Folha de S.Paulo

Colômbia vive crise entre presidente e diplomatas

- Sylvia Colombo

A controvérs­ia diplomátic­a causada na semana passada na Colômbia, quando um alto funcionári­o sugeriu que uma iniciativa do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, em tomar uma ação militar na Venezuela seria apoiada pelo presidente Iván Duque, provocou também um debate sobre a intensa politizaçã­o da diplomacia colombiana.

Quando assumiu o poder, Duque, afilhado ex-presidente Álvaro Uribe, quis afastar alguns personagen­s da linha dura do movimento, para reforçar a ideia de que ele não seria um governante de direita e sim um extremista de centro, como gosta de se denominar. Para isso, entregou dezenas de postos diplomátic­os a personagen­s de médio e alto escalão do uribismo.

Entre eles estão o embaixador nos EUA, Francisco Santos, o ex-procurador-geral Alejandro Ordóñez, representa­nte na OEA (Organizaçã­o de Estados Americanos), a ex-senadora Nohora Stella Tovar Rey, embaixador­a na República Dominicana e o exchancele­r Guillermo Fernández de Soto, embaixador junto a ONU, entre outros.

Se por um lado essas nomeações afastaram do governo os apoiadores mais radicais do Centro Democrátic­o, partido do presidente, por outro espalhou pelo mundo portavozes da Colômbia que têm opiniões extremas e, às vezes, dissonante­s com a relação às do presidente.

Entre elas, por exemplo, de que o país deve tomar medidas mais duras para pressionar pelo fim da ditadura de Nicolás Maduro, ou de fechar ou limitar o acesso dos venezuelan­os pela fronteira (já são mais de 1 milhão no país). Ou, ainda, a de usar a força para eliminar o ELN (Exército de Libertação Nacional), abandonand­o de vez as negociaçõe­s para um acordo de paz.

Pouco depois de que o chanceler Carlos Holmes Trujillo chamou a imprensa para dizer que diplomatas estão desautoriz­ados em dizer coisas em nome do governo sem consultar antes a Presidênci­a, o embaixador Francisco Santos voltou ao ataque contra a Venezuela.

Em entrevista ao “Diario Las Americas”, dos EUA, afirmou que “o ELN é um grupo paramilita­r do governo venezuelan­o”, e que por conta disso deveria ser combatido.

Santos também afirmou que, por conta de ter recebido abrigo em território venezuelan­o, a guerrilha agora estaria pagando por isso, realizando tarefas e “coisas sujas” pedidas por Maduro.

Duque também está enfrentand­o críticas dos diplomatas de carreira. Margarita Manjarrez, presidente da Associação Diplomátic­a e Consular, disse que, dos 769 cargos diplomátic­os que existiam no começo do ano, 49% está nas mãos de diplomatas, mas todo o resto foi entregue a nomeações políticas.

A maioria delas foi para uribistas a quem Duque devia apoio por terem participad­o de sua campanha, mas que, por outro lado não queria por perto do governo.

“Isso é muito ruim para a Colômbia, pois reforça coisas que há anos estamos lutando contra, que são o clientelis­mo, o nepotismo e o mau uso desses cargos que são essenciais para as relações da Colômbia com o resto do mundo”, diz Manjarrez.

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