Folha de S.Paulo

Funcionári­os do Google protestam pelo mundo contra casos de assédio

Empregados criticam falta de transparên­cia e pedem canais mais seguros para fazer denúncias

- Camilla Hodgson Financial Times, tradução de Paulo Migliacci; colaborou Filipe Oliveira

Funcionári­os do Google em todo o mundo realizaram paralisaçõ­es nesta quinta-feira (1º) em protesto contra a atitude da empresa diante de supostos casos de delitos de conduta sexual.

Empregados e prestadore­s de serviço em escritório­s da empresa de Dublin a Cingapura se declararam insatisfei­tos com um “local de trabalho que não trabalha bem para todos” e atacaram a empresa por falta de transparên­cia quanto a casos de delitos de conduta sexual e disparidad­es de pagamento.

Também houve protesto no escritório da empresa em São Paulo.

O Google se tornou a mais recente companhia do Vale do Silício a ser criticada por sua conduta em casos de queixa por assédio sexual, depois que surgiu a notícia, revelada na semana passada pelo jornal The New York Times, de que dois executivos deixaram seus cargos com pacotes de rescisão substancia­is apesar de as acusações contra eles terem sido considerad­as críveis.

Uma nova conta no Twitter estabeleci­da especifica­mente para o protesto desta quintafeir­a delineou cinco demandas dos empregados insatisfei­tos do Google:

1) o fim da arbitragem compulsóri­a em casos de assédio e discrimina­ção;

2) compromiss­o de pôr fim à desigualda­de de pagamento e oportunida­de;

3) relatório de transparên­cia sobre assédio sexual ao qual todos os empregados tenham acesso;

4) um processo claro, uniforme e plenamente inclusivo para denúncia segura e anônima de delitos de conduta sexual e;

5) uma promoção do vicepresid­ente de diversidad­e do Google de forma a que se reporte diretament­e a Sundar Pichai, o presidente-executivo da companhia, e que o autorize a fazer recomendaç­ões diretas ao conselho a empresa —que deveria passar a incluir um representa­nte dos trabalhado­res.

“Compreendo a raiva e a decepção que muitos de vocês sentem”, escreveu Pichai em um email ao pessoal da empresa, de acordo com a BBC.

“Sinto a mesma coisa, e assumo plenamente o compro- misso de avançar quanto a uma questão que persiste há tempo demais em nossa sociedade... e sim, também aqui no Google.”

Os empregados que aderiram às paralisaçõ­es deixaram panfletos em suas mesas, com a seguinte mensagem: “Não estou em minha mesa porque decidi paralisar meu trabalho em solidaried­ade a outros empregados do Google e prestadore­s de serviços, em protesto contra o assédio sexual, delitos de conduta, falta de transparên­cia e uma cultura empresaria­l que não funciona igualmente para todos. Retornarei ao trabalho mais tarde”.

Em Londres, muitos empregados do Google deixaram seus postos de trabalho, mas não o escritório, porque estava chovendo.

Uma publicação na conta Google Walkout, no Instagram, afirmava que “os executivos serão responsabi­lizados por suas ações”.

Na semana passada, Pichai enviou carta aos funcionári­os na qual informava que a companhia demitiu 48 executivos nos últimos dois anos como resultado de denúncias de assédio sexual.

Empresas de todo o mundo vêm sendo cada vez mais pressionad­as a reforçar seus mecanismos de denúncia de assédio e garantir apoio aos denunciant­es e a potenciais vítimas, depois do escândalo envolvendo Harvey Weinstein no ano passado, e diante do movimento #MeToo que o caso ajudou a expandir.

 ?? Eric Risberg/Associated Press ?? Funcionári­os do Google protestam em San Francisco contra a atitude da empresa diante de casos de assédio
Eric Risberg/Associated Press Funcionári­os do Google protestam em San Francisco contra a atitude da empresa diante de casos de assédio
 ?? Tolga Akmen/AFP ?? Empregados durante ato na frente da filial de Londres da gigante da tecnologia
Tolga Akmen/AFP Empregados durante ato na frente da filial de Londres da gigante da tecnologia

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