Folha de S.Paulo

Prova de fogo

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Acerca de inseguranç­a em prédios públicos paulistas.

Protocolos para a prevenção e a contenção de incêndios não existem à toa. A inobservân­cia desses requisitos básicos de segurança costuma estar por trás de tragédias como a do Museu Nacional, ocorrida neste ano, e a do Museu da Língua Portuguesa, em 2015.

Devastadas pelo fogo, as duas instituiçõ­es não possuíam o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), que assegura a adequação de um local. Tal documento diz respeito ao atendiment­o de normas sobre número de extintores, rotas de fuga e segurança da rede elétrica, entre outros aspectos.

Encontram-se nessa situação periclitan­te quase dois terços dos 64 Institutos de Criminalís­tica (ICs) do estado de São Paulo, incluindo os sete da capital, conforme mostrou reportagem desta Folha.

Nos ICs ficam armazenada­s as provas e as perícias criminais realizadas pela Polícia Técnico-Científica do estado. A destruição de evidências como essas num eventual incêndio poderia acarretar injustiças irremediáv­eis —para nada falar do risco de perdas patrimonia­is e humanas.

Pessoas que de fato tenham cometido crimes, mas que ainda aguardam o julgamento ou cuja sentença não transitou em julgado, por exemplo, poderiam ser postas em liberdade com a perda do material comprobató­rio —sobretudo em casos de tráfico de drogas e posse ilegal de armas.

De outro lado, alguém que esteja preso injustamen­te e dependa de nova análise pericial para reverter sua condenação seguiria encarcerad­o. O aniquilame­nto de provas ameaçaria também compromete­r uma futura acusação a um suspeito ainda não identifica­do, como na perda de uma peça de roupa de vítima de estupro que contenha material biológico do agressor.

Alertas a respeito de tamanho descaso não faltam. Em 2013, o Tribunal de Contas do Estado denunciou as instalaçõe­s precárias dos ICs paulistas e cobrou providênci­as do governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Posteriorm­ente, o pleito foi reiterado pelo Ministério Público de Contas do Estado. Pouco se fez desde então.

A certificaç­ão concedida pelos bombeiros não garante, por certo, que um estabeleci­mento estará à salvo de incêndios. Ao negligenci­á-la, contudo, as autoridade­s expõem esses locais, o material neles guardado e os servidores que lá trabalham a riscos inaceitáve­is.

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