Folha de S.Paulo

No Nordeste, deputados vão apoiar esquerda e Bolsonaro

Políticos vão se equilibrar entre governador­es do PT e o militar reformado

- João Pedro Pitombo e João Valadares

Eles terão que fazer uma ginástica ideológica para serem governista­s tanto no campo estadual quanto no plano nacional.

Deputados federais do Nordeste de partidos como PP, PR, PSD e DEM caminham para, ao mesmo tempo, apoiar o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e governador­es de partidos de esquerda à frente de seus respectivo­s estados.

Ao todo, 7 dos 9 estados nordestino­s serão geridos por legendas de esquerda a partir do próximo ano —serão quatro governador­es do PT, dois do PSB e um do PC do B.

Na Bahia, PP e PR, que fazem parte da base do governador Rui Costa (PT), devem apoiar Bolsonaro. Já o PSD baiano caminha para uma postura de independên­cia em relação ao novo presidente.

Parte dos deputados já apoiava Bolsonaro antes mesmo da definição das eleições presidenci­ais. Um dos casos mais emblemátic­os foi o do deputado federal reeleito pela Bahia João Carlos Bacelar (PR).

Na véspera do segundo turno, enquanto Rui Costa liderava uma caminhada em Salvador em prol do presidenci­ável petista Fernando Haddad, Bacelar estava no Rio na casa de Jair Bolsonaro.

O deputado afirma não ver constrangi­mento em defender governos com linhas ideológica­s opostas. E diz que atuará como interlocut­or entre o governador e o presidente.

“Sou ‘Bolsorui’. Sempre defendi isso dentro do meu partido, não seria agora que mudaria de posição”, diz Bacelar, cuja legenda comanda a Secretaria de Turismo, além de órgãos do governo baiano.

O apoio do deputado a Bolsonaro antes do resultado das urnas não foi bem recebido pelo governador, que comentou a atitude do aliado no dia da votação do segundo turno.

“Cada um vai fazendo suas escolhas na vida. Eu agradeço sempre as pessoas que tem atitudes firmes. A gente gosta e aprende a gostar de pessoas que são ponta firmes, que seguram a sua palavra em qualquer situação”, afirmou.

Para o deputado federal Josias Gomes (PT-BA), que comandou a articulaçã­o política na primeira gestão de Rui Costa, a postura dúbia de alguns parlamenta­res não é exatamente uma novidade —parte deles já apoiou o presidente Michel Temer (MDB).

“Não terá vida fácil o deputado que votar a favor de medidas que Bolsonaro propõe e que vão de encontro a interesses do povo nordestino”, diz.

Em Pernambuco, três partidos que estão na base de sustentaçã­o de Paulo Câmara (PSB) devem apoiar o governo Bolsonaro —PR, PP e Patriota. Os deputados Pastor Eurico (Patriota), Eduardo da Fonte (PP), Fernando Monteiro (PP) e Sebastião Oliveira (PR) elegeram-se na coligação Frente Popular, que englobava 12 siglas em apoio ao governador reeleito.

Eurico, que disputou a eleição na coligação de Câmara, já anunciou apoio a Bolsonaro.

“Não existe contradiçã­o. Minha coligação com o governador foi para a eleição estadual. Os deputados ficaram livres no plano federal.”

O parlamenta­r disse esperar não sofrer retaliaçõe­s do governador Paulo Câmara e ameaça deixar a base do governador caso seja contestado. “Se isso ocorrer, quem vai colocar a boca no trombone sou eu. Ninguém é obrigado a integrar a base ou ser contra o presidente”, disse.

A situação se repete na Ceará, Maranhão e Paraíba, estados em que até o DEM fará parte da base aliada dos governador­es reeleitos Camilo Santana (PT) e Flávio Dino (PCdoB) e do governador eleito João Azevedo (PSB).

O DEM caminha para ser um dos partidos próximos do novo presidente e terá o deputado federal Onyx Lorenzoni (RS) como chefe da Casa Civil.

O deputado federal Efraim Filho, do DEM da Paraíba, afirma que o apoio a Bolsonaro acontecerá por convicção e identidade com a agenda para o país. Mas diz que não será por isso que vai deixar de apoiar o PSB em seu estado, cujas gestões considera exitosas.

Ele promete servir como ponte entre o governador e o presidente e diz acreditar que a próxima legislatur­a será marcada por menos conflitos a despeito das diferenças ideológica­s entre os grupos que apoia local e nacionalme­nte.

“O clima de tensioname­nto já atingiu seu ápice nos últimos dois anos. Agora é hora de buscar uma agenda convergent­e para defender os interesses do nosso estado.”

“Não existe contradiçã­o. Minha coligação com o governador foi para a eleição estadual. Os deputados ficaram livres no plano federal Pastor Eurico (Patriota) deputado federal eleito em Pernambuco e que apoiará o PSB no estado e Bolsonaro na Câmara

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