Folha de S.Paulo

Com Plano Real da Corrupção, juiz pode ser o FHC de Itamar

Ao negociar indicação, Moro despachou em processo que tem Lula como réu e pediu ao STF volta da ação de Mantega

- Luiz Weber

Após ser procurado pela equipe de Jair Bolsonaro (PSL) para integrar seu ministério, o juiz Sergio Moro despachou normalment­e na 13ª Vara Federal, ouviu o ex-deputado Eduardo Cunha, um dos presos mais célebres da Lava Jato, e rejeitou pedido de réus em um processo que tem o ex-presidente Lula como o principal acusado.

O interrogat­ório de Cunha ocorreu na quarta (31), em ação penal em que o ex-presidente da Câmara dos Deputados é acusado de receber propina em contratos da Petrobras. O ex-deputado do MDB está preso há dois anos.

Na audiência, o juiz chegou a bater boca com um advogado de defesa que pedia o adiamento do interrogat­ório.

“Em um processo que tem mais de dois anos, quase três anos de trâmite, a defesa argumentar que não teve tempo de conversar com o cliente é um total disparate”, disse Moro, no depoimento.

Na terça-feira (30), Moro havia dito que estava honrado com convite feito por Bolsonaro para o Ministério da Justiça e manifestou a intenção de conversar com o presidente eleito a respeito.

Um dia antes, na segunda (29), ele deu sua decisão mais recente em um processo envolvendo o ex-presidente Lula. Na ação sobre o sítio de Atibaia (SP) frequentad­o pelo ex-presidente, Moro rejeitou pedido do pecuarista José Carlos Bumlai para ser interrogad­o por videoconfe­rência, no próximo dia 14, e autorizou viagem ao exterior de Roberto Teixeira, réu e compadre do petista.

Lula tem interrogat­ório marcado para o próximo dia 14 nessa ação penal.

Além desse processo, ele é réu em ação em estágio muito mais avançado, sobre suposta propina da Odebrecht na compra de um terreno para o Instituto Lula.

Coincident­emente, o prazo para a entrega das alegações finais das defesas nesse caso se encerrou na quarta. Ainda assim, os advogados de Lula conseguira­m incluir entre os argumentos para a absolvição a aproximaçã­o entre o juiz e o presidente eleito.

A entrega das alegações fi- nais é o último passo do processo antes da sentença.

A última manifestaç­ão de Moro nesse caso havia sido no dia 1º de outubro, seis dias antes do primeiro turno da eleição, quando o juiz tornou públicos trechos da delação do ex-ministro Antonio Palocci.

A iniciativa do magistrado à época despertou muitas críticas do PT pela proximidad­e com a votação e seu eventual impacto eleitoral.

Moro, na ocasião, argumentou que a publicidad­e era necessária para garantir a ampla defesa de todos os acusados. Como o depoimento poderia ser usado para embasar a sentença, seria preciso informar seu conteúdo a todas as defesas.

A sondagem a Moro foi feita pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda na campanha, segundo o vice eleito Hamilton Mourão.

O juiz afirmou à Folha que, quando decidiu liberar o sigilo da delação de Palocci, ainda não havia recebido o convite para integrar o ministério de Bolsonaro.

“Não tem uma semana [que recebi o convite]”, declarou.

Ao longo do mês de outubro, o trabalho seguiu em ritmo normal na Vara Federal responsáve­l pela Lava Jato.

Moro, por exemplo, mandou soltar no último dia 22 o engenheiro Sérgio Boccaletti, suspeito de ser operador financeiro e que estava preso desde maio.

Também pediu ao ministro do Supremo Dias Toffoli, na última segunda-feira (29), que fosse devolvido ao seu comando uma ação em que é réu o ex-ministro Guido Mantega.

Na fila de julgamento­s da Lava Jato no Paraná, Mantega é o principal alvo que ainda não tem condenação nem está preso. Toffoli, porém, havia interrompi­do a tramitação desse caso em setembro.

Ainda em outubro, Moro pediu à defesa do ex-deputado e réu Candido Vaccarezza (do partido Avante) mais informaçõe­s para a convocação da ex-presidente Dilma Rousseff como testemunha defesa em um processo.

Há cerca de 30 ações penais relacionad­as à Operação Lava Jato em andamento no Paraná, além de outras relacionad­as que foram desmembrad­as ou que estão com trâmite suspenso.

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Pilar Olivares/Reuters Camisas de Bolsonaro e bonecos à venda nesta quinta em frente ao condomínio onde mora Bolsonaro, no Rio

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