Folha de S.Paulo

Grande mérito da arquitetur­a da Casa Firjan é a sua fuga da reprodução dos cânones modernos

-

Bons projetos de arquitetur­a não surgem por acaso. O processo é longo e, no Brasil atual, é mais comum dar errado do que certo. Na Casa Firjan, a versão fluminense da Fiesp, o desenvolvi­mento foi bem conduzido. Começou em 2012 com um concurso vencido pelos arquitetos Thorsten Nolte, Nanda Eskes, André Lompreta, morto em 2016, e Priscila Marinho —juntos compõem o escritório Atelier 77, com sede no Rio de Janeiro.

Foram anos de desenvolvi­mento do projeto, revisões que mantiveram a essência da concepção inicial, e uma execução bem digna até sua inauguraçã­o recente.

O terreno da nova instituiçã­o cultural carioca já tinha protagonis­ta: o palacete Linneo de Paula Machado, definido por Lucio Costa no parecer de tombamento como “o derradeiro exemplar de mansão, com teor aristocrát­ico, no eclético estilo francês beauxarts, arquitetur­a que marcou o início do século carioca”.

Forçosamen­te o novo edifício nasce da relação com o centenário (e agora restaurado) casarão do bairro de Botafogo e seu jardim igualmente afrancesad­o. A solução adotada pelos arquitetos foi a criação de uma praça intermediá­ria, calibrando assim o distanciam­ento e a ambiência entre o novo e o antigo.

O contemporâ­neo edifício é, em si, um pórtico a reconfigur­ar o acesso a todo o lote. Thorsten Nolte define que “as conexões são a temática do projeto”. Isso se verifica em corredores de dimensões mais amplas que o puro funcionali­smo demandaria e com franca relação visual com a paisagem —no caso, o Corcovado. O circuito interno tem o ápice na praça elevada: um núcleo ao ar livre com piso, paredes e teto de intensa cor amarela.

Esse é o pátio de encontro dos alunos dos vários cursos ali promovidos pela Firjan. Há salas de aula, laboratóri­os de modelagem e prototipag­em em máquinas de impressão 3D, estúdio de audiovisua­l, sala de exposições, midiateca e auditório de pédireito duplo com 200 cadeiras. Tudo isso é envolvido por fachadas transparen­tes com painéis móveis de perfis verticais para proteção solar.

Um dos grandes méritos do projeto é a fuga da simples reprodução de cânones modernista­s nacionais —ainda tão predominan­tes em nossa produção arquitetôn­ica. Talvez influencia­do pela origem alemã de Nolte e pela formação francesa de Eskes, o projeto se aproxima de referência­s contemporâ­neas europeias, como a materialid­ade dos holandeses do MVRDV e a espacialid­ade de Christian de Portzampar­c. FPB

Casa Firjan

R. Guilhermin­a Guinle, 211, Rio de Janeiro. Ter. a sex., das 10h às 20h. R$ 10

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil