No meio do mandato
Consiste em lugar-comum, decerto, a leitura de que eleições legislativas não coincidentes com as presidenciais servem para referendar o chefe do Executivo ou ao menos medir seu grau de popularidade.
À parte o clichê, o pleito que ocorrerá na próxima terça-feira (6) nos Estados Unidos pode, com efeito, ter considerável impacto sobre o governo de Donald Trump.
Estarão em jogo todas as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes —a renovação é de dois em dois anos— e 35 dos 100 assentos do Senado, cujos membros têm mandato de seis anos.
Nessa disputa, conhecida como de meio de mandato por ser realizada entre as votações para a Presidência, o Partido Democrata busca reaver o controle de no mínimo uma das duas Casas.
Lidar com a oposição no comando do Congresso já representaria um natural obstáculo à aprovação de projetos —assim se deu com o antecessor, Barack Obama, em 2010 e 2014. No caso do mandatário republicano, entretanto, há o agravante de os democratas almejarem um processo de impeachment contra ele.
Consideram, seus adversários, que a investigação do FBI sobre a suspeita de conluio com autoridades russas para favorecê-lo na campanha de 2016 avançará a ponto de justificar o pedido de um julgamento político.
Ainda que se desenhe tal cenário, uma eventual remoção do presidente demandaria, em plenário, maioria simples na Câmara e dois terços dos votos no Senado.
Projeções dão conta de que o Partido Democrata reúne boas chances de retomar a primeira Casa, mas a tarefa de passar a ter mais senadores que os republicanos se mostra difícil —que dirá a de obter o quórum qualificado.
Dada a crescente polarização na política americana, agravada em boa medida pela retórica divisiva vinda da Casa Branca, espera-se um comparecimento às urnas superior aos índices historicamente baixos de pleitos de meio de mandato.
Segundo pesquisa do instituto Pew, 60% dos dispostos a votar dizem que o farão estimulados pela figura do chefe da Casa Branca. Destes, 37% afirmam que escolherão seu candidato contra Trump, e apenas 23% a favor dele.
A se levar em conta que o mandatário enfrenta percalços no Congresso por divergências dentro da majoritária bancada republicana, não seriam desprezíveis os atritos com uma das Casas sob mando democrata. O presidente pode se ver forçado a um exercício de diálogo com a oposição ao qual, por ora, não demonstrou aptidão.