Presidente não fez ataques, mas críticas a jornal, afirma aliado
Braço direito de Jair Bolsonaro (PSL), o advogado Gustavo Bebianno afirmou nesta terça-feira (30) que o presidente eleito fez críticas, e não ataques, à Folha na entrevista ao Jornal Nacional na noite de segunda (29).
“Ele não fez ataques, ele fez críticas. Será que a crítica é unilateral? Acho que nós vivemos num regime democrático, se ele se sentiu atacado em algum momento de forma fora de uma linha de normalidade... Afinal de contas, há tantos outros jornalistas, como do O Antagonista, por exemplo, Claudio Dantas, o Felipe Moura Brasil e Augusto Nunes, que criticaram também, ou observaram ou fizeram comentários a respeito da postura desse jornal. Isso faz parte da democracia, ninguém está atacando ninguém”, disse.
Na entrevista ao Jornal Nacional, o capitão reformado voltou a atacar a Folha: “Por si só, esse jornal se acabou”.
Bebianno negou que o futuro governo esteja fazendo uma ameaça ao jornal quando o presidente eleito diz que cortará a publicidade governamental. “Não, de jeito nenhum”, disse o advogado. Segundo ele, é preciso ter equilíbrio e critério técnico.
“Nós estamos estudando isso. Na verdade, entendemos que o Estado gasta muito dinheiro com publicidade de forma desnecessária, é um desperdício”, afirmou.
Sem dar detalhes, ele sugeriu que existem escândalos na Secretaria de Comunicação envolvendo verbas de publicidade. “Isso vai ser revisto de forma democrática, tranquila e seguindo os padrões legais”, afirmou.
As falas de Bolsonaro foram em resposta a uma pergunta do jornalista William Bonner.
Bonner questionou: “O senhor sempre se declara um defensor da liberdade de imprensa, mas, em determinados momentos, chegou a desejar que um jornal deixasse de existir. Como presidente eleito, o senhor vai continuar defendendo a liberdade da imprensa e a liberdade do cidadão de escolher o que ele quiser ler, o que ele quiser ver e ouvir?”.
A resposta de Bolsonaro, de que “o jornal se acabou”, foi seguida de uma defesa de Bonner em relação à Folha.
“Como editor-chefe do Jornal Nacional, eu tenho um testemunho a fazer. Às vezes, eu mesmo achei que críticas que o jornal Folha de S.Paulo tenha feito ao Jornal Nacional me pareceram injustas. Mas para ser justo do lado de cá, eu preciso dizer que o jornal sempre nos abriu a possibilidade de apresentar a nossa discordância, apresentar os nossos argumentos. A Folha é um jornal sério, um jornal que cumpre um papel importantíssimo na democracia brasileira. É um papel que a imprensa profissional brasileira desempenha e a Folha faz parte desse grupo da imprensa profissional brasileira.”
Também na segunda, Bolsonaro disse que pretende privatizar a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), empresa pública criada em 2007 para gerir um conglomerado de emissoras de rádio e TV públicas.
O presidente eleito afirmou que a EBC consome bilhões por ano e não oferece retorno em audiência. “Queremos vender a EBC. Preferimos confiar na mídia profissional para fazer os anúncios que o governo deve fazer.”