Folha de S.Paulo

Estado dos EUA testa sistema de voto em ranking

No modelo que será usado no Maine, cada eleitor pode escolher até quatro candidatos em ordem de preferênci­a

- Jenny Starrs e Daron Taylor The Washington Post, com tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Os moradores do estado do Maine, no nordeste dos EUA, farão história eleitoral na próxima semana —de novo.

Eles já foram precursore­s em suas primárias ao usar um sistema de votação chamado “ranked-choice” (escolha ranqueada) para definir os candidatos de cada partido. Agora eles serão os primeiros a classifica­r seus votos também em uma eleição geral federal.

Neste tipo de votação, também chamada de desempate instantâne­o, o eleitor enumera diversos candidatos por ordem de preferênci­a em vez de votar em apenas um.

Na apuração, é contabiliz­ada inicialmen­te apenas a primeira opção de cada eleitor. Para vencer, o candidato precisa conseguir mais de 50% dos votos.

Se ninguém conseguir isso nesta primeira rodada, o candidato com menor quantidade de votos é eliminado e quem votou nele passa a ter contabiliz­ada a segunda opção marcada na cédula.

Se alguém conseguir mais de 50% nessa segunda rodada, é declarado vencedor. Se não, o candidato com o menor número de votos é eliminado novamente, e esses votos são aplicados à opção seguinte dos eleitores. E assim por diante, até que alguém consiga a maioria.

Segundo o gabinete do secretário de Estado do Maine, a lei que institui a votação por escolha ranqueada estipula que os votos sejam apurados em turnos, até que restem só dois candidatos —o que tiver mais votos então será o vencedor.

Na maioria das eleições por escolha ranqueada, o vencedor da maioria dos votos na primeira opção acaba vencendo no final. Mas há exceções, especialme­nte em disputas em que há diversos candidatos com posições próximas.

No 2º distrito do Maine, o deputado republican­o Bruce Poliquin e o democrata Jared Golden estão empatados nas pesquisas, com dois independen­tes —Tiffany Bond e Will Hoar— muito atrás. Como ninguém deve ter maioria inicialmen­te, a tendência é que a decisão ocorra com os votos de segunda opção.

Bond, Hoar e Golden prometeram aceitar o resultado da apuração por escolha ranqueada, mas Poliquin se recusou a responder à pergunta no último debate.”Vou marcar Bruce Poliquin, um único voto, colocá-lo na urna e ir embora”, disse ele.

Outros locais já usam a votação por escolha ranqueada, como a cidade de San Francisco, a Austrália e a categoria de melhor filme no Oscar.

Defensores desse sistema dizem que ele promove o fortalecim­ento de uma maioria, incentiva campanhas mais centristas e civilizada­s e abre a porta para candidatos de siglas menores —os eleitores podem votar primeiro em um candidato sem chance que apoiam e como segunda opção em alguém com chance de vitória, por exemplo.

Mas há defeitos potenciais, dizem os adversário­s: se o eleitor decide escolher apenas a primeira opção e ela não vence na primeira rodada, seu voto se torna inútil rapidament­e. Além disso, o sistema também torna a votação complicada e demorada e privilegia candidatos de centro após a primeira rodada.

É o caso da disputa para prefeito de Oakland, na Califórnia, em 2010, quando a votação por escolha ranqueada, levou à vitória um candidato de segunda opção.

O candidato mais bem situado nas pesquisas e vencedor na primeira opção, Don Peralta, acabou derrotado por Jean Quan, que se concentrou em atrair apoiadores de outros candidatos para seu voto de segunda opção.

Os apoiadores de Peralta acusaram Quan de “burlar o sistema” para conseguir a maioria em um campo lotado.

No Maine, a mudança para votação de escolha ranqueada foi provocada por uma série de fatores: um eleitorado historicam­ente independen­te, a frustração com eleições recentes polarizada­s como a do governador Paul LePage (republican­o) e diversas tentativas fracassada­s de implementa­r o sistema via Legislativ­o.

Por isso, os moradores coletaram assinatura­s para uma iniciativa de petição e aprovaram a medida com uma consulta popular numa votação em novembro de 2016. O legislativ­o local até tentou adiar sua implementa­ção para 2021, mas a vontade popular acabou prevalecen­do em um segundo referendo e o modelo estreia nesta terça (6).

A escolha ranqueada não será usada ainda na escolha para cargos estaduais devido a uma decisão judicial, mas muitos eleitores no 2º distrito do Maine estavam entusiasma­dos com a mudança.

“A votação por escolha ranqueada me dá uma oportunida­de de pelo menos expressar minha opinião. E mesmo que meu candidato não vença eles recebem a colaboraçã­o”, disse Jan Hill, de Bangor, que votou na primária republican­a em junho.

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Robert F. Bukaty/Associated Press Eleitoras aguardam para votar em Lewiston, no Maine (acima), e a cédula que será usada no estado, com uma tabela para cada pessoa indicar sua ordem de preferênci­a (esq.)
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Reprodução

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