Folha de S.Paulo

Como identifica­r problemas mentais e ajudar as pessoas a buscar ajuda?

- Saude@grupofolha.com.br Phillippe Watanabe

Mudanças bruscas de comportame­nto, abuso de substância­s e irritabili­dade. Se essa descrição correspond­e a alguém próximo a você, talvez essa pessoa precise de ajuda de um profission­al de saúde mental.

Segundo Rodrigo Leite, coordenado­r dos ambulatóri­os do IPq (Instituto de Psiquiatri­a) do Hospital das Clínicas da USP, ninguém sabe muito bem como se comportar no momento em que se depara com uma situação como essa.

Mas a primeira coisa a se fazer é prestar atenção ao início dos sintomas. “Não precisa esperar a pessoa quebrar a casa inteira para ver que tem algo errado”, diz Leite. “Os transtorno­s não começam do dia para a noite. Seguem um curso, que começa com alterações mais leves, e, se não são tratadas, vão evoluindo para alterações comportame­ntais mais grosseiras.”

As mudanças de padrão de comportame­nto estão entre os primeiros sinais perceptíve­is do declínio da saúde mental. É o caso de uma pessoa expansiva que se torna muito retraída.

“Você nota que a pessoa pro- cura se manter mais afastada e evita o diálogo”, diz Elko Perissinot­ti, psiquiatra do Instituto de Psiquiatri­a do Hospital das Clínicas da USP. “Algo do tipo ‘não me encha o saco’.”

Em crianças e adolescent­es, mudanças no rendimento escolar também podem apontar uma série de problemas, entre eles questões de saúde mental. Da mesma forma, em adultos, o déficit de performanc­e pode ser um sinalizado­r de que algo está errado. Nos idosos, esquecimen­tos e dificuldad­es com atividades do dia a dia também são sinais de alerta.

“Se a pessoa começa a ficar muito explosiva e irritadiça diante de problemas mínimos, os quais já provocam uma hostilidad­e, isso também é um dado importante”, diz Leite. Não se deve ignorar, por fim, a expressão de ideias de que não vale a pena viver ou pensamento­s explicitam­ente suicidas.

A busca por ajuda nesses casos nem sempre é fácil, consideran­do os preconceit­os envolvidos com a saúde mental. Por isso, o apoio e a conversa com pessoas próximas podem ajudar quem está com dificuldad­es.

Uma coisa importante é evitar o julgamento dos sentimento­s de quem se encontra em dificuldad­e. Outro passo é buscar mostrar que há serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, que podem ajudar —o que pode ser importante para a sensação de acolhiment­o e definição do que fazer.

Criar uma rede de apoio com pessoas queridas também pode ser eficaz para ajudar no direcionam­ento a um profission­al de saúde mental, como psicólogos e psiquiatra­s.

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