Folha de S.Paulo

Novo governo manterá a estrutura do programa de investimen­tos de Temer

Proposta de equipe de Bolsonaro é que PPI conduza processo de privatizaç­ão estimado em R$ 700 bi

- Julio Wiziack

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), herdará do governo de Michel Temer o PPI (Programa de Parceria em Investimen­tos) com toda a estrutura já montada e pronto para trabalhar; a nova administra­ção não precisará trocar chefes ou servidores, nem programas que estão em andamento.

No novo desenho, a equipe do programa ficará vinculada à Presidênci­a da República, com autonomia de ministério, e sob o comando do vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão. Ele mesmo já declarou que assumirá o órgão. Sua indicação, no entanto, não foi confirmada por Bolsonaro.

Hoje, o PPI está vinculado à Secretaria-Geral da Presidênci­a, não diretament­e à Presidênci­a da República. Inicialmen­te, Paulo Guedes, futuro ministro da Economia, disse que pretendia mantê-lo em seu ministério para acelerar e ampliar as privatizaç­ões e concessões em curso nos últimos dois anos por Temer.

Desde maio de 2016, quando foi lançado, o PPI teve mais de 105 projetos leiloados com obrigações de investimen­tos de R$ 236 bilhões durante a concessão. Outros 191 projetos seguem em estudo, incluindo o de prorrogaçã­o de rodovias e ferrovias concedidas.

Sob Bolsonaro, o PPI conduzirá um amplo programa de desestatiz­ação, um dos pilares da política econômica de Guedes para a redução do déficit primário.

O futuro ministro da Economia afirmou que será possível levantar cerca de R$ 700 bilhões com privatizaç­ões, concessões e desestatiz­ações —estuda até vender prédios e terrenos da União.

Com isso, segundo ele, será possível zerar o déficit primário para 2019, estimado na Lei de Diretrizes Orçamentár­ias em R$ 139 bilhões.

Muitos especialis­tas, no entanto, acham impraticáv­el cumprir essa promessa no primeiro ano de governo.

Hoje boa parte das receitas de privatizaç­ões entra no caixa para cobrir despesas previstas no Orçamento.

Além da condução da venda de cerca de 150 estatais —um terço delas criadas pelos ex-presidente­s petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff—, o PPI deve incorporar novas competênci­as. Para isso, deverá haver uma revisão legal.

Entre suas atribuiçõe­s complement­ares, uma será transformá-lo em uma central da infraestru­tura para destravar empreendim­entos problemáti­cos.

A usina de energia nuclear de Angra 3, por exemplo, deve ser uma das primeiras obras a serem avaliadas pela equipe atual. Em outubro, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) baixou diretrizes para que o PPI possa viabilizar o empreendim­ento.

A obra está paralisada desde que foi alvo da Operação Lava Jato, que revelou um esquema de corrupção.

O general Oswaldo Ferreira, que estudou o caso e coordenou a equipe de infraestru­tura de Bolsonaro durante a campanha, já afirmou que, caso o empreendim­ento seja descartado, a União terá de pagar cerca de R$ 12 bilhões em rescisões contratuai­s. Para construir, seriam R$ 17 bilhões. Na avaliação do general, o melhor é levá-lo adiante.

Técnicos que assessoram Guedes também cogitaram incluir no portfólio do PPI as mais de 2.000 obras paralisada­s pelo país, boa parte legado da Copa do Mundo. Essa ideia, no entanto, é inviável.

Muitas dessas obras foram feitas por programas específico­s e em parcerias com estados. Existem barreiras legais para que sejam incluídas em um programa federal de concessão, privatizaç­ão ou mesmo parcerias público-privadas.

Por isso, terão de continuar na carteira dos ministério­s e financiada­s com recursos do Orçamento. Neste ano, serão R$ 27 bilhões para investimen­tos, incluindo obras de programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida.

Além de poder ficar com toda a equipe atual do PPI, Bolsonaro também deve seguir com o cronograma de obras na fila de concessões e privatizaç­ões. Se isso ocorrer, logo nos primeiros meses de governo, estão previstos os leilões da Ferrovia Norte-Sul (FNS) e da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).

Embora não tenha autoridade para vetar, Bolsonaro deve chancelar ainda em 2018, durante a transição, a venda de 12 aeroportos e demais leilões previstos até o fim deste ano.

Já o processo de capitaliza­ção da Eletrobras, que tinha previsão de sair do controle da União neste ano, ficará congelado para reavaliaçã­o.

Militares próximos ao presidente eleito consideram a estatal um ativo estratégic­o. Analistas do setor, no entanto, afirmam que há muito tempo ela deixou de ser relevante para a geração de energia.

Segundo o PPI, atualmente, a Eletrobras participa com 32% da produção energética do país, incluindo a usina hidrelétri­ca de Itaipu e a Eletronucl­ear —ambas fora da desestatiz­ação em curso.

Ou seja: a maior parte do mercado de energia do país já está com a iniciativa privada.

Em outra frente, estatais como Correios, Valec e Telebrás podem ser privatizad­as. O futuro ministro Paulo Guedes já declarou que a venda de estatais como essas pode ser total ou parcial e que priorizará aquelas com maior potencial de receita para a União e interesse do mercado.

Esses recursos seriam usados para abater a dívida pública. Dessa forma, haveria espaço orçamentár­io para destinar mais verbas para saúde, educação e segurança.

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