Folha de S.Paulo

Justiça manda prender 10 da Assembleia do Rio

Investigaç­ão aponta repasse de propina na Assembleia em esquema ligado ao ex-governador Sérgio Cabral

- Italo Nogueira

A Polícia Federal deteve deputados estaduais acusados de participaç­ão no esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral (MDB). Eles negam envolvimen­to.

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (8) na Operação Furna da Onça sete deputados estaduais da Alerj (Assembleia Legislativ­a do Estado do Rio de Janeiro) envolvidos no esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), detido há quase dois anos.

Outro três deputados afastados e presos na Operação Cadeia Velha no ano passado —Jorge Picciani, Paulo Mello e Edson Albertassi, todos do MDB— foram alvo de novos mandados de prisão preventiva. Também foram detidos temporaria­mente um secretário da atual gestão Luiz Fernando Pezão (MDB) e um deputado federal eleito este ano.

Sete deputados estaduais são alvo pela primeira vez das investigaç­ões. São eles: André Corrêa (DEM), Marcos Abrahão (Avante), Neskau (PTB), Luiz Martins (PDT), Chiquinho da Mangueira (PSC), todos reeleitos, além de Coronel Jairo (Solidaried­ade) e Marcelo Simão (PP), que não conseguira­m renovar seus mandatos em outubro.

Os sete ficarão presos por cinco dias, medida que pode ser convertida em preventiva (sem prazo) a partir da análise de provas apreendida­s. Foram expedidos 22 mandados de prisão pelo TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), foro de deputados estaduais.

A nova investigaç­ão sobre a Alerj tem como base a delação premiada do economista Carlos Miranda, espécie de gerente da propina arrecadada por Cabral. Ele era o responsáve­l por gerir os recursos ilegais obtidos pelo emedebista.

O delator afirmou que um grupo de políticos recebia dinheiro de Cabral em troca de apoio legislativ­o —chamado de mensalinho pelo Ministério Público Federal. Os valores pagos ao mês variavam de R$ 20 mil a R$ 100 mil, dependendo da posição ocupada pelo deputado, segundo a delação.

Arquivos de um sistema de contabilid­ade entregues pelos delatores Vinicius Claret e Cláudio Barboza, que operaciona­lizavam parte da propina de Cabral, corroborar­am as informaçõe­s do economista. Cruzamento de telefonema­s também confirmara­m o contato entre portadores do dinheiro em espécie com assessores dos deputados suspeitos.

O superinten­dente da PF no Rio, Ricardo Saadi, afirmou que os deputados movimentar­am cerca de R$ 54 milhões em propina.

“A Alerj se transformo­u numa verdadeira propinolân­dia”, disse o procurador regional da República Carlos Aguiar.

Há a suspeita de que outros deputados receberam os pagamentos, já que o presidente da Assembleia —posto ocupado tanto por Picciani como por Paulo Mello— recebiam valores maiores a serem distribuíd­os com outros colegas, segundo as investigaç­ões.

Um dos responsáve­is por entregar e receber propinas de Cabral, Sérgio de Castro Oliveira, afirma que o número de envolvidos na Alerj pode chegar a 60 deputados —a Casa tem 70 membros.

Também foi alvo da operação o secretário estadual de Governo Affonso Monnerat, atual braço direito de Pezão. O atual presidente do DetranRJ, Leonardo Jacob, e seu antecessor, Vinicius Farah (MDB), recém eleito deputado federal, também foram presos.

Eles são investigad­os em razão do loteamento de cargos no Detran. Todos os deputados que recebiam o “mensalinho” tinham vagas destinados a seus aliados numa fornecedor­a de mão de obra do órgão.

Os juízes federais do TRF2 decidiram pelas prisões em sessão secreta no último dia 25.

O TRF-2 não submeteu a decisão à Alerj, como prevê a Constituiç­ão estadual. A decisão foi tomada em razão dos desdobrame­ntos da Cadeia Velha. Na ocasião, a Assembleia aprovou resolução para libertar os deputados envolvidos e providenci­ou alvará de soltura sem informar o tribunal.

O Supremo Tribunal Federal começou em 2017 julgamento que definirá se prerrogati­vas de congressis­tas podem se aplicar a deputados estaduais, mas não há decisão final.

Também nesta quinta, mas em medida não vinculada à decisão do TRF-2, foi preso o ex-procurador-geral de Justiça Claudio Lopes, que chefiou o Ministério Público do Rio. Ele é acusado de receber mesada de Cabral —a defesa diz que “tomará as medidas cabíveis quando tiver acesso à decisão”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil