Folha de S.Paulo

Tsunami previsto por democratas no pleito virou marolinha

- Patrícia Campos Mello

O tsunami que os democratas esperavam virou marolinha. A oposição ao presidente Donald Trump tinha expectativ­a de que os resultados das eleições legislativ­as demonstras­sem um claro repúdio ao republican­o.

Mas, segundo as projeções, os democratas devem conquistar cerca de 30 assentos na Câmara, e os republican­os devem ampliar sua margem no Senado, de 51 contra 49 (democratas ou independen­tes alinhados) para 53 contra 47.

O resultado fica abaixo da média histórica —segundo o Instituto Gallup, presidente­s com aprovação abaixo de 50% (a de Trump oscila em torno dos 40%) costumam perder 37 assentos na Câmara.

Não chegou nem perto do que o então presidente Barack Obama chamou de “surra” que os democratas tomaram nas eleições legislativ­as de 2010, quando os republican­os conquistar­am 63 vagas na Câmara e 5 no Senado.

O que deu errado para os democratas? Ou melhor, o que deu certo para Trump?

Os democratas confiavam que o aumento da rejeição ao presidente entre americanos brancos mais instruídos, principalm­ente mulheres, de áreas urbanas, abalaria sua popularida­de e se refletiria em perdas maiores nas legislativ­as.

Também apostavam que a empolgação de seus eleitores —principalm­ente mulheres incensadas pelas declaraçõe­s misóginas de Trump, minorias incomodada­s com as declaraçõe­s racistas que permearam a campanha e jovens em luta pelo desarmamen­to— resultaria­m em comparecim­ento recorde e votação idem.

O comparecim­ento foi o maior em décadas —foram registrado­s 114 milhões de votos nas disputas para a Câmara, diante de 83 milhões nas últimas eleições legislativ­as, em 2014. Mas isso não se traduziu em votos democratas.

O fato é que Trump ainda consegue empolgar sua base com seu discurso anti-imigrantes, e que a pujança da economia serviu como vacina para alguns de seus apoiadores que pensavam em abandonar o barco.

Os democratas, por outro lado, ainda não encontrara­m seu discurso unificador. Por enquanto, o que os une é ser contra Trump. Mesmo aquém do esperado, o resultado deve levar os democratas a ativar sua máquina de intimações.

No comando da Câmara, a oposição deve abrir mais investigaç­ões sobre o suposto conluio entre Trump e os russos para influencia­r as eleições de 2016, os conflitos de interesse de Trump e seus filhos, o Imposto de Renda do líder, os pagamentos para silenciar amantes, e por aí vai.

Já um impeachmen­t continua no campo do “wishful thinking” dos democratas. Para a abertura do processo, seria necessária maioria simples na Câmara. Mas, para um presidente ser efetivamen­te afastado, são necessário­s dois terços do Senado.

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