Folha de S.Paulo

Câmara dos EUA terá renovação de 19%, menos da metade da brasileira

Ao menos 110 mulheres foram eleitas, um recorde, apesar de ainda ocuparem só 25% dos assentos

- Danielle Brant

A renovação na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos deve ser menos da metade da observada na sua equivalent­e brasileira, em torno de 19%, apesar das eleições de meio mandato presidenci­al mais acirradas da última década.

Dos 435 assentos disputados, pelo menos 83 terão congressis­tas que nunca fizeram parte do Congresso. No Brasil, dos 513 deputados, 243 nunca tinham ocupado o cargo, ou 47,4% do total.

O Texas teve o maior número de novatos nesta eleição: 9 dos 36 políticos que representa­rão o estado em Washington não fazem parte do atual Congresso.

Serão cinco novos deputados pela Pensilvâni­a, que teve seu mapa distrital redesenhad­o pela Suprema Corte do estado depois que o original, de 2011, foi acusado de beneficiar republican­o.

O estado tem 18 representa­ntes na Câmara. A partir de 2019, nove serão republican­os e os outros nove, democratas. Hoje, 12 pertencem ao partido do presidente Donald Trump.

A Carolina do Norte, outro caso de desenho de mapa distrital que favorece osre publicanos, vai envia rum novo con- gressista a Washington. Ainda assim, abalança de poder ainda pende ao partido de Trump: são dez representa­ntes da legenda, contra três democratas eleitos.

Flórida terá cinco estreantes, assim como Nova York, que levará a Washington uma estrela em ascensão, Alexandria Ocasio-Cortez.

A nova-iorquina do Bronx também protagoniz­ará outro dos marcos desta eleição: aos 29, será a mais jovem a ser eleita ao Congresso americano.

Ela também será uma das pelo menos 110 mulheres eleitas para a Câmara baixa, um recorde —ainda que signifique 25% dos 435 assentos disponívei­s. Até agora, as mulheres nunca haviam tido mais que 84 cadeiras na Casa.

Além de Ocasio-Cortez, várias outras mulheres quebraram recordes nesta eleição.

Rashida Tlaib, em Michigan, e Ilhan Omar, em Minnesota, serão as primeiras mulheres muçulmanas a ocupar um assento congressio­nal.

Em Massachuse­tts, Ayanna Pressley se tornou a primeira negra a ocupar um assento pelo estado na Câmara dos Deputados, enquanto, no Tennessee, Marsha Blackburn será a primeira mulher a representa­r o estado no Senado.

Sharice Davids e Deb Haaland serão as primeiras indígenas eleitas ao Congresso —pelo Kansas e pelo Novo México, respectiva­mente. Já o Texas enviou as primeiras hispânicas do estado a Washington: Veronica Escobar e Sylvia Garcia.

A Pensilvâni­a, que não tinha mulheres em sua representa­ção no Congresso, elegeu quatro. E em Iowa, Abby Finkenauer e Cindy Axne conquistar­am assentos que antes pertenciam a republican­os.

As mulheres também fizeram história em outras esferas de poder. A Dakota do Sul terá sua primeira governador­a, Kristi Noem, assim como o Maine, que elegeu Janet Mills.

No Kansas, a democrata Laura Kelly derrotou, por margem estreita, o conservado­r republican­o Kris Kobach. É uma vitória de relevo, porque o estado é considerad­o reduto do partido de Donald Trump. Michelle Lujan Grisham e Gretchen Whitmer conquistar­am, respectiva­mente, os governos do Novo México e de Michigan.

A partir de 2019, haverá mais mulheres democratas que republican­as no Congresso.

A diferença partidária no quesito gênero, que já havia ficado evidente no número maior de democratas concorrend­o a um assento no Congresso, deve ficar ainda maior, estima Kelly Dittmar, do Center for American Women and Politics da Universida­de Rutgers.

Em mensagem em uma rede social, ela escreveu que, apesar de um ganho de um ou dois assentos no Senado —o Arizona, onde duas mulheres disputam o assento, ainda é dúvida—, a representa­ção de mulheres republican­as no Congresso vai diminuir em 2019.

“Então o trabalho não para aqui. Nunca que resolvería­mos o problema de baixa representa­ção de mulheres em um único ano”, afirmou.

Antes do resultado, a disputa eleitoral já havia sinalizado uma distância entre os partidos: do lado democrata, 43% dos candidatos eram mulheres, ante 13% no espectro republican­o.

Kathy Chiron, presidente da League of Women Voters do Distrito de Colúmbia, avalia que parte do resultado favorável às mulheres foi motivada por episódios de grande repercussã­o na mídia, como a confirmaçã­o do conservado­r Brett Kavanaugh na Suprema Corte e a retórica desagregad­ora do presidente Trump.

“Mulheres e homens veem o que está acontecend­o no noticiário e a direção que este país está tomando e querem ter suas vozes ouvidas”, afirmou.

“Nossa mensagem sempre foi e sempre será que continuar a votar é a chance de resolver os assuntos que interessam. O voto é nossa maneira de fazer a diferença e influencia­r nossas comunidade­s.”

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Don Emmert/AFP Alexandria Ocasio-Cortez, eleita em Nova York

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