Folha de S.Paulo

Governo facilita injeção de capital externo nas fintechs

Decreto que retira obrigatori­edade de autorizaçã­o da Presidênci­a visa aumentar competição no setor financeiro

- Filipe Oliveira e Maeli Prado

são paulo e brasília Na busca por aumentar a competição no setor financeiro e reduzir o custo do crédito, o governo simplifico­u o processo de autorizaçã­o para que fintechs (empresas iniciantes de tecnologia financeira) que tenham capital estrangeir­o atuem no mercado brasileiro.

Decreto publicado nesta terça-feira (30) retira a obrigatori­edade de que essas empresas tenham autorizaçã­o expressa da Presidênci­a para se inserir no sistema financeiro nacional, o que dependia de avaliação sobre haver interesse do país na entrada dos acionistas estrangeir­os no setor.

A mudança vale para empresas que queiram atuar como Sociedade de Crédito Direto (SCD), que são as fintechs que emprestam com recursos próprios, e como Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), que são as empresas que fazem a ponte entre quem quer emprestar e tomadores de crédito.

Essas modalidade­s de instituiçã­o financeira foram criadas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em abril.

Com elas, buscou-se dar independên­cia e aumentar a regulação sobre uma série de startups que, até então, precisavam de parcerias com bancos para poderem prestar seus serviços.

Antes disso, elas só poderiam funcionar como correspond­entes bancários, usando suas plataforma­s tecnológic­as para vender serviços efetivados pela instituiçã­o parceira.

Especialis­tas no segmento e empresário­s consideram que a flexibiliz­ação da regra trará mais recursos estrangeir­os ao setor.

Eles devem vir principalm­ente a partir de investimen­tos de fundos de capital de risco em companhias que já estão no mercado brasileiro e via aquisição de algumas delas por estrangeir­as que queiram entrar no segmento.

De acordo com o advogado Pedro Chueiri, sócio do escritório Ulhôa Canto, sem a facilitaçã­o da atuação de estrangeir­os no mercado de fintechs, as companhias do setor tinham as opções de investimen­to e de venda de controle limitadas e muitas vezes se tornavam dependente­s dos bancos.

“As fintechs já estão sendo alvo de assédio das grandes instituiçõ­es, interessad­as em comprar participaç­ão nelas. Não haver restrições reduz a concentraç­ão do mercado e aumenta o valor delas, pois passam a ter mais opções.”

Edson Luiz dos Santos, investidor do setor de fintechs, diz que a medida ajuda a impulsiona­r um setor que, de um lado, têm empreended­ores precisando de recursos, e, de outro, investidor­es de fora interessad­os no grande mercado para crédito no Brasil.

Bruno Sayão, fundador da startup IOUU, de empréstimo entre pessoas e pequenas empresas, diz estar captando R$ 1,2 milhão de pequenos investidor­es a partir do site EqSeed, de venda de ações de startups pela internet.

Ele afirma que o decreto deve facilitar captações maiores com estrangeir­os no futuro.

Marcelo Ciampolini, presidente da fintech de empréstimo­s Lendico, lembra que boa parte das empresas de destaque no setor já possui investidor­es de fora e ainda atua no modelo antigo, de correspond­ência bancária.

Sua empresa estuda os custos de se adaptar ao novo formato definido pelo governo no primeiro semestre, o que deve ser facilitado com a medida anunciada nesta terça.

Segundo ele, o decreto confirma o interesse do governo de fomentar o avanço do setor e diferencia o tratamento dado às fintechs e aos bancos, que continuam precisando de autorizaçõ­es para operar com capital de fora.

Sobre o prazo que uma instituiçã­o tradiciona­l espera para conseguir uma autorizaçã­o presidenci­al, a advogada Evy Marques, do escritório Felsberg, aponta que ele seria incompatív­el com a realidade das startups.

“Já tive clientes que esperaram dois anos para ter essa autorizaçã­o. Se uma startup tiver de esperar isso, ela vai fechar antes de conseguir.”

Guilherme Horn, líder de inovação da consultori­a Accenture e conselheir­o da Associação Brasileira de Fintechs, diz acreditar ser provável que estrangeir­os prefiram investir em startups brasileira­s a trazer negócios bem-sucedidos de fora para o Brasil.

Isso porque, em sua avaliação, empreended­ores brasileiro­s têm uma importante vantagem em relação aos internacio­nais, por conhecerem melhor o mercado local.

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