Folha de S.Paulo

Domínio tucano no estado de São Paulo só encontra paralelos em outros países

- José Marques

A possibilid­ade de um partido governar um estado por quase 30 anos, abrindo espaço apenas a governos interinos de curta duração, é inédita no Brasil pós-ditadura militar. No entanto, foi aberta com a eleição de João Doria (PSDB) em São Paulo.

Neste ano ocorreu a sétima eleição consecutiv­a de um candidato tucano à gestão paulista.

Situação parecida, só em outras democracia­s ao redor do mundo. Isso se aplica tanto aos Executivos de cidades ou estados como também em relação à chefia de países.

Em São Paulo, o domínio dos tucanos começou em 1995, quando Mário Covas foi empossado em seu primeiro mandato.

O partido deixou o poder por alguns meses apenas em duas ocasiões: quando Geraldo Alckmin decidiu concorrer à Presidênci­a em 2006 e 2018.

Nesses casos, vices comandaram o Palácio dos Bandeirant­es: Cláudio Lembo (então no PFL) e o atual governador Márcio França (PSB), que tentou se reeleger e perdeu.

Caso Doria decida completar o seu mandato, tentar a reeleição e ganhar, o PSDB pode alcançar 32 anos de gestão.

Depois de Covas, que morreu em 2001, vieram Alckmin, Serra e Alckmin novamente, por dois mandatos.

Isso não se compararia, por exemplo, ao domínio do partido Democrata dos EUA no estado do Mississipi: por 116 anos, de 1876 a 1992, a legenda governou o estado. Hoje, no entanto, o comando da gestão está sob responsabi­lidade de um governador republican­o.

Outro estado, a Geórgia, foi administra­do por mais tempo ainda pelos democratas: durante 130 anos.

É importante frisar que, ao contrário do Brasil, os Estados Unidos têm um sistema em que duas legendas dominam a politica, os democratas e os republican­os.

O atual governo da África do Sul também se aproxima do domínio tucano no estado —mas passará por uma prova eleitoral no ano que vem. Desde 1994, é governado pelo ANC (Congresso Nacional Africano), quando Nelson Mandela foi eleito presidente.

Em Israel, o grupo que atualmente é o Partido Trabalhist­a esteve com o cargo de primeiro-ministro da fundação do país, em 1948, até 1977.

Inicialmen­te, o Partido Trabalhist­a se chamava Mapai, mas convergiu com outros grupos políticos antes de tomar o formato atual.

O PRI (Partido Revolucion­ário Institucio­nal) se manteve por 71 anos no poder no México, de 1929 a 2000, mas em circunstân­cias questionáv­eis e sob acusações de fraude. O sucessor apontado pelo então presidente sempre ganhava, numa política que ficou conhecida como “dedazo”.

O escritor peruano Mario Vargas Llosa chamou o domínio do PRI no México de “ditadura perfeita”.

Há ainda situações municipais em que um partido leva décadas no poder.

Um exemplo é Bolonha, na Itália, que foi governada pelo partido Democratas de Esquerda por 54 anos. Em 1999, foi eleito um prefeito de centro-direita, em evento que ficou conhecido como “a queda do muro de Bolonha”.

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Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress O governador eleito de SP, João Doria, em evento na capital

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