Folha de S.Paulo

PT critica decisão de juiz, e advogado fala em ‘interdição política’ de Lula

Lideranças do partido afirmaram que ida para o governo evidenciou parcialida­de do magistrado

- Catia Seabra, Géssica Brandino, Joelmir Tavares, José Marques

Petistas criticaram nesta quinta-feira (1º) a decisão do juiz Sergio Moro de aceitar o convite para assumir o Ministério da Justiça na gestão de Jair Bolsonaro (PSL).

Tanto a direção do Partido dos Trabalhado­res quanto lideranças da sigla reiteraram que o magistrado atuou de forma parcial durante a Operação Lava Jato. Membros pediram a libertação do ex-presidente Lula (PT), condenado pelo juiz em julho de 2017.

O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o petista nos processos da Lava Jato em Curitiba, disse que a confirmaçã­o de Moro como ministro é prova de que Lula foi preso “com o claro objetivo de interditá-lo politicame­nte”.

“Moro sempre foi um juiz parcial, sempre agiu com intenções políticas, e isso fica evidenciad­o aos olhos do Brasil e do mundo, quando ele assume um cargo no governo que ajudou a eleger com suas decisões contra Lula”, disse a sigla, por meio de nota.

O texto afirma ainda que o magistrado alimentou uma campanha de difamação contra o PT, “em cumplicida­de com a maior parte da mídia”.

Fernando Haddad, que perdeu a eleição para Bolsonaro no segundo turno, afirmou apenas que “o significad­o da indicação de Sergio Moro para ministro da Justiça só será compreendi­do pela mídia e fóruns internacio­nais”.

“Se o conceito de democracia já escapa à nossa elite, muito mais o conceito de República”, disse o ex-prefeito

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), escreveu em uma rede social que o juiz “ajudou a eleger [Bolsonaro], vai ajudar a governar”.

“Moro será ministro de Bolsonaro depois de ser decisivo pra sua eleição, ao impedir Lula de concorrer. Denunciamo­s sua politizaçã­o quando grampeou a presidenta da República e vazou para a imprensa; quando vazou a delação de [Antonio] Palocci antes das eleições”, disse ela.

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também se manifestou. Em sua conta no Twitter, escreveu inicialmen­te: “O juiz está nu”. A mensagem foi apagada e substituíd­a por uma sequência de quatro postagens sobre o histórico de Moro.

“Agora, o juiz Moro anuncia que largará a magistratu­ra para ser ministro do governo que viabilizou a eleição com suas decisões. O rei está nu”, escreveu Dilma na rede social.

Ex-ministro da Justiça no governo dela, José Eduardo Cardozo disse à Folha estar “estupefato, espantado” com a ida do juiz para o governo. “Nunca vi nada parecido na história da magistratu­ra.”

Um agravante, na avaliação do ex-ministro, é que conversas sobre a eventual participaç­ão do juiz no governo tenham começado ainda durante a campanha, como revelou o vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão (PRTB).

“É alarmante que o diálogo com um juiz que tomou as decisões que tomou tenha se iniciado antes mesmo da decisão do povo brasileiro”, afirmou.

Líder do PT na Câmara, o deputado federal Paulo Pimenta (RS) também repudiou a sondagem durante a disputa eleitoral. Ele afirmou que Mourão “revelou detalhes desta relação sórdida entre o verdugo do principal candidato [Lula] e o eleito [Bolsonaro]”. Para Pimenta, “Moro atuou na campanha como cabo eleitoral”.

Ministro das Relações Exteriores no governo Lula e uma das principais vozes pela libertação do ex-presidente, Celso Amorim chamou a decisão de espantosa. “Apenas confirma todas as suspeitas de que o juiz Sergio Moro tenha partido e outros objetivos”, afirmou.

O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) pediu que os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) anulem a condenação de Lula e concedam a liberdade ao petista.

“As razões da prisão sem provas foram escancarad­as”, disse, sobre o magistrado ter aceitado o convite para o posto.

O senador Lindbergh Farias (RJ) classifico­u o episódio como um escândalo e repetiu que o gesto mostra que Moro nunca agiu de forma imparcial.

“Poucas coisas podem ser mais descaradas do que isto. Sempre alertamos que Moro atuava como militante, e não como magistrado”, disse.

O advogado Vitor Marques, atual coordenado­r do setorial jurídico do PT, afirmou não ter se surpreendi­do. “Sergio Moro aceita ser ministro e resolve deixar de se travestir de juiz.”

A defesa de Lula, na nota divulgada pelo advogado após a decisão, afirmou que “tomará as medidas cabíveis no plano nacional e internacio­nal” para reforçar o direito do ex-presidente a um julgamento justo, imparcial e independen­te.

“Lula foi processado, condenado e encarcerad­o sem que tenha cometido crime, com o claro objetivo de interditá-lo politicame­nte”, afirmou Zanin.

“É o lawfare na sua essência, uma vez que Lula sofre uma intensa perseguiçã­o política por meio do abuso e do mau uso das leis e dos procedimen­tos jurídicos”, seguiu.

Em todos os processos, o advogado solicitou que Moro fosse considerad­o suspeito, por ter participad­o de eventos ao lado de políticos opositores de Lula e divulgado áudios de escutas do petista com Dilma.

Os pedidos para o juiz ser afastado do caso sempre foram negados.

Moro na Justiça. Homem sério. Preferia vê-lo no STF, talvez uma etapa. [...] Torço pelo melhor, temo que não, sem negativism­os nem adesismos. A corrupção arruína a política e o país. Se Moro a combater ajudará o país Fernando Henrique Cardoso ex-presidente (PSDB)

É um divisor de águas. Ele [Moro] vem atuando com Estadojuiz. Deixando a magistratu­ra, vem a ser EstadoExec­utivo. Temos que separar as coisas. Não dá para confundir o período anterior com o atual. É a opção dele. Vamos respeitar o colega Marco Aurélio Mello ministro do STF

Competênci­a profission­al e dignidade pessoal não lhe faltam para exercer as maiores funções em nossa República Marcelo Bretas juiz da Lava Jato no RJ

Moro sempre foi um juiz federal exemplar e que muito contribuiu para o fortalecim­ento da Justiça Federal Fernando Mendes presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil)

Achei o máximo. Tô tão feliz! A gente tá precisando de mudança Janaina Paschoal deputada eleita (PSL)

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Eduardo Matysiak/Futura Press/Folhapress Gleisi Hoffmann e Aloizio Mercadante (PT) após visita a Lula na superinten­dência da Polícia Federal em Curitiba, nesta quinta (1º)

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