui”. Ele tenta explicar a circunstân­cia: “É uma questão cultural, de trabalho. São pessoas que trabalhara­m muito para conquistar o sucesso financeiro. Desde a colonizaçã­o até hoje, é a herança cultural”.

Também eleitor de Bolso- naro no segundo turno, o tucano diz que quem votou em Haddad geralmente é de fora.

O padre Mário Pasqual menciona outro argumento para o sucesso bolsonaris­ta: a população formada por pequenos proprietár­ios rurais é mais inclinada a se identifica­r com partidos de direita.

A bandeira da segurança, um dos trunfos do eleito, não tem muito propósito na pacata localidade, apelidada pelos locais de “pequeno paraí- so italiano”. Não houve homicídios nos últimos anos, e as ocorrência­s mais graves foram tentativas de explosão de caixas eletrônico­s feitas por grupos de fora da cidade.

A longa crise econômica nacional também não parece ser um tema de apelo. Os relatos são até de falta de mão de obra para o trabalho no campo.

O motivo principal para o voto no candidato do PSL, segundo moradores, é seu perfil de “mudança”. “Foram anos de PT, PT e PT. Que agora pelo menos comece a melhorar”, diz o comerciant­e Volmar Vezzaro, 65.

O apoio em massa em Nova Pádua não significa, porém, uma sintonia completa com as ideias do deputado. Eleitor de João Amoêdo (Novo) no primeiro turno, Cristian Menegat, 30, considera o candidato vitorioso muito “extremista”. “Com ele é tudo 80 ou 8. Esse é o meu maior medo, como ele vai administra­r”, diz.

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Felipe Bächtold/Folhapress Centro de Nova Pádua, onde Bolsonaro fez 93% dos votos válidos; à dir., o prefeito Ronaldo Boniatti (PSDB)
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