Antipetismo pauta cidade mais bolsonarista
O prefeito de Nova Pádua (RS) até tentou no primeiro turno convencer os eleitores da cidade a votar no candidato de seu partido à Presidência, Geraldo Alckmin.
Fazia campanha como costuma ser em um pequeno município: boca a boca, de modo discreto, sem a pirotecnia de eventos eleitorais.
Diante de tantas reações negativas, desistiu. Todos só falavam em Jair Bolsonaro (PSL).
Cercada por vinícolas e parreirais na serra gaúcha, o município de 2.548 habitantes, a maioria descendentes de italianos, tenta se projetar como destino turístico. Mas, nas últimas duas eleições para presidente, se tornou conhecido nacionalmente por outro motivo: os recordes de votação contra o PT.
No segundo turno de 2014, Aécio Neves (PSDB) venceu no município com 88,1% dos votos válidos. No primeiro turno deste ano, Bolsonaro fez 82,7%. No domingo (28), o capitão reformado ampliou a votação para 93%. Foram 1.770 votos para o candidato do PSL e apenas 134 para o petista Fernando Haddad.
Os poucos partidos estabelecidos em Nova Pádua formam uma coalizão na prefeitura que foi eleita sem concorrência em 2016. Apenas um candidato, o atual prefeito Ronaldo Boniatti, 37, foi lançado. Não há vereadores de oposição.
Boniatti cita como motivo para o índice de 93% um “repúdio à política assistencialista do PT, que não combina muito com a ideologia daqui”. Ele tenta explicar a circunstância: “É uma questão cultural, de trabalho. São pessoas que trabalharam muito para conquistar o sucesso financeiro. Desde a colonização até hoje, é a herança cultural”.
Também eleitor de Bolso- naro no segundo turno, o tucano diz que quem votou em Haddad geralmente é de fora.
O padre Mário Pasqual menciona outro argumento para o sucesso bolsonarista: a população formada por pequenos proprietários rurais é mais inclinada a se identificar com partidos de direita.
A bandeira da segurança, um dos trunfos do eleito, não tem muito propósito na pacata localidade, apelidada pelos locais de “pequeno paraí- so italiano”. Não houve homicídios nos últimos anos, e as ocorrências mais graves foram tentativas de explosão de caixas eletrônicos feitas por grupos de fora da cidade.
A longa crise econômica nacional também não parece ser um tema de apelo. Os relatos são até de falta de mão de obra para o trabalho no campo.
O motivo principal para o voto no candidato do PSL, segundo moradores, é seu perfil de “mudança”. “Foram anos de PT, PT e PT. Que agora pelo menos comece a melhorar”, diz o comerciante Volmar Vezzaro, 65.
O apoio em massa em Nova Pádua não significa, porém, uma sintonia completa com as ideias do deputado. Eleitor de João Amoêdo (Novo) no primeiro turno, Cristian Menegat, 30, considera o candidato vitorioso muito “extremista”. “Com ele é tudo 80 ou 8. Esse é o meu maior medo, como ele vai administrar”, diz.