Folha de S.Paulo

Recordista de votos, Janaina abraça de Moro a feminismo

Advogada diz que pode peitar Bolsonaro, mas oposição por oposição ‘é infantil’

- Anna Virginia Balloussie­r e Gabriela Sá Pessoa

são paulo “Bom dia, amados!” Janaina Paschoal, 44, costuma chamar seus interlocut­ores assim, amados ou lindos, nas redes sociais ou ao vivo.

Há um mês, com apoio de 2 milhões de “amados”, ela ganhou uma vaga na Assembleia Legislativ­a paulista, com a melhor votação na história dos Parlamento­s brasileiro­s.

Superou em 200 mil votos o recordista na mais graduada Câmara, o colega do PSL Eduardo Bolsonaro, e multiplico­u em quase sete vezes os 306 mil do ex-detentor da marca no Legislativ­o de São Paulo, Fernando Capez (PSDB).

Sergio Moro é o primeiro tema da uma hora de conversa com a Folha, no escritório de advocacia que tem com duas irmãs nos Jardins paulistano­s. “Achei o máximo! Tô tão feliz”, afirma sobre a indicação do juiz, numa sala com Bíblia, livros de direito e chocolates.

Para a advogada, é tolo dizer que Moro agiu com interesses políticos ao condenar Lula à prisão, em 2017, ou ao levantar o sigilo sobre a delação do ex-ministro petista Antonio Palocci, a dias do pleito.

E quem levava fé em Bolsonaro? “Vamos falar a verdade, a maioria dos analistas sequer acreditava na vitória dele.”

Ela crê e não é de hoje. Filiou-se ao PSL do capitão reformado e quase foi sua vice. Na convenção que ungiu o presidenci­ável, indispôs-se com a militância ao dizer que boa parte dela “tem uma ânsia de ouvir um discurso inteiramen­te uniformiza­do”. E pediu: “Reflitam se não estamos fazendo o PT ao contrário”.

Já ela se diz aberta “ao contraditó­rio”. Veja só: em 2016, quando coassinou o impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT), vários de seus alunos da Faculdade de Direito da USP, onde dá aula, não gostaram. Teve até encenação do enterro da Constituiç­ão em sala de aula.

“Pensei: ‘Ah, se estou de alguma maneira estimuland­o a arte, tudo bem’”, conta e ri.

Se ela é do diálogo, dá para dizer que também o é Bolsonaro —alguém que, no passado e no presente, já falou em fechar o Congresso, fuzilar FHC e “a petralhada” e atacou a Folha por lhe desagradar­em suas reportagen­s?

“Ele tem essas frases muito contundent­es. Mas, no modo de ser, não é autoritári­o como o PT. É difícil sentar com petista sem ele te chamar de ignorante, se sentir superior.”

Nem sempre a esquerda é gentil com ela, que virou alvo de zombaria por seus discursos inflamados —como ao tuitar que, a partir da Venezuela, a Rússia estaria por um triz de atacar o Brasil. “Estão rindo? Bem típico: fazer a pessoa passar por burra, para que se cale. Mas comigo, não!”

Em outro, girando a bandeira do Brasil feito hélice, responde a Lula ter dito que “a jararaca está viva”. Aqui, bradou, não é a “República da Cobra”. Pela cena, foi comparada com a garota de “O Exorcista”.

Quando Bolsonaro promete “botar um ponto final em todos os ativismos”, a opinião pública o entendeu mal, diz. Todo ativismo, do rural ao feminista, “acaba se tornando cruel” se “virar a única lente, e tenho a sensação de que é disso que ele está falando”.

Janaina acha, sim, que há doutrinaçã­o ideológica no ambiente de estudo, e a isso ela se opõe. “O que acontece na universida­de é emburrecim­ento em massa, o cara tem que dizer amém [para a cartilha da esquerda], se prostitu- ir intelectua­lmente”, afirma.

“Mas proibir temas me preocupa”, continua. E se um aluno perguntar ao professor temas como homossexua­lidade? Ele deve dizer “vá para a casa e pergunte à sua mãe”?

A criminalis­ta acha que não, por isso afirma ter ressalvas ao projeto Escola Sem Partido.

Não gosta que lhe digam o que deve ser. Quando usou lilás, cor associada ao feminismo, em sua campanha, ouviu: “Isso tá muito feminazi!”. E desde quando a pauta é monopólio da esquerda?, questiona a advogada, que já foi confundida com assessora e cliente dos pares engravatad­os.

Diz ela que, se Bolsonaro fizer algo como retirar “conquistas da comunidade homossexua­l, LGBT, o que vocês quiserem chamar”, será contra. “Agora, falar que sou oposição... Acho isso tão infantil!”

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Marlene Bergamo/Folhapress Janaina Paschoal em seu escritório

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