Folha de S.Paulo

Urnas deram recado ao PSDB, diz eleito no RS

Eduardo Leite, 33, afirma que vitória mostrou necessidad­e de ‘arejamento de ideias’ e atualizaçã­o dentro do partido

- Magali Beckmann/Divulgação

“Tenho certeza que fazer oposição sistemátic­a [ao governo Bolsonaro] não deve passar na cabeça de ninguém no PSDB. A postura será colaborar, especialme­nte em relação a reformas

Eduardo Leite governador eleito do RS

são paulo Mais jovem governador eleito neste ano no país, o gaúcho Eduardo Leite (PSDB) diz que a campanha eleitoral mostrou que seu partido precisa repensar sua conexão com o eleitorado.

Para Leite, 33, não se trata de mudar a agenda do partido, mas de possibilit­ar mais engajament­o de apoiadores.

Presidente licenciado da sigla no Rio Grande do Sul, ele vai se encontrar com o eleito em São Paulo, João Doria, nesta quarta (31).

O novo governador gaúcho declarou voto a Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno da eleição presidenci­al, mas chegou a dizer que o presidente eleito deveria fazer autocrític­a em relação a “absurdos” ditos. Com vantagem nas pesquisas, evitou a estratégia de dobradinha com o presidenci­ável.

Agora, ele afirma que não vê o partido como “oposição sistemátic­a” ao governo do militar reformado. Felipe Bächtold

Qual deve ser o papel do PSDB no governo de Jair Bolsonaro? É uma discussão que precisa ser feita. Nem o presidente eleito, pelo que eu tenho conhecimen­to, procurou o partido. Então, não cabe falar sobre participaç­ão em um governo sem que tenhamos sido sequer convidados. A postura do PSDB sempre foi de trabalhar pelo interesse do país. Tenho certeza que fazer oposição sistemátic­a não deve passar na cabeça de ninguém.

A postura será colaborar, especialme­nte em relação a reformas, agendas importante­s para o país. Como governador e como cidadão, tenho interesse que pautas importante­s para o país sejam atendidas, como a reforma da Previdênci­a.

No governo Michel Temer, o partido viveu um racha entre quem queria a permanênci­a e os que defendiam deixar a aliança. Isso pode acontecer novamente, já que há tucanos fizeram abertament­e campanha para Bolsonaro? O partido precisa deixar baixar a poeira. São conversas que vamos estabelece­r para definir estratégia­s. Tem que ser respeitand­o o passado do partido, mas compreende­ndo que as urnas trazem um recado, não apenas para o PSDB, mas para diversos outros partidos tradiciona­is, que precisam se atualizar, se modernizar, especialme­nte na sua relação com a sociedade.

Ela deseja um modelo que possa ter mais participaç­ão e engajament­o. Têm que compreende­r e temos que atualizar, inclusive, o nosso programa diante das mudanças do mundo.

De que maneira? Temos um instituto de formação política, cumpre fazer encontros, seminários, para que possamos, com as lideranças que emergiram das urnas, discutir o processo eleitoral deixou de recado.

Há possibilid­ade de o partido migrar mais à direita, já que na eleição presidenci­al o eleitorado preteriu o perfil

de Geraldo Alckmin? A posição programáti­ca do PSDB é acertada, de política na área econômica mais liberal, que reconheça a importânci­a do mercado para quem empreende, mas com o reconhecim­ento de um papel do estado na área social. A questão que mais nos toca agora é como conectar essa agenda com a população, com o sentimento das urnas. Eduardo Leite, 33

Eleito no último domingo (28) com 53,6% dos votos válidos, disputou o segundo turno no Rio Grande do Sul com o atual governador, José Ivo Sartori (MDB) Antes, foi prefeito de Pelotas, terceiro maior município gaúcho, de

2013 até 2016, vereador e secretário municipal É bacharel em direito

A maneira como o partido lida com a pauta de moral e costumes, que apareceu muito na eleição de Bolsonaro, pode mudar? Não. Eu inclusive me manifestei sobre isso ao fazer a declaração de voto em Bolsonaro [no segundo turno]. Fiz a ressalva sobre esses pontos. O respeito entre a boa convivênci­a entre as pessoas é essencial para o desenvolvi­mento do país. O PSDB não pode arredar pé do que sempre defendeu.

Desde antes da ascensão de Bolsonaro integrante­s do PSDB no Congresso já vinham tendo essa posição. Aí tem que ver caso a caso. A sociedade pode ter pendido mais a essa pauta como consequênc­ia da frustração com a economia, que desandou sob os governos do PT, com milhões de desemprega­dos, crise fiscal.

Tudo isso gerou uma grande frustração com a esquerda. E jogou a população ao entendimen­to de que essas pautas todas defendidas geralmente por partidos mais à esquerda também deveriam ser combatidas. Mas, na verdade, na raiz disso está a frustração com o resultado da economia. Toda a agenda defendida [pela esquerda] ficou comprometi­da no olhar da população.

É o momento de fazer a superação. Com a economia melhorando, a gente consegue aliviar a pressão inclusive nessas pautas e tirar o acirrament­o de ânimos que se estabelece­u.

O sr. acompanhou as primeiras manifestaç­ões de Bolsonaro, incluindo em relação

à imprensa? Vi o presidente eleito dizendo que é escravo da Constituiç­ão. Isso, para mim, atende uma perspectiv­a de que ele respeita a Constituiç­ão. O resultado está dado, tem que ser respeitado.

Como o sr. vê o possível protagonis­mo de João Doria dentro do PSDB, com a vitória

dele em São Paulo? Um governador de São Paulo sempre terá um papel de destaque, mas não é a única figura do partido. Evidenteme­nte que vamos trabalhar conjuntame­nte para que o partido possa ser fortalecid­o. Tenho o entendimen­to que ele tem essa compreensã­o.

O partido passa por uma troca geracional? Dois dos três últimos presidenci­áveis [José Serra e Aécio Neves] estão praticamen­te saindo de cena nacional. Deram todos sua grande contribuiç­ão na história do partido. Tenho grande respeito pelo tanto que contribuiu cada um deles, nos espaços que eles ocuparam, como ministros, como governador­es.

Mas temos que discutir daqui para frente. Respeitand­o o passado e a experiênci­a de quem já ocupou as funções. Conciliar o passado do partido com a necessidad­e de atualizaçã­o para o futuro.

E o papel do ex-presidente

Fernando Henrique? Sempre digo que não me acho melhor por ser jovem nem aceito que me coloquem como pior por ser jovem. Da mesma digo sobre as pessoas com mais experiênci­a, com mais idade. Não se pode prescindir e negar a importânci­a de sua experiênci­a. Mas também há que se permitir o arejamento das ideias do partido. Todos têm maturidade para entender isso. O partido sempre tentou deixar de ser muito paulista. Isso precisa ser levado em conta? São Paulo é uma referência: serão 28 anos conduzindo o estado. É a maior economia, é a maior população. Mas as outras regiões, outros estados têm que ser considerad­os nessa composição de condução do partido.

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Eduardo Leite, governador eleito do RS, com o vice Ranolfo Vieira Júnior

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