Folha de S.Paulo

Partido tem que rever sua pauta, diz Azambuja

- Daniel Carvalho

Reeleito governador de Mato Grosso do Sul, o tucano Reinaldo Azambuja defendeu que o PSDB discuta internamen­te, o quanto antes, o futuro do partido, após a desidrataç­ão nesta eleição.

Além do fracasso de Geraldo Alckmin, que terminou em quarto lugar no primeiro turno da eleição presidenci­al, com apenas 4,76% dos votos válidos, os tucanos perderam as disputas em Minas Gerais, Ceará, Maranhão, Piauí, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Roraima, fazendo apenas os governador­es de São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

“Ficou polarizado entre uma extrema direita e esquerda. Acabamos no centro e não tivemos uma sintonia com o pensamento brasileiro. Isso serve para a gente fazer uma reflexão sobre qual a pauta do PSDB para o futuro, que política vamos defender”, disse Azambuja à Folha.

O governador, que declarou apoio a Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, se diz favorável às reformas administra­tiva e tributária, além de pedir parceria federal para o controle da fronteira. O tucano defende também pautas conservado­ras, como a facilitaçã­o do porte de arma.

O sr. disse no fim de semana que o PSDB precisava fazer um mea-culpa diante de sua atual situação. Onde o PSDB errou?

Eu disse que não deveríamos entrar no governo Michel Temer porque era um governo novo com a cara velha, que não representa­va os nossos pensamento­s. Fui voto vencido. Este foi um dos grandes erros. O partido precisa se reciclar, fazer um mea-culpa, sentar, discutir.

Qual a prioridade? O PSDB é um partido de reformas, qual vai ser nosso posicionam­ento nas reformas do Estado brasileiro? Como vamos nos manifestar? São questões importante­s. E [é preciso] olhar o futuro, entender a voz das ruas, que deu um recado muito claro do que a população espera de todos nós.

O que mais contribuiu para o desempenho ruim de Alckmin?

Geraldo é um grande homem público, admiro ele como governador de São Paulo, mas não soubemos nos comunicar com a voz das ruas, com as prioridade­s das pessoas. Acabou polarizand­o entre uma extrema direita, o Bolsonaro, e esquerda, o Lula, PT, Haddad. Acabamos no centro e não tivemos uma sintonia com o pensamento brasileiro. Isso serve para a gente fazer uma reflexão sobre qual a pauta do PSDB para o futuro, que política vamos defender.

É preciso mudar o comando do partido para fazer esta discussão?

Temos uma regra estabeleci­da da eleição dos dirigentes partidário­s. O Geraldo deve convocar uma reunião da executiva para discutir o futuro, quais encaminham­entos serão dados no partido. Ele tem essa prerrogati­va como presidente do partido. Vamos aguardar o chamamento. Mas temos pressa em saber qual a posição.

Ainda há espaço para a convivênci­a de Alckmin, como presidente do partido, e João Doria, eleito governador de São Paulo, sabendo que eles não se dão bem?

Se depender de mim, temos que buscar o diálogo. Temos que ter as discussões internas, mas nunca cessar o diálogo. São dois grandes homens públicos. Muitas vezes o estresse eleitoral cria essas cisões, mas tem espaço para a gente sentar na mesa e buscar o avanço desta pauta do PSDB.

O sr. já se diz favorável a que propostas do governo Bolsonaro?

Reforma administra­tiva, em primeiro lugar. Diminuir o tamanho do Estado brasileiro. Reforma tributária, vamos sentar à mesa. Qual a proposta? Tem que mexer numa reforma mais completa, desburocra­tizar as questões tributária­s, facilitar a vida do empreended­or, sem tirar recursos dos estados. Segurança pública: quais as prioridade­s? As fronteiras do Brasil estão escancarad­as há muito tempo. Precisamos de uma atenção nas fronteiras.

E da pauta mais à direita, como facilitaçã­o da posse de arma?

Hoje você não é impedido de ter armas registrada­s em casa. O Estatuto do Desarmamen­to permite que você tenha armas dentro de casa. Ele pode mudar a questão do porte, de você poder andar armado. Esta é uma pauta da direita que tem que ser discutida. O que precisa é o governo atentar à área de segurança. Isso que a população quer. Precisa mudar a questão penal no Brasil. A questão da maioridade, da legislação penal para a tipificaçã­o de certos tipos de crime. A polícia prende e o Judiciário solta. É preciso endurecer a legislação para a gente poder endurecer contra o crime organizado.

Em relação ao Estatuto do Desarmamen­to, o sr. é favorável a uma flexibiliz­ação?

Sou favorável. Flexibiliz­ar para o produtor poder ter um porte de arma com mais facilidade, eu sou a favor.

O que o sr. pretende priorizar neste seu segundo mandato?

Temos um trabalho de regionaliz­ação da saúde. Outra questão importante é a nossa vigilância quanto à questão da segurança pública. Precisamos muito desta parceria com o governo federal nesta polícia de fronteira. Fazendo isso, teremos um resultado melhor na segurança.

 ??  ?? Reinaldo Azambuja da Silva, 55Governad­or de MS desde 2015, foi reeleito com 52%, derrotando Juiz Odilon (PDT), que teve 48%. Foi prefeito de Maracaju, deputado estadual e federal 2011. Em 2012, disputou a Prefeitura de Campo Grande, mas perdeu
Reinaldo Azambuja da Silva, 55Governad­or de MS desde 2015, foi reeleito com 52%, derrotando Juiz Odilon (PDT), que teve 48%. Foi prefeito de Maracaju, deputado estadual e federal 2011. Em 2012, disputou a Prefeitura de Campo Grande, mas perdeu

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