Logística e tributação travam avanço da Amazon no Brasil
Dificuldade de negociar com fornecedores também é desafio para a empresa
A americana Amazon se depara com algumas dificuldades para expandir suas operações no Brasil, um promissor mercado que vem se mostrando desafiador para a maior varejista online do mundo.
Os desafios incluem um complexo sistema tributário, logística complicada e relações árduas com alguns dos principais fornecedores, que afirmam que a gigante de Seattle age com pouca flexibilidade nas negociações de preços, embora ainda seja pequena no comércio eletrônico brasileiro.
Várias companhias reconhecidas no país, incluindo a varejista de moda Amaro e a fabricante de calçados e acessórios Arezzo, recusaram as ofertas da Amazon para vender seus produtos na plataforma, segundo pessoas com conhecimento do assunto.
Outros grandes grupos de eletrônicos —como a Lenovo, uma das maiores fabricantes de computadores do mundo— assinaram contratos só nas últimas semanas, depois de vários meses de intensas conversas.
Mas a varejista americana continua avançando com os planos de construir sua própria rede para venda direta, entrega e atendimento no Brasil, tarefas atualmente conduzidas por vendedores que usam a plataforma de marketplace da Amazon.
Ainda assim, a expansão da operação no Brasil está levando mais tempo que o esperado e, quando finalmente lançada, deve ser modesta em comparação com a de outros mercados emergentes, como Índia e México, conforme en- trevistas conduzidas com ex e atuais funcionários, fabricantes, consultores e outras pessoas a par dos esforços da Amazon no país.
Em resposta a uma série de perguntas feitas pela Reuters, a Amazon disse não comentar rumores ou especulações. A Amaro não quis se manifestar, enquanto Arezzo e Lenovo não se pronunciaram.
A dificuldade na expansão da Amazon no Brasil surge num momento em que a varejista encontra-se sob pressão para aumentar as vendas fora do mercado americano.
Nos últimos dias, as ações da companhia de Jeff Bezos perderam força, depois que o balanço do terceiro trimestre mostrou vendas internacionais decepcionantes e uma desaceleração do crescimento em geral.
Ainda que tenha crescido rapidamente em alguns mercados emergentes, a Amazon continua se empenhando para alcançar o mesmo resultado no Brasil, onde fortes competidores locais dominam o mercado de comércio eletrônico.
Só em 2018, as ações da B2W negociadas na Bolsa paulista subiram pouco mais de 70%, enquanto as da Magazine Luiza acumulam valorização de 109%.
Para o gestor de ativos Alexandre Silvério, cuja empresa detém posições consideráveis em algumas das maiores empresas de ecommerce do Brasil, a Amazon terá de lutar para avançar no mercado brasileiro.
“O Brasil é muito diferente de outros mercados. Você precisa conhecer questões logísticas, tributárias”, disse Silvério, diretor de investimentos da AZ Quest Investimentos.
“Não sei como estará o mercado de comércio eletrônico em dez anos. Mas, no curto prazo, não estou preocupado com o impacto da entrada da Amazon no Brasil sobre rivais.”
A Amazon está presente no varejo brasileiro desde 2012 e concentrou sua atuação principalmente na venda de livros durante boa parte do tempo.
A empresa não informa os números de venda no Brasil, mas analistas estimam que a receita da Amazon no país seja uma fração do faturamento da B2W e do Magazine Luiza. Juntas, as duas venderam mais de R$ 17 bilhões em 2017.
Em outubro do ano passado, a Amazon ampliou o escopo das operações brasileiras para além da venda de livros, abrindo a plataforma para terceiros venderem eletrônicos. Com o Amazon Marketplace, vendedores são responsáveis pela venda e entrega dos produtos comercializados.
Nos últimos meses, a companhia lentamente expandiu as categorias de produtos negociados no marketplace, incluindo roupas e itens esportivos.
Mas uma estratégia central para a Amazon nos mercados que domina é internalizar todas as funções para garantir entrega rápida e atendimento de primeira linha ao cliente. No jargão do varejo esse formato é conhecido como “1P”.
No Brasil, a empresa estabeleceu as bases no último ano para o lançamento da operação 1P, alugando um grande galpão próximo a São Paulo, fazendo várias contratações e discutindo parcerias logísticas com grupos como a companhia aérea Azul, de acordo com pessoas familiarizadas com os esforços.
A Amazon planejava em determinado momento lançar a operação 1P no Brasil em setembro, disse uma pessoa com conhecimento direto do assunto. Desde então, diversos parceiros da companhia reportaram repetidos atrasos no lançamento do negócio de venda direta.
Alguns chegaram a questionar se a nova plataforma estaria pronta a tempo da Black Friday, em 23 de novembro, a data mais importante para o varejo depois do Natal.
Silvério, enquanto isso, continuará apostando nos rivais brasileiros da Amazon. “Havia medo quando a Amazon começou a olhar para o Brasil”, disse ele. “Mas ela tem feito as coisas muito cautelosamente.”