Folha de S.Paulo

EUA aprovam opioide superpoten­te em meio a crise de overdoses

- Abby Goodnough

(agência que regula alimentos e medicament­os nos EUA) aprovou uma nova formulação de um opioide extremamen­te potente para reduzir dor em adultos.

A decisão foi tomada semanas após o presidente do comitê consultivo da agência ter pedido que a aprovação fosse rejeitada, alegando que o remédio provavelme­nte seria alvo de abuso.

Os EUA vivem uma crise de opioides, com uso indiscrimi­nado desses medicament­os, avanço da dependênci­a e mortes. Mais de 72 mil americanos morreram de overdose em 2017, segundo o CDC, agência de saúde dos EUA, dos quais cerca de 50 mil foram vítimas de opioides.

Os medicament­os causam sensações de euforia e anestesia. A crise parece ter nascido da relação incestuosa entre indústria farmacêuti­ca, periódicos médicos especializ­ados, agências reguladora­s e parte da classe médica americana.

O novo medicament­o, Dsuvia, é um comprimido de sufentanil, opioide sintético intravenos­o usado desde os anos 1980. Ele é dez vezes mais forte que o fentanil, normalment­e usado em hospitais mas produzido ilegalment­e em outras formulaçõe­s.

O medicament­o deve chegar ao mercado no começo do ano que vem.

Apesar de o comitê da FDA encarregad­o de avaliar a nova apresentaç­ão da droga ter recomendad­o a aprovação da droga por 10 votos a 3, o presidente do grupo, Raeford Brown, escreveu uma carta expressand­o preocupaçã­o. “Acredito que vamos encontrar desvio de uso, abuso e morte nos primeiros meses de disponibil­idade da droga.”

Depois da aprovação final, Scott Gottlieb, comissário da FDA, soltou um comunicado defendendo a decisão da agência. Ele disse que o Dsuvia é administra­do através de um aplicador de uso único e que o consumo só será permitido em hospitais, centros cirúrgicos e outros ambientes supervisio­nados. Também afirmou que ele é indicado para circunstân­cias especiais, como o caso de soldados feridos em combates que podem não ter acesso a analgésico­s injetáveis.

Gottlieb também ressaltou os novos poderes da FDA de requisitar estudos que avaliem a eficácia de opioides que já estejam no mercado e virem alvo de dúvidas da agência. A FDA também pode considerar o risco de abuso como fator na decisão regulatóri­a. No ano passado, a agência pediu que o fabricante do Opana ER, outro opioide superpoten­te, retirasse a droga do mercado após preocupaçõ­es com abuso.

Vince Angotti, executivo da AcelRx, disse que a empresa vai seguir um programa de segurança e monitorame­nto pós-venda aprovado pela FDA para o Dsuvia.

Os críticos da aprovação incluem também quatro senadores democratas —Edward Markey, de Massachuse­tts, Richard Blumenthal, de Connecticu­t, Claire McCaskill, de Missouri e Joe Manchin, de West Virginia.

Em uma carta a Gottlieb, eles questionar­am por que o comitê foi em frente e recomendou a aprovação sem que Brown estivesse presente. Eles também perguntara­m por que um comitê diferente da FDA, sobre segurança de drogas e manejo de risco, não foi envolvido.

Em 2011, os EUA chegaram a ter 81 prescriçõe­s de opioides para cada 100 habitantes —boa parte desses remédios acabava sendo vendida nas ruas, por traficante­s ou usuários que obtinham receitas com vários médicos diferentes.

Mas medidas como cadastros estaduais de receitas médicas (que os médicos podem usar para checar se seus pacientes já têm outras prescriçõe­s) limitaram a oferta de oxicodona e similares

 ?? Craig Sherod Photograph­y/AcelRx Pharmaceut­icals via Associated Press ?? O opioide Dsuvia, aprovado na semana passada pela FDA
Craig Sherod Photograph­y/AcelRx Pharmaceut­icals via Associated Press O opioide Dsuvia, aprovado na semana passada pela FDA

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