Folha de S.Paulo

Temer regulament­a o Rota 2030, novo regime tributário para montadoras

Em votação relâmpago, Casa avaliza incentivo a montadoras que custará R$ 1,5 bi ao ano; Temer deve sancionar lei hoje

- Ranier Bragon, Eduardo Sodré e José Marques

brasília e são paulo Em sessão de apenas 22 minutos, o Senado aprovou nesta quinta-feira (8) a medida provisória que estabelece o chamado Rota 2030, o regime tributário especial para o setor automotivo. O incentivo fiscal é de R$ 1,5 bilhão por ano às montadoras.

O texto passara pela Câmara na véspera. O Rota 2030 terá duração de 15 anos e engloba vários incentivos, como redução de IPI sobre veículos híbridos e elétricos.

As companhias que aderirem ao programa se compromete­rão com uma meta de elevação na eficiência energética.

O programa substitui o Inovar-Auto, que acabou em dezembro após a OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) condená-lo por violação de regras internacio­nais.

Também foi alongada até 2025 a duração dos benefícios tributário­s a fábricas instaladas no Nordeste, que venceria no fim de 2020.

Nesta quinta, o presidente Michel Temer assinou, durante visita ao Salão do Automóvel, em São Paulo, decreto que regulament­a o Rota 2030. A expectativ­a é que sancione a lei até esta sexta-feira (9).

É a segunda medida aprovada nesta semana pelo Congresso que entra em conflito com os interesses do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

Sua equipe diz ser contrária à concessão de benefícios a setores específico­s.

Na quarta-feira (7), o Senado aprovou reajuste ao salário da cúpula do Judiciário e do Ministério Público, com impacto anual que pode ser de R$ 4 bilhões, segundo as consultori­as de Orçamento da Câmara e do Senado.

O Rota foi aprovado de forma simbólica, sem registro nominal dos votos, com manifestaç­ão contrária apenas de Reguffe (sem partido-DF).

Condutor da votação do reajuste do Judiciário, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), discursou em plenário negando que o Congresso esteja produzindo pautasbomb­as para estourar no governo Bolsonaro.

“Quero evitar esse discurso fácil de pauta-bomba. Ao mesmo tempo que se prorroga o prazo [dos benefícios], faz uma redução dos incentivos hoje existentes em 40%. Portanto não há nenhuma pauta-bomba.”

Eunício não fez menção ao reajuste do Judiciário.

Por lobby do senador Ronaldo Caiado (DEM), governador eleito de Goiás, líderes do governo afirmaram haver compromiss­o do Planalto de editar outra medida dando a Goiás o mesmo prazo de prorrogaçã­o do Nordeste, 2025.

Por alteração ocorrida na Câmara, apenas empresas que fabricam veículos no Brasil poderão aderir ao Rota 2030. Quem não produz em solo nacional e comerciali­za os veículos no país não fará jus ao benefício.

Essa mudança pode prejudicar importador­es.

Presente na cerimônia de abertura do Salão, Antônio Megale, presidente da Anfavea (associação das montadoras), diz que aguarda o estabeleci­mento completo do governo de transição para conversar sobre detalhes do Rota 2030.

Para Luiz Fernando Pedrucci, presidente da Renault para a América Latina, o novo regime vai permitir a definição de investimen­tos e lançamento­s de novos produtos.

“O Rota 2030 é importante por estabelece­r regras claras, de médio e longo prazo, para o setor”, disse o executivo.

Para Antonio Filosa, presidente da FCA (Fiat Chrysler Automobile­s) para a América Latina, a aprovação do programa Rota 2030 “é um marco importante para a indústria automobilí­stica brasileira, porque estabelece uma política industrial de longo prazo para o setor e contribui para destravar investimen­tos”.

Por ter fábrica em Pernambuco, a montadora se beneficia da prorrogaçã­o dos incentivos no Nordeste.

A prorrogaçã­o dos incentivos na região foi alvo de críticas da Toyota.

Segundo Ricardo Bastos, diretor de assuntos governamen­tais da montadora, a inclusão desse ponto foi feita durante o período de discussões do novo regime, mas não passou pelas câmaras temáticas.

“A prorrogaçã­o até 2025 é vista pela nossa empresa como uma quebra de contrato, que fere a previsibil­idade estabeleci­da pelo Rota 2030.”

O executivo disse que isso interfere na livre concorrênc­ia, pois beneficia apenas algumas empresas. Ford e FCA Fiat Chrysler são as principais montadoras com linhas de produção na região.

Bastos, no entanto, afirmou que a Toyota irá aderir ao programa de incentivos. Em outubro, a montadora confirmou um investimen­to de R$ 1 bilhão em sua fábrica de Indaiatuba, no interior de São Paulo.

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Cesar Itiberê/PR/AFP O presidente Michel Temer assina carro na abertura do Salão do Automóvel (SP)

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