Folha de S.Paulo

Agronegóci­o racha, e ONGs temem desmatamen­to

- Mauro Zafalon e Phillippe Watanabe

Os futuros ministros de Bolsonaro, Onyx e Guedes, disseram ainda que os planos para a Agricultur­a e o Meio Ambiente foram mantidos.

“Agricultur­a e Meio Ambiente estarão no mesmo ministério, como desde o primeiro momento”, afirmou Onyx. Bolsonaro, porém, chegara a admitir na semana passada que essa decisão poderia ser revista.

O futuro ministro negou que o presidente eleito tenha mudado de planos: “Ninguém recuou nada”.

Coordenado­r da transição, Onyx disse que restarão entre 15 e 16 ministério­s —hoje são 29. Demais nomes não foram divulgados.

A fusão, porém, não é consenso no agronegóci­o.

Para alguns, a medida vai levar para a agricultur­a problemas específico­s da área ambiental, como pautas de setores industriai­s —químicaemi­neração,porexemplo. “É um equívoco”, disse o deputadoAr­naldoJardi­m(PPSSP),ex-secretário­deAgricult­ura do estado de São Paulo.

“Trazer o Ministério do Meio Ambiente para o âmbito da Agricultur­a é deixar de ter o foco onde ele precisa estar: nos centros urbanos. A agricultur­a tem suas regras ambientais, e um dos exemplos é que, cada vez mais, gera energia limpa para o país”, afirmou.

Para outros, já que Bolsonaro quer reduzir o número de ministério­s, a medida pode ser um caminho.

O presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), Antonio Galvan, concorda com a união. “A questão ambiental virou ideologia interna, que tenta atrapalhar nosso trabalho.”

Segundo ambientali­stas, a fusão deve provocar aumento de desmatamen­to, violência no campo e emissão de gases estufa.

“A previsão de que o ambiente iria sofrer começa a se confirmar dois dias depois da eleição”, afirmou Carlos Rittl, secretário-executivo da ONG Observatór­io do Clima.

“É o pior cenário possível”, disse Paulo Artaxo, climatolog­ista da USP.

“Agora os ruralistas têm a certeza da impunidade.”

Márcio Astrini, coordenado­r de políticas públicas do Greenpeace, afirmou que, quando o anúncio da fusão foi feito pela primeira vez, setores importante­s do agronegóci­o demonstrar­am preocupaçã­o.

“Tratar o ambiente dessa forma leviana vai trazer prejuízo, principalm­ente econômico. Vai mexer com o emprego das pessoas, na situação em que o país já está”, disse Astrini.

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