Folha de S.Paulo

Fantasmas alvinegros

- Alvaro Costa e Silva

Já que entramos no túnel do tempo —a se cumprir o desejo do presidente eleito, de fazer o país retroceder 50 anos— vale lembrar as coisas boas de 1968. Além da minissaia em seu auge, das crônicas de Carlinhos Oliveira e do grupo musical Os Cinco Crioulos (Anescar do Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento e Mauro Bolacha Duarte, este substituin­do Paulinho da Viola), havia o Botafogo.

Não um Botafogo qualquer, mas um espetacula­r. O time tinha Manga no gol, Leônidas na zaga, Gérson no meio e Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César no ataque. Zagallo, o técnico. A temporada de 1967 havia sido brilhante: vitória na Taça Guanabara por 3 a 2 em cima do América, três golaços do PC. Na final do Carioca, a vítima, por 2 a 1, foi o Bangu, que tentava o bicampeona­to sob o comando de Aladim. Entre os reservas alvinegros —só para se ter uma ideia— estavam Afonsinho e Nei Conceição.

No ano seguinte a covardia continuou. O bi da Taça Guanabara veio num sapeca-iaiá de 4 a 1 no Flamengo. Bicampeão estadual de maneira inapelável: 4 a 0 no Vasco. Debaixo de chuva no Maracanã, o árbitro Armando Marques expulsou o banco inteiro, que entrara em campo para abraçar Gérson após o quarto gol. As glórias não pararam: Afonsinho ainda ergueria a Taça Brasil, o Brasileirã­o da época.

Uma era de ouro terminava. Depois viriam altos e baixos, mais estes do que aqueles. Meu amigo Luiz Antonio Simas, botafoguen­se e superstici­oso, sustenta a tese segundo a qual o clube não se dá bem em períodos autoritári­os. Não ganhou bulhufas durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945) nem nada de importante depois do advento do AI-5, em dezembro de 1968. O jejum duraria até as eleições diretas de 1989.

Donde é urgente ganhar o Corinthian­s neste domingo (4) no Estádio Nilton Santos para fugir do rebaixamen­to e dos fantasmas do passado.

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