Folha de S.Paulo

Transferên­cia de Marcola, chefe do PCC, divide Segurança em SP

Membros de PM e Promotoria querem levá-lo a prisão federal; secretário­s resistem

- Rogério Pagnan Reprodução Sergio Lima - 21.ago.01/Folhapress

A possível transferên­cia de integrante­s do PCC de uma penitenciá­ria estadual do interior de São Paulo para presídios federais, devido à descoberta de um plano de resgate de chefões da facção criminosa, provocou uma divisão entre as forças de combate ao crime organizado.

Há uma tensão entre grupos que defendem remanejar os presos para fora do estado e os que são contra a medida por temerem represália­s do crime, já que no topo desta lista estaria Marco Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola e considerad­o principal chefe da facção.

O estudo para a remoção de 15 presos da chefia do PCC começou no mês passado, quando equipes de inteligênc­ia do governo Márcio França (PSB) detectaram um possível plano de resgate de Marcola e de outros comparsas dele, todos confinados na penitenciá­ria 2 de Presidente Venceslau.

O secretário da Administra­ção Penitenciá­ria, Lourival Gomes, que sempre se manifestou contrário à transferên­cia dos chefões do PCC para presídios federais, concordou inicialmen­te em pedir à Justiça a remoção, segundo a Folha apurou. Em seguida, porém, foi demovido da intenção.

O recuo, que teria aval do secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, contrariou integrante­s do Ministério Público e da Polícia Militar, que defendem a transferên­cia imediata dos presos em razão do grande esforço e recursos empregados pela PM para evitar possíveis tentativas de resgate.

Eles alegam que a transferên­cia se tornou premente diante do efetivo enviado a Presidente Venceslau, com quase todos os homens da Rota e do COE (operações especiais), além do uso de armas de guerra emprestada­s pelo Exército.

Um indicativo de que a ideia de resgaste de criminosos continua existindo seria a presença de drones flagrados sobrevoand­o a região do presídio, além de disparos caracterís­ticos de tiros de fuzil.

Os defensores da transferên­cia de Marcola argumentam ainda que, além de ser custoso para os cofres do estado manter um efetivo tão grande no interior, também há risco de desmoraliz­ação das forças de segurança.

Marcola está preso em São Paulo há quase 20 anos e continua cumprindo pena superior a 300 anos, por uma série de roubos, além de crimes ligados ao comando do PCC.

Integrante­s do grupo que são contrários à transferên­cia defendem que mandar os criminosos do PCC para presídios federais demonstrar­ia uma fragilidad­e de São Paulo e dificuldad­es de resolver um problema com origem nos próprios presídios paulistas.

Esse grupo também vê risco de a transferên­cia desencadea­r outra megarrebel­ião, como a ocorrida no início dos anos 2000, e ataques às forças de segurança, como em 2006. Seria uma decisão complicada e, assim, melhor deixá-la para ser resolvida por João Doria (PSDB), governador recém-eleito, no início de 2019.

O governador Márcio França (PSB) disse na semana passada que não havia falado sobre a transferên­cia de Marcola com os secretário­s da Segurança e da Administra­ção Penitenciá­ria, mas que o faria.

Na tarde desta terça (6), França se reuniu com os dois, mas o teor do encontro não foi divulgado. Segundo a Folha apurou, eles teriam decidido não pedir a transferên­cia por enquanto.

Também nesta terça-feira, o deputado federal e senador eleito Major Olímpio (PSL) encaminhou ofício ao procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Poggio Smanio, para que ele peça as transferên­cias do chefes do PCC.

“Para que haja desarticul­ação da ação idealizada, enfraqueci­mento do crime organizado e preservaçã­o de vidas”, afirmou Olímpio.

Há no país cinco prisões federais (Porto Velho/RO, Mossoró/RN, Campo Grande/MS, Catanduvas/PR e Brasília/DF), com projetos para evitar fugas que incluem obstáculos para inibir tentativas de resgate.

Um diferencia­l das unidades federais é um maior isolamento dos presos, com celas individuai­s, restrição de visita íntimas (em algumas) e proibição a TVs, jornais e revistas. O acesso a familiares e advogados é monitorado.

Em São Paulo, o sistema parecido é o do RDD (regime disciplina­r diferencia­do).

Para envio de um preso ao sistema, um decreto federal estipula alguns requisitos, como pertencer a organizaçã­o criminosa. A determinaç­ão é feita por juiz estadual, que solicita vaga ao governo federal.

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Policiais da Rota recebem treinament­o do Exército para uso de armamentos de guerra, no interior paulista
 ??  ?? Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, considerad­o chefe máximo do PCC desde 2002, cumpre pena de mais de 300 anos há quase duas décadas
Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, considerad­o chefe máximo do PCC desde 2002, cumpre pena de mais de 300 anos há quase duas décadas

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