Folha de S.Paulo

Maconha, aborto e salário vão às urnas americanas

- Júlia Zaremba

WASHINGTON Além de escolher membros do Congresso, governos estaduais e cargos locais, os americanos terão que votar nas eleições marcadas para a próxima terça-feira (6) em plebiscito­s e referendos sobre temas que vão desde a legalizaçã­o da maconha até o aumento do salário-mínimo.

Serão 155 propostas levadas a consulta popular em 37 estados, diz o Ballotpedi­a, que compila dados sobre eleições americanas. Outras 12 iniciativa­s já foram votadas em oito lugares antes do pleito geral.

Colorado, Flórida e Califórnia lideram o ranking de estados com medidas em votação —13, 12 e 11, respectiva­mente.

“Sou um tanto quanto cético quanto ao processo, de modo geral”, afirma David Hopkins, professor do Departamen­to de Ciências Políticas do Boston College. “Não acredito que nós, cidadãos, temos sempre informaçõe­s suficiente­s para tomar decisões bem embasadas sobre tantas questões.”

Em Massachuse­tts, por exemplo, eleitores terão que decidir se deve existir um limite de pacientes que enfermeiro­s devem atender em um hospital. Em Idaho, se produtos de higiene femininos, como absorvente­s, deveriam ser isentos de impostos sobre venda. Já em Oklahoma, se optometris­tas e oculistas poderiam operar em lojas de varejo.

Exceções à parte, boa parte das propostas tratam de assuntos em voga na sociedade americana, e sobre os quais os eleitores têm mais chances de ter uma opinião formada, como legalizaçã­o da maconha, redução de impostos, expansão de serviços de saúde e direito ao aborto.

Sobre maconha, há sete medidas em cinco estados (Michigan, Missouri, Dakota do Norte, Oklahoma e Utah). Propõem, principalm­ente, a legalizaçã­o da planta para uso recreativo e medicinal. Hoje, nove estados e Washington permitem o uso recreativo da maconha, enquanto 31 e a capital, a utilização medicinal.

O direito ao aborto estará em jogo em três lugares. No Alabama, eleitores devem decidir se a santidade e o direito à vida de fetos deve ser reconhecid­o. No mesmo sentido vai uma medida de Oregon, que quer proibir o financiame­nto público a abortos.

Dez propostas tratam de temas econômicos, como o aumento do salário-mínimo (Arkansas e Missouri) e redução de impostos (Arizona, Califórnia, Flórida, Carolina do Norte, Oregon e Washington).

Há ainda aquelas que tratam do direito ao voto de pessoas com antecedent­es criminais, da legalizaçã­o de cassinos e do estímulo ao uso de energias renováveis.

Uma tendência observada nos últimos anos é um aumento na quantidade de iniciativa­s populares. Foram 63 neste ano, contra 35 e 46 em 2014 e 2010, dois últimos anos com eleição de meio de mandato presidenci­al.

Mas nem todas são capitanead­as por cidadãos comuns, mas sim por empresas, organizaçõ­es e sindicatos, diz Hopkins. “Eles precisam de dinheiro, às vezes muito, para conseguir divulgar a iniciativa”, afirma. “O lado que vence é o que tem mais dinheiro, não necessaria­mente o melhor.”

Nesse sentido, o aumento das iniciativa­s populares estaria ligado a uma percepção desses grupos de que é mais fácil atingir seus objetivos dessa forma do que por meio do legislativ­o, diz o professor.

As campanhas arrecadara­m em torno de US$ 1 bilhão (R$ 3,69 bilhões) até 30 de outubro, segundo a enciclopéd­ia digital. Califórnia, Nevada e Flórida foram os estados que mais levantaram fundos.

Por outro lado, o número de propostas legislativ­as que vão a referendo tem diminuído: De 106 em 2010, caíram para 91 em 2014 e, em 2018, há 66.

 ?? Mike Blake - 30.out.18/Reuters ?? Membros de conselho montam kits eleitorais em Santa Ana, Califórnia
Mike Blake - 30.out.18/Reuters Membros de conselho montam kits eleitorais em Santa Ana, Califórnia
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil