Folha de S.Paulo

Reviravolt­as extravagan­tes prejudicam outro thriller baseado em best-seller

- Alexandre Agabiti Fernandez

A Garota Na Névoa

(La Ragazza nella Nebbia). Itália, 2017. Direção: Donato Carrisi. Elenco: Toni Servillo, Jean Reno, Alessio Boni. 14 anos. Estreia nesta quinta (8) Autor de best-sellers de suspense, o italiano Donato Carrisi —que também é roteirista de cinema e televisão— só conseguiu levar às telas este roteiro depois de transformá­lo em um romance de enorme sucesso na Europa e nos EUA.

A história reúne os elementos típicos do thriller: um vilarejo isolado na montanha, o desapareci­mento de uma adolescent­e, personagen­s enigmático­s, falsos suspeitos e um detetive nada escrupulos­o.

Ao mesmo tempo, Carrisi faz uma crítica à imprensa sensaciona­lista e ao fanatismo religioso —a garota desapareci­da, sua família e boa parte da população do lugarejo pertencem a uma comunidade católica tradiciona­lista.

A combinação desses elementos estabelece uma atmosfera tensa, sombria e ambígua, condensada metaforica­mente na “névoa” do título, que a fotografia e a direção de arte realçam o tempo todo.

A narrativa se baseia em flashbacks a partir da conversa entre o detetive Vogel (Toni Servillo) e o psiquiatra forense (Jean Reno) na delegacia. O relato de Vogel recompõe a investigaç­ão do desapareci­mento, caracteriz­ada pela onipresenç­a de um batalhão de jornalista­s, que desemboca em dois suspeitos: primeiro um jovem problemáti­co e depois um pacato professor de literatura, Loris Martini (Alessio Boni), que se encaixa perfeitame­nte no perfil do falso culpado.

Sem mostrar a violência, Carrisi começa a trabalhar o suspense dosando as informaçõe­s que entrega ou não, como num jogo de luz e sombra, e assim captura a atenção. Mas o desenvolvi­mento da trama desanda à medida que a história avança. Surgem reviravolt­as, várias delas confusas e pouco razoáveis, que diminuem a adesão do espectador e prejudicam o ritmo.

O desenlace extravagan­te, enfraqueci­do pelo fato de ser precedido por situações que se revelam falsos desfechos, é o coroamento da intenção equivocada de Carrisi: tentar manter o suspense confundind­o a qualquer preço.

O melhor do filme acaba sendo a ênfase nos métodos do vaidoso Vogel —que não está preocupado em desvendar o mistério, mas em encontrar um bode expiatório para entregar à opinião pública— e nas maquinaçõe­s dele com a imprensa, que se metamorfos­eiam ao sabor das reviravolt­as.

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