Partido tem que rever sua pauta, diz Azambuja
Reeleito governador de Mato Grosso do Sul, o tucano Reinaldo Azambuja defendeu que o PSDB discuta internamente, o quanto antes, o futuro do partido, após a desidratação nesta eleição.
Além do fracasso de Geraldo Alckmin, que terminou em quarto lugar no primeiro turno da eleição presidencial, com apenas 4,76% dos votos válidos, os tucanos perderam as disputas em Minas Gerais, Ceará, Maranhão, Piauí, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Roraima, fazendo apenas os governadores de São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
“Ficou polarizado entre uma extrema direita e esquerda. Acabamos no centro e não tivemos uma sintonia com o pensamento brasileiro. Isso serve para a gente fazer uma reflexão sobre qual a pauta do PSDB para o futuro, que política vamos defender”, disse Azambuja à Folha.
O governador, que declarou apoio a Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, se diz favorável às reformas administrativa e tributária, além de pedir parceria federal para o controle da fronteira. O tucano defende também pautas conservadoras, como a facilitação do porte de arma.
O sr. disse no fim de semana que o PSDB precisava fazer um mea-culpa diante de sua atual situação. Onde o PSDB errou?
Eu disse que não deveríamos entrar no governo Michel Temer porque era um governo novo com a cara velha, que não representava os nossos pensamentos. Fui voto vencido. Este foi um dos grandes erros. O partido precisa se reciclar, fazer um mea-culpa, sentar, discutir.
Qual a prioridade? O PSDB é um partido de reformas, qual vai ser nosso posicionamento nas reformas do Estado brasileiro? Como vamos nos manifestar? São questões importantes. E [é preciso] olhar o futuro, entender a voz das ruas, que deu um recado muito claro do que a população espera de todos nós.
O que mais contribuiu para o desempenho ruim de Alckmin?
Geraldo é um grande homem público, admiro ele como governador de São Paulo, mas não soubemos nos comunicar com a voz das ruas, com as prioridades das pessoas. Acabou polarizando entre uma extrema direita, o Bolsonaro, e esquerda, o Lula, PT, Haddad. Acabamos no centro e não tivemos uma sintonia com o pensamento brasileiro. Isso serve para a gente fazer uma reflexão sobre qual a pauta do PSDB para o futuro, que política vamos defender.
É preciso mudar o comando do partido para fazer esta discussão?
Temos uma regra estabelecida da eleição dos dirigentes partidários. O Geraldo deve convocar uma reunião da executiva para discutir o futuro, quais encaminhamentos serão dados no partido. Ele tem essa prerrogativa como presidente do partido. Vamos aguardar o chamamento. Mas temos pressa em saber qual a posição.
Ainda há espaço para a convivência de Alckmin, como presidente do partido, e João Doria, eleito governador de São Paulo, sabendo que eles não se dão bem?
Se depender de mim, temos que buscar o diálogo. Temos que ter as discussões internas, mas nunca cessar o diálogo. São dois grandes homens públicos. Muitas vezes o estresse eleitoral cria essas cisões, mas tem espaço para a gente sentar na mesa e buscar o avanço desta pauta do PSDB.
O sr. já se diz favorável a que propostas do governo Bolsonaro?
Reforma administrativa, em primeiro lugar. Diminuir o tamanho do Estado brasileiro. Reforma tributária, vamos sentar à mesa. Qual a proposta? Tem que mexer numa reforma mais completa, desburocratizar as questões tributárias, facilitar a vida do empreendedor, sem tirar recursos dos estados. Segurança pública: quais as prioridades? As fronteiras do Brasil estão escancaradas há muito tempo. Precisamos de uma atenção nas fronteiras.
E da pauta mais à direita, como facilitação da posse de arma?
Hoje você não é impedido de ter armas registradas em casa. O Estatuto do Desarmamento permite que você tenha armas dentro de casa. Ele pode mudar a questão do porte, de você poder andar armado. Esta é uma pauta da direita que tem que ser discutida. O que precisa é o governo atentar à área de segurança. Isso que a população quer. Precisa mudar a questão penal no Brasil. A questão da maioridade, da legislação penal para a tipificação de certos tipos de crime. A polícia prende e o Judiciário solta. É preciso endurecer a legislação para a gente poder endurecer contra o crime organizado.
Em relação ao Estatuto do Desarmamento, o sr. é favorável a uma flexibilização?
Sou favorável. Flexibilizar para o produtor poder ter um porte de arma com mais facilidade, eu sou a favor.
O que o sr. pretende priorizar neste seu segundo mandato?
Temos um trabalho de regionalização da saúde. Outra questão importante é a nossa vigilância quanto à questão da segurança pública. Precisamos muito desta parceria com o governo federal nesta polícia de fronteira. Fazendo isso, teremos um resultado melhor na segurança.