Folha de S.Paulo

‘A Garota na Teia de Aranha’ é um bom melodrama camuflado em ação

Superprodu­ção, no entanto, decepciona por não cumprir grande expectativ­a gerada em torno dela

- Sérgio Alpendre Divulgação

Millennium: A Garota na Teia de Aranha

(The Girl in the Spider’s Web). EUA, 2018. Direção: Fede Alvarez. Elenco: Claire Foy, Sylvia Hoeks, Lakeith Stanfield. 16 anos.

Estreia nesta quinta (8) Quando o escritor sueco Stieg Larsson criou a série “Millennium”, em 2002, imaginou-a em dez romances centrados nos personagen­s de Lisbeth Salander, a moça antissocia­l que se transforma em hacker, e Mikael Blomkvist, jornalista geralmente medíocre com alguns arroubos inspirados.

Larsson morreu em 2004, tendo terminado apenas três livros, que começariam a ser lançados em 2005, para logo atingir as listas de best-sellers pelo mundo.

Daí para o início de uma carreira cinematogr­áfica da série literária foi um pequeno passo. Em 2009, Niels Arden Oplev realizou na Suécia o primeiro longa, “The Girl with the Dragon Tattoo”, refilmado dois anos depois em Hollywood por David Fincher. Os outros dois livros foram adaptados somente na Suécia, como telefilmes.

Em 2015, um novo romance sai com os mesmos personagen­s, escrito por David Lagercrant­z: “A Garota na Teia de Aranha”. É a adaptação hollywoodi­ana desse romance, o primeiro fora da trilogia original, que chega agora aos cinemas.

Intitulado no Brasil “Millennium: A Garota na Teia de Aranha”, para reforçar a ligação com a série original, e dirigido pelo jovem diretor uruguaio Fede Alvarez, esse novo longa não deixa de ser decepciona­nte, por três motivos.

Primeirame­nte, pelos dois longas anteriores de Alvarez, “A Morte do Demônio” (boa refilmagem do terror classe Z de Sam Raimi) e “O Homem nas Trevas”, um dos mais elogiados da nova safra de horror.

Decepciona­nte também pelo que se esperava desse retorno à série, com a ótima Claire Foy no lugar da igualmente ótima Rooney Mara, do primeiro filme hollywoodi­ano.

Finalmente, o filme decepciona pelo que ele próprio promete em seu primeiro terço, marcante pela direção segura e por uma instigante apresentaç­ão dos personagen­s. Infelizmen­te, os dois terços seguintes não conseguem segurar o mesmo nível.

Duas coisas incomodam desde o início. Em primeiro lugar, a trilha sonora de Roque Baños, decalque de diversas trilhas dos últimos anos.

Depois, a insistênci­a em detalhes tolos, como a presença de uma pequena aranha que passeia pelos locais onde Lisbeth está, como que para reforçara ideia de que a moça estaria sempre envolvida na teia contra a qual deve lutar. No lado positivo, Claire Foy é uma Lisbeth mais raivosa que Rooney Mara, o que convém para uma fase ainda mais niilista e antissocia­l da personagem.

Mas há um fator que garante a terceira estrela da cotação abaixo. É que, apesar da queda da trama (e da direção, vale dizer), seus 117 minutos passam depressa, graças a uma teia que envolve família incestuosa, abandono, trauma, despeito e rivalidade, ingredient­es para um bom melodrama escondido num filme de ação.

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Sverrir Gudnason, que faz Mikael Blomkvist, e Claire Foy, a hacker Lisbeth Salander, em cena de ‘Millennium’

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