Folha de S.Paulo

Empresas estudam mudar MP do saneamento

Para aprovar novo marco ainda neste governo, associação do setor privado deve propor flexibiliz­ação de artigo polêmico

- Taís Hirata

As companhias privadas de saneamento básico vão propor mudanças na medida provisória que altera o marco regulatóri­o do setor para que o texto possa ser aprovado ainda neste governo.

O principal ponto de discórdia com as concession­árias públicas é um artigo polêmico da MP, que altera as regras de concorrênc­ia entre empresas públicas e privadas.

A ideia agora é incluir no texto uma diferencia­ção entre as companhias públicas com maior capacidade financeira —como Sabesp (SP), Sanepar (PR) e Compesa (PE)— e as empresas deficitári­as.

Trata-se de uma tentativa de encontrar um consenso, já que as concession­árias públicas concordam com a maior parte do texto da MP, que traz outras mudanças considerad­as importante­s, mas discordam fortemente da mudança nas regras de concorrênc­ia.

No mercado, há a percepção de que o novo marco regulatóri­o, de modo geral, traz avanços e que é mais seguro aprovar a MP neste ano —já que pouco se conhece sobre a proposta do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para o setor.

Durante a campanha, o então presidenci­ável não participou de nenhum debate promovido pelas associaçõe­s da área e, até agora, as entidades tampouco encontrara­m algum interlocut­or dentro da equipe do novo governo.

O prazo para aprovar a MP é curto. Apresentad­a em julho pelo governo de Michel Temer, ela perderá sua validade em 19 de novembro caso não seja aprovada pelo Congresso.

Na semana passada, o relatório do senador Valdir Raupp (MDB-RO) foi aprovado na Comissão Mista responsáve­l por analisar o tema. O texto ainda precisa ser votado nos plenários da Câmara e do Senado.

A ideia é tentar votar o texto na Câmara nesta semana.

Antes disso, a Abcon (associação das companhias privadas) estuda uma proposta de texto mais flexível, para conseguir o apoio necessário para aprovar a MP.

A alteração seria no artigo que, na prática, obriga os municípios a realizar licitações na hora de contratar as concession­árias de saneamento.

Antes, a concorrênc­ia não era necessária caso o contrato fosse firmado com uma empresa pública. Só seria preciso abrir competição se o prefeito quisesse contratar uma empresa privada.

A mudança foi um pleito das companhias privadas, que reclamavam de concorrênc­ia desleal, mas gerou diversos questionam­entos de analistas e concession­árias estaduais.

A nova proposta da Abcon traria um aceno às companhias estaduais de maior porte e com melhor saúde financeira, que geram seu próprio caixa e, em muitos casos, atraem investidor­es privados.

A proposta ainda está em negociação, afirma Percy Soares Neto, diretor da entidade.

“O princípio é não tratar empresas diferentes de forma igual. Há empresas que realizam investimen­tos, estão melhorando a qualidade do serviço. E tem companhias com zero capacidade”, diz ele.

As concession­árias estaduais, principais opositoras ao artigo, estão abertas a negociação caso haja mudanças no texto, segundo Roberto Tavares, presidente da Aesbe (associação das concession­árias públicas) e da Compesa, concession­ária de Pernambuco.

Ele também afirma que é preciso diferencia­r as companhias. “As empresas que não dependem do Estado, que captam recursos no mercado, que têm um plano de investimen­to rodando, vão ser prejudicad­as. É diferente das empresas dependente­s do Tesouro para sobreviver. Mas hoje, do jeito que está, nossa ação é para que nossas bancadas votem contra”, diz ele.

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