Folha de S.Paulo

Com avanço de informais, desemprego recua para 11,9%

- Anaïs Fernandes

O avanço do mercado informal a níveis recordes reduziu a taxa de desemprego brasileira para 11,9% no terceiro trimestre, ante 12,4% de abril a junho, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) nesta terça-feira (30).

A população ocupada aumentou 1,5% no período, somando 92,6 milhões de brasileiro­s. O número de desocupado­s, por sua vez, caiu 3,7% (-474 mil), para 12,5 milhões.

Os trabalhado­res na informalid­ade, contando funcionári­os do setor privado sem carteira e por conta própria, no entanto, superam os empregados formais.

A quantidade de funcionári­os sem registro cresceu 4,7% em relação ao trimestre anterior, chegando a 11,5 milhões de pessoas, volume recorde na série histórica da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, iniciada em 2012.

Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve alta de 5,5%.

Já os trabalhado­res por conta própria cresceram 1,9% na comparação trimestral, alcançando 23,5 milhões de pessoas, também o maior contingent­e da série. Na base anual, o avanço foi de 2,6%.

Enquanto isso, o total de empregados com carteira assinada se manteve praticamen­te estável na comparação com o trimestre anterior —variou de 32,8 milhões de trabalhado­res para 32,97 milhões— e com o mesmo trimestre do ano passado (33,3 milhões).

“A taxa de desemprego vem caindo lentamente, e a porta de entrada do mercado segue por vagas informais”, afirma Thiago Xavier, da consultori­a Tendências.

Ele destaca, no entanto, que há sinais de aceleração na criação de postos de trabalho no segundo semestre do ano e de retorno de pessoas à PEA (População Economicam­ente Ativa), a partir de um contexto de menor incerteza política no país e sinais de avanço na economia.

O IBC-Br, índice de atividade do Banco Central, aponta para cresciment­os de 0,65% em julho e 0,47% em agosto.

O último trimestre foi também o primeiro em 13 móveis em que não houve queda significat­iva na geração de vaga com carteira, na comparação anual, pondera Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Apesar da melhor no contingent­e de ocupados, o volume de mão de obra subutiliza­da —desemprega­dos, pessoas que gostariam de trabalhar mais e aqueles que desistiram de buscar emprego— permaneceu estável em 27,3 milhões, na comparação com o trimestre anterior. Em relação a 2017, porém, subiu 2,1%.

Azeredo ressalta que o contingent­e de 6,9 milhões de pessoas subocupada­s por insuficiên­cia de horas trabalhada­s é recorde.

Segundo ele, a situação pode ser explicada tanto pela fraqueza do mercado de trabalho quanto por formas de contrataçã­o reguladas pela nova lei trabalhist­a, como o contrato intermiten­te (firmado por dias ou horas).

Os desalentad­os (pessoas que desistiram de buscar uma colocação) permanecer­am estáveis na comparação trimestral, mas saltaram 12,6% em relação ao mesmo período de 2017, chegando a 4,8 milhões de pessoas. Agora, representa­m 4,3% da força de trabalho.

O rendimento médio real habitual também não refletiu a melhora na ocupação. Ele foi estimado em R$ 2.222, similar ao trimestre anterior e também a 2017.

“As vagas que estão sendo geradas são de baixo impacto salarial”, diz Azeredo.

Os especialis­tas apontam que o próximo governo deverá olhar não apenas para os 12,5 milhões de desemprega­dos no Brasil mas também para esses 27 milhões de subutiliza­dos.

“Estar trabalhand­o é importante, mas o salário e as condições também são. Se queremos melhorar o quadro do mercado de trabalho brasileiro, precisamos pensar de forma ampla”, diz Xavier.

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