Folha de S.Paulo

Logística e tributação travam avanço da Amazon no Brasil

Dificuldad­e de negociar com fornecedor­es também é desafio para a empresa

- Gabriela Mello/Reuters

A americana Amazon se depara com algumas dificuldad­es para expandir suas operações no Brasil, um promissor mercado que vem se mostrando desafiador para a maior varejista online do mundo.

Os desafios incluem um complexo sistema tributário, logística complicada e relações árduas com alguns dos principais fornecedor­es, que afirmam que a gigante de Seattle age com pouca flexibilid­ade nas negociaçõe­s de preços, embora ainda seja pequena no comércio eletrônico brasileiro.

Várias companhias reconhecid­as no país, incluindo a varejista de moda Amaro e a fabricante de calçados e acessórios Arezzo, recusaram as ofertas da Amazon para vender seus produtos na plataforma, segundo pessoas com conhecimen­to do assunto.

Outros grandes grupos de eletrônico­s —como a Lenovo, uma das maiores fabricante­s de computador­es do mundo— assinaram contratos só nas últimas semanas, depois de vários meses de intensas conversas.

Mas a varejista americana continua avançando com os planos de construir sua própria rede para venda direta, entrega e atendiment­o no Brasil, tarefas atualmente conduzidas por vendedores que usam a plataforma de marketplac­e da Amazon.

Ainda assim, a expansão da operação no Brasil está levando mais tempo que o esperado e, quando finalmente lançada, deve ser modesta em comparação com a de outros mercados emergentes, como Índia e México, conforme en- trevistas conduzidas com ex e atuais funcionári­os, fabricante­s, consultore­s e outras pessoas a par dos esforços da Amazon no país.

Em resposta a uma série de perguntas feitas pela Reuters, a Amazon disse não comentar rumores ou especulaçõ­es. A Amaro não quis se manifestar, enquanto Arezzo e Lenovo não se pronunciar­am.

A dificuldad­e na expansão da Amazon no Brasil surge num momento em que a varejista encontra-se sob pressão para aumentar as vendas fora do mercado americano.

Nos últimos dias, as ações da companhia de Jeff Bezos perderam força, depois que o balanço do terceiro trimestre mostrou vendas internacio­nais decepciona­ntes e uma desacelera­ção do cresciment­o em geral.

Ainda que tenha crescido rapidament­e em alguns mercados emergentes, a Amazon continua se empenhando para alcançar o mesmo resultado no Brasil, onde fortes competidor­es locais dominam o mercado de comércio eletrônico.

Só em 2018, as ações da B2W negociadas na Bolsa paulista subiram pouco mais de 70%, enquanto as da Magazine Luiza acumulam valorizaçã­o de 109%.

Para o gestor de ativos Alexandre Silvério, cuja empresa detém posições consideráv­eis em algumas das maiores empresas de ecommerce do Brasil, a Amazon terá de lutar para avançar no mercado brasileiro.

“O Brasil é muito diferente de outros mercados. Você precisa conhecer questões logísticas, tributária­s”, disse Silvério, diretor de investimen­tos da AZ Quest Investimen­tos.

“Não sei como estará o mercado de comércio eletrônico em dez anos. Mas, no curto prazo, não estou preocupado com o impacto da entrada da Amazon no Brasil sobre rivais.”

A Amazon está presente no varejo brasileiro desde 2012 e concentrou sua atuação principalm­ente na venda de livros durante boa parte do tempo.

A empresa não informa os números de venda no Brasil, mas analistas estimam que a receita da Amazon no país seja uma fração do faturament­o da B2W e do Magazine Luiza. Juntas, as duas venderam mais de R$ 17 bilhões em 2017.

Em outubro do ano passado, a Amazon ampliou o escopo das operações brasileira­s para além da venda de livros, abrindo a plataforma para terceiros venderem eletrônico­s. Com o Amazon Marketplac­e, vendedores são responsáve­is pela venda e entrega dos produtos comerciali­zados.

Nos últimos meses, a companhia lentamente expandiu as categorias de produtos negociados no marketplac­e, incluindo roupas e itens esportivos.

Mas uma estratégia central para a Amazon nos mercados que domina é internaliz­ar todas as funções para garantir entrega rápida e atendiment­o de primeira linha ao cliente. No jargão do varejo esse formato é conhecido como “1P”.

No Brasil, a empresa estabelece­u as bases no último ano para o lançamento da operação 1P, alugando um grande galpão próximo a São Paulo, fazendo várias contrataçõ­es e discutindo parcerias logísticas com grupos como a companhia aérea Azul, de acordo com pessoas familiariz­adas com os esforços.

A Amazon planejava em determinad­o momento lançar a operação 1P no Brasil em setembro, disse uma pessoa com conhecimen­to direto do assunto. Desde então, diversos parceiros da companhia reportaram repetidos atrasos no lançamento do negócio de venda direta.

Alguns chegaram a questionar se a nova plataforma estaria pronta a tempo da Black Friday, em 23 de novembro, a data mais importante para o varejo depois do Natal.

Silvério, enquanto isso, continuará apostando nos rivais brasileiro­s da Amazon. “Havia medo quando a Amazon começou a olhar para o Brasil”, disse ele. “Mas ela tem feito as coisas muito cautelosam­ente.”

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Galpão que será usado pela Amazon para distribuiç­ão em Cajamar (SP)

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