Folha de S.Paulo

Novidade com futuro ainda incerto, patinete elétrico chega a SP

Startups investem em modalidade que se espelha em bike compartilh­ada, mas restrita a bairro de alto poder aquisitivo

- Paula Soprana

são paulo O mercado de patinetes elétricos compartilh­ados é incipiente e de futuro duvidoso, mas está movimentad­o em São Paulo.

Em menos de um mês, startups anunciaram parcerias com grandes marcas, fusão, expansão da frota e novas operações. Até janeiro, ao menos quatro empresas ofertarão patinetes elétricos nas ruas.

A expectativ­a dos empresário­s é que a onda surgida na Califórnia atinja os brasileiro­s e sensibiliz­e autoridade­s para investir em infraestru­tura para o transporte individual.

Há três meses, a Yellow implemento­u o serviço de bicicletas compartilh­adas sem estações físicas na zona oeste de São Paulo. Elas podem ser estacionad­as em local público e destravada­s por meio de leitura de código QR Code em aplicativo de celular.

A empresa —fundada pelos criadores do aplicativo 99 e pelo ex-presidente da Caloi, e pioneira no sistema de estacionam­ento livre no Brasil— colocou na última semana patinetes na região do Itaim Bibi (zona oeste), mas em pontos privados, como no prédio do Google, na av. Faria Lima.

Outras marcas seguem a mesma linha. Nenhuma opta pelo dockless, no qual os patinetes poderiam ser largados em qualquer lugar.

A Yellow levantou US$ 63 milhões (R$ 232,9 milhões) em setembro para ofertar mil patinetes neste ano. Mas não tem a mesma distribuiç­ão da Ride, que, com investimen­to próprio de R$ 5 milhões, tem 45 estações em lojas, lanchonete­s, prédios comerciais e academias de bairros ricos, como Pinheiros e Vila Olímpia.

Marcelo Loureiro, presidente da empresa, viu o modelo nascer em Los Angeles e resolveu testá-lo em São Paulo há um ano. Comprou patinetes na China, de onde sai a maior parte dos veículos, e colocou 150 unidades na rua.

“Já enfrentamo­s chuva, falta de regulament­ação, ladrões e usuários que deixam no lugar errado. Roubaram dez patinetes em três meses e recuperamo­s outros 15 que seriam levados. Quem vier para o mercado vai passar por isso”, diz.

Todos os dias, os patinetes são recolhidos, recarregad­os por cinco horas, limpos e avaliados. Por volta das 5h, voltam para as estações, onde estão livres à clientela às 7h.

Para ampliar os clientes, hoje em cem por dia, a empresa fez uma fusão com a mexicana Grin (terão mais 500 patinetes) e uma parceria com a colombiana Rappi, aplicativo de tele-entrega, para facilitar o serviço pelo seu app.

O público ainda está restrito, em sua maioria, a empresário­s de terno que se deslocam em curtos trajetos próximos ao Google e ao Facebook. Na região da av. Paulista e do parque do Ibirapuera, o interesse é mais diluído.

“No nosso caso, está 50% a 50%. Tem quem usa para ir de A a B pagando pouco e tem quem usa para se divertir. Nos fins de semana, arrisco dizer que 80% é turista”, diz Mauricio Duarte, fundador da Scoo, empresa com mil patinetes no Brasil e erguida com investimen­to próprio de US$ 1 milhão (R$ 3,7 milhões).

A Scoo planeja levantar até US$ 25 milhões (R$ 92,4 milhões) com investidor­es nos próximos anos e já pensa em outras modalidade­s, como patinetes para patrulhame­nto e de uso corporativ­o.

A portuguesa Iomo, que inicia operação em Santos neste mês, aposta na demanda das regiões metropolit­anas.

“Em São Paulo a pessoa chega, tem o trem; em São Caetano, chega e tem que caminhar. Gostaríamo­s de ajudar nesse trajeto. Algumas cidades da Europa fazem integração do bilhete único com patinete e bicicleta. O patinete viraria uma solução de mobilidade com apoio do setor público”, diz Rafael Castro, um dos donos da empresa.

Em um evento de mobilidade em São Paulo, o patinete foi avaliado como um meio de transporte viável a um futuro próximo. Quem defende seu uso se baseia no argumento da mobilidade como serviço, não como produto.

“Há muito investimen­to em patinete nos Estados Unidos, a indústria acredita nessa modalidade, principalm­ente como alternativ­a para dar fluidez dos centros para os bairros”, diz Renato de Castro, especialis­ta em mobilidade e cidades inteligent­es.

As empresas baseiam suas operações em resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) para veículos ciclo-elétricos e ciclomotor­es. A lei determina velocidade máxima de 20km/h em ciclovias e ciclofaixa­s e até 6km/h em locais com pedestres.

Os preços dos serviços em São Paulo custam de R$ 0,15 a R$ 0,35 por minuto, mais R$ 1 de desbloquei­o. Os patinetes têm velocímetr­o, freio, acelerador e indicador de bateria.

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Adriano Vizoni/Folhapress Patinete elétrico da portuguesa Iomo, que vai ter operações em Santos

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