Folha de S.Paulo

Chef celebridad­e, Francis Mallmann vem a SP

‘Cozinha do fogo’ de argentino inspira restaurant­es do mundo inteiro; ele integra programaçã­o do Mesa São Paulo

- Josimar Melo John Kernick/Divulgação

Hoje não é mais possível pensar no chef argentino Francis Mallmann sem visualizar sua imagem ao lado de fortes labaredas subindo do chão, lambendo carnes e vegetais que podem estar pousados numa grelha, pendurados numa gaiola, imprensado­s entre duas grelhas, ou mesmo enterrados sob chamas.

É o que este chef tornado celebridad­e mundial chama de cozinha do fogo, inspirada em antigas técnicas da Patagônia e dos Andes, onde viveu parte de sua vida e segue tendo um refúgio.

É algo de que ele vai falar —e, um pouco, mostrar na prática— no evento Mesa São Paulo, que reúne chefs brasileiro­s e internacio­nais no Memorial da América Latina, em São Paulo, dos dias 9 a 11 de novembro.

Entre os convidados internacio­nais estarão chefs celebrados de dois restaurant­es peruanos já premiados como os melhores da América Latina (Maido e Central).

Mas é a figura magnética de Mallmann a que mais atrai a atenção —como acontece desde que se tornou uma celebridad­e com seus programas de televisão gravados na Argentina, mas divulgados pela América hispânica por quase duas décadas.

O efeito se repetiu com seu segmento na primeira temporada da série “Chef’s Table”, da Netflix, raro episódio em que o chef não é apenas incensado acriticame­nte —só porque ele mesmo, Mallmann, descrevia a si mesmo sem a complacênc­ia que marca a série.

Ele conta, por exemplo, que prefere viajar a morar com mulher e filhas... um arranjo pouco convencion­al, mas perfeitame­nte harmonioso, como explicou à Folha.

“Acaba de nascer minha segunda filha com Vanina [Chimeno, chef de cozinha com restaurant­e em Mendoza]. Nós nos casamos há um ano, mas nunca vivemos juntos em 11 anos —cada um tem sua casa e passamos metade do mês juntos viajando com as meninas”, diz o chef de 62 anos.

Mallmann declara ainda que seu coração “está sempre na Argentina”, enquanto sua residência, no Uruguai, onde tem um hotel de charme no povoado de Garzón.

Bastante catapultad­o pela fama televisiva (e pela originalid­ade de sua cozinha), ele hoje assina dez restaurant­es pelo mundo e realiza incontávei­s eventos, sobre os quais costuma ser discreto.

Contudo, entre os exemplos recentes, está o casamento, relatado por uma testemunha, da atriz Gwyneth Paltrow com o produtor Brad Falchuk, em setembro, no chiquérrim­o balneário nova-iorquino dos Hamptons.

Ali, além das gigantesca­s labaredas do fogo de chão, Mallmann, bem a seu estilo, preparou inacreditá­veis 150 quilos de carne para apenas 80 pessoas; a atriz não come carne —mas não recusou o salmão.

Os restaurant­es são diferentes, em lugares tão distintos quanto Argentina, França, Uruguai e Miami. Em comum, eles têm “a linguagem do fogo, somente adaptados para os produtos regionais.”

Alguns pratos clássicos são repetidos em todos, como salada de abobrinha com parmesão, hortelã e amêndoas tostadas; ojo de bife com batatas Patagônia; flan de doce de leite; rolo de couve na chapa com legumes e queijo de cabra; alcachofra­s com casca de limão confitadas.

O cenográfic­o ritual de preparo, seja nos restaurant­es, seja ao ar livre em eventos, ganhou o mundo em imagens da imprensa e da mídia social. E se espalhou por muitos restaurant­es. Imitação? Isso incomoda o chef?

“Sim, o fogo está voltando para restaurant­es de todos os níveis, minha cozinha se internacio­nalizou; há sempre péssimas imitações, mas também há boas”, diz Mallmann.

“Mas há incompreen­sões. O fogo é uma técnica muito frágil, quase sempre o cozimento bem lento é melhor”, ensina.

“As pessoas relacionam o uso do fogo com certa brutalidad­e. Mas, pelo contrário, é necessária uma intuição feminina para fazê-lo bem. A mulher, se cozinha com fogo, é melhor que o homem, embora, como ele, deva aprender muito.”

Bem diferente do jovem chef ambicioso que, nos anos 1980, ostentando um topete à moda new wave, fazia nouvelle cuisine francesa, o Mallmann que nasceu há cerca de 25 anos voltou-se para as origens. Para carnes e produtos andinos de sua terra. Um universo que ainda agora não considera ter dominado de todo.

“O fogo é uma linguagem do silêncio, inexplicáv­el; escrevi muitos livros a respeito, mas eles não conseguem explicar.”

E completa: “temos que aprender pela prática. Apenas a repetição ensina. É um ofício, um artesanato, e como tal, requer prática incessante”.

Mesa São Paulo

9 a 11 de novembro, no Memorial da América Latina, além de jantares a partir de 7/11 em restaurant­es da cidade Participaç­ões de Francis Mallmann - palestra: sexta (9), 9h20; Brasa na Mesa (churrasco com vários chefs): sexta (7), a partir das 17h30. Programaçã­o completa, preços e ingressos em www.mesasp.com.br

 ??  ?? O chef, que vem ao Mesa São Paulo, em foto do livro sobre técnicas de cocção ‘Sete Fogos: Churrasco ao Estilo Argentino’
O chef, que vem ao Mesa São Paulo, em foto do livro sobre técnicas de cocção ‘Sete Fogos: Churrasco ao Estilo Argentino’
 ??  ?? Francis Mallmann, 62 Argentino, o chef é famoso pela cozinha de fogo, inspirada em técnicas da Patagônia e dos Andes, e pelas aparições televisiva­s. Assina dez restaurant­es pelo mundo, escreveu livros e ganhou um episódio na série ‘Chef’s Table’
Francis Mallmann, 62 Argentino, o chef é famoso pela cozinha de fogo, inspirada em técnicas da Patagônia e dos Andes, e pelas aparições televisiva­s. Assina dez restaurant­es pelo mundo, escreveu livros e ganhou um episódio na série ‘Chef’s Table’

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