Transferência de Marcola, chefe do PCC, divide Segurança em SP
Membros de PM e Promotoria querem levá-lo a prisão federal; secretários resistem
A possível transferência de integrantes do PCC de uma penitenciária estadual do interior de São Paulo para presídios federais, devido à descoberta de um plano de resgate de chefões da facção criminosa, provocou uma divisão entre as forças de combate ao crime organizado.
Há uma tensão entre grupos que defendem remanejar os presos para fora do estado e os que são contra a medida por temerem represálias do crime, já que no topo desta lista estaria Marco Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola e considerado principal chefe da facção.
O estudo para a remoção de 15 presos da chefia do PCC começou no mês passado, quando equipes de inteligência do governo Márcio França (PSB) detectaram um possível plano de resgate de Marcola e de outros comparsas dele, todos confinados na penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
O secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, que sempre se manifestou contrário à transferência dos chefões do PCC para presídios federais, concordou inicialmente em pedir à Justiça a remoção, segundo a Folha apurou. Em seguida, porém, foi demovido da intenção.
O recuo, que teria aval do secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, contrariou integrantes do Ministério Público e da Polícia Militar, que defendem a transferência imediata dos presos em razão do grande esforço e recursos empregados pela PM para evitar possíveis tentativas de resgate.
Eles alegam que a transferência se tornou premente diante do efetivo enviado a Presidente Venceslau, com quase todos os homens da Rota e do COE (operações especiais), além do uso de armas de guerra emprestadas pelo Exército.
Um indicativo de que a ideia de resgaste de criminosos continua existindo seria a presença de drones flagrados sobrevoando a região do presídio, além de disparos característicos de tiros de fuzil.
Os defensores da transferência de Marcola argumentam ainda que, além de ser custoso para os cofres do estado manter um efetivo tão grande no interior, também há risco de desmoralização das forças de segurança.
Marcola está preso em São Paulo há quase 20 anos e continua cumprindo pena superior a 300 anos, por uma série de roubos, além de crimes ligados ao comando do PCC.
Integrantes do grupo que são contrários à transferência defendem que mandar os criminosos do PCC para presídios federais demonstraria uma fragilidade de São Paulo e dificuldades de resolver um problema com origem nos próprios presídios paulistas.
Esse grupo também vê risco de a transferência desencadear outra megarrebelião, como a ocorrida no início dos anos 2000, e ataques às forças de segurança, como em 2006. Seria uma decisão complicada e, assim, melhor deixá-la para ser resolvida por João Doria (PSDB), governador recém-eleito, no início de 2019.
O governador Márcio França (PSB) disse na semana passada que não havia falado sobre a transferência de Marcola com os secretários da Segurança e da Administração Penitenciária, mas que o faria.
Na tarde desta terça (6), França se reuniu com os dois, mas o teor do encontro não foi divulgado. Segundo a Folha apurou, eles teriam decidido não pedir a transferência por enquanto.
Também nesta terça-feira, o deputado federal e senador eleito Major Olímpio (PSL) encaminhou ofício ao procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Poggio Smanio, para que ele peça as transferências do chefes do PCC.
“Para que haja desarticulação da ação idealizada, enfraquecimento do crime organizado e preservação de vidas”, afirmou Olímpio.
Há no país cinco prisões federais (Porto Velho/RO, Mossoró/RN, Campo Grande/MS, Catanduvas/PR e Brasília/DF), com projetos para evitar fugas que incluem obstáculos para inibir tentativas de resgate.
Um diferencial das unidades federais é um maior isolamento dos presos, com celas individuais, restrição de visita íntimas (em algumas) e proibição a TVs, jornais e revistas. O acesso a familiares e advogados é monitorado.
Em São Paulo, o sistema parecido é o do RDD (regime disciplinar diferenciado).
Para envio de um preso ao sistema, um decreto federal estipula alguns requisitos, como pertencer a organização criminosa. A determinação é feita por juiz estadual, que solicita vaga ao governo federal.