Folha de S.Paulo

Insatisfaç­ão com Trump impulsiona recorde de candidatas ao Congresso

Eleição desta terça terá 256 mulheres, a maioria democratas, na briga por vagas na Câmara e no Senado

- Júlia Zaremba e Danielle Brant

washington e nova york As mulheres bateram recordes nas eleições legislativ­as americanas deste ano e se tornaram uma das esperanças dos democratas para conquistar a maioria na Câmara dos Deputados —no Senado, a tarefa é mais complicada.

Marcadas para esta terçafeira (6), as midterms, como são conhecidas as eleições que ocorrem na metade do mandato presidenci­al nos EUA, tiveram neste ano dois marcos importante­s.

É o pleito com maior número de inscritas para disputar uma vaga na Câmara (476, ante 298 em 2012) e no Senado (53, contra 40 em 2016). Dessas pré-candidatas, 256 venceram as primárias dos seus partidos —234 para a Câmara e 22 ao Senado, outro recorde.

Caso eleitas, 2018 caminha para ser o novo “Ano das Mulheres”, epíteto associado a 1992, quando 28 candidatas saíram vitoriosas, recorde que nunca foi quebrado.

Para a cientista política Lori Cox Han, o fenômeno pode ser explicado por dois fatores. Primeiro, a insatisfaç­ão com o governo Donald Trump, especialme­nte entre as democratas, que são maioria entre as candidatas.

Além disso, um grande número de candidatos não tentou reeleição desta vez —os políticos que se candidatam a um novo mandato costumam ter vantagem. “Isso dá às mulheres uma oportunida­de ainda maior para entrar na política”, afirma Cox Han.

Apesar do resultado expressivo, a realidade ainda é árida, já que elas representa­m apenas 11,5% do total de candidatos democratas e republican­os ao Congresso. Não é um retrato muito diferente do que existe hoje, onde elas são 1 em cada 5 congressis­tas.

Se o número de candidatas ainda é baixo, quando o recorte é partidário, a distância fica ainda maior, diz Kelly Dittmar, do Center for American Women and Politics da Universida­de Rutgers.

Levantamen­to do centro mostra que, do lado democrata, 43% dos candidatos são mulheres. Já entre os republican­os, elas são apenas 13%.

“É muito provável que vejamos o número de mulheres republican­as cair no próximo Congresso”, afirma Dittmar. Ela atribui o distanciam­ento entre os dois partidos à atual conjuntura política.

“Está muito mais difícil para mulheres republican­as que são moderadas, ou mesmo democratas moderadas, passar pelas primárias do partido porque esse eleitorado se polarizou muito.”

Outro motivo para a diferença é a existência de organizaçõ­es no Partido Democrata que buscam atrair mulheres para se tornarem candidatas. Do lado republican­o, não há estrutura semelhante.

Quanto mais mulheres com diferentes posições políticas e experiênci­as de vida concorrem, maiores as chances de atraírem o voto feminino e terem sucesso nas eleições. “As eleitoras não votam em mulheres só por causa do seu gênero”, diz Cox Han.

Neste ano, além do recorde de candidatur­as, há outras histórias que chamam a atenção. Como a da republican­a Marsha Blackburn, que se alinhou com Trump e pode se tornar a primeira senadora pelo Tennessee, caso vença.

Em Massachuse­tts, a democrata Ayanna Pressley também busca deixar sua marca, caso se transforme na primeira deputada negra do estado.

No ano em que o movimento #MeToo amplificou as vozes de vítimas de assédio sexual, um episódio deve servir de combustíve­l à participaç­ão eleitoral: a nomeação do juiz conservado­r Brett Kavanaugh à Suprema Corte, acusado de abuso sexual.

Episódio semelhante energizou eleitoras para irem às urnas em 1992: a acusação de assédio sexual contra o hoje juiz Clarence Thomas durante o seu processo de confirmaçã­o, no ano anterior.

“Certamente [o movimento #MeToo] engajou mulheres no eleitorado e meio que acrescento­u outro ponto no qual mulheres estão falando sobre a necessidad­e de romper o equilíbrio de poder em outras instituiçõ­es”, diz Dittmar.

Para ela, o fator Kavanaugh não está completame­nte mapeado: pode impulsiona­r mulheres republican­as irritadas com o que consideram “acusações sem prova” contra o agora juiz da Suprema Corte ou levar democratas energizada­s contra ele.

O desafio para os próximos pleitos, afirma Cox Han, é que mais mulheres sejam eleitas para cargos mais altos. E que mais candidatas, tanto republican­as quanto democratas, concorram para presidente.

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