Grupos ajudam docentes denunciados por alunos
Em grupos de WhatsApp e reuniões de corredor, professores advogados se articulam para dar assistência a colegas perseguidos, ameaçados ou com receio de serem expostos por alunos.
O deputado estadual paulista Carlos Giannazi (PSOL) também transformou seu gabinete na Assembleia Legislativa num disque-denúncia contra “esses grupos que tentam introduzir a mordaça”.
Ambos fazem parte de um contra-ataque ao pedido que a recém-eleita deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PSL-SC) fez para que alunos denunciassem professores que criticarem o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
A iniciativa dela vem na esteira do movimento Escola sem Partido . A Justiça de Santa Catarina ordenou, nesta quinta (1º), que Campagnolo retire da internet publicações com pedidos de denúncias.
Pedir que se filme ou grave professores em aula é um “macartismo renovado, que transforma a sala de aula num ambiente de denuncismo”, diz o professor Rafael Mafei Rabelo Queiroz, da Faculdade de Direito da USP. Ele se ao senador norte-americano Joseph McCarthy, que nos anos 1950 instituiu campanha de perseguição aos comunistas nos EUA.
Para Mafei, o patrulhamento ideológico “é pedagogicamente um desastre”, porque pode fazer com que os docentes se policiem, em especial os de instituições privadas.
Também da USP, o professor de direito e gestão em políticas públicas Gustavo Bambini tem recebido denúncias pelo WhatsApp e quer criar um grupo de advocacia para defender os casos. “É hipocrisia achar que o professor não tem posição política. O que fere [a liberdade de cátedra] é quando se faz campanha em sala de aula, se declara voto.”
Membro da comissão de educação da assembleia paulista, o deputado Giannazi classificou os casos como “absurdo”, nas redes sociais. “Se você está sendo vítima desse tipo de perseguição, procure meu gabinete. Vamos acionar o Ministério Público e o Supremo.”
Em Cascavel, no oeste do Paraná, uma professora da rede municipal foi afastada por 30 dias após levar preservativos —masculino e feminino— e próteses de borracha semelhantes a órgãos genitais para uma aula de educação sexual para crianças de 9 e 10 anos.
Os objetos foram manuseados pelos alunos e fotografados pela professora, que postou as imagens em uma rede social. A Secretaria de Educação registrou queixa na Polícia Civil, que investiga o caso. A Promotoria analisará se houve exposição ilegal dos alunos.
A professora disse que está tranquila e defendeu a sindicância, mas afirmou que não pretende falar sobre o método aplicado em sala de aula.