Temor de novo escândalo fez comitê intervir na ginástica dos EUA
Documentos cruciais para uma investigação de abuso sexual, procurados havia muito tempo por investigadores do Texas, foram localizados por dirigentes da Federação de Ginástica dos EUA (USAG, na sigla em inglês), em sua sede em Indianápolis.
A descoberta levou o Comitê Olímpico dos Estados Unidos a agir para assumir o controle da federação nesta semana, a fim de evitar a possibilidade de um novo escândalo.
Ainda que não esteja claro se a descoberta dos documentos indica que alguém tenha tentado escondê-los, dirigentes do comitê disseram que não havia como aceitar a possibilidade de novas turbulências em um esporte praticado por milhares de atletas e que busca uma nova direção.
Os investigadores consideram os documentos cruciais para uma investigação sobre o médico da equipe nacional de ginástica dos Estados Unidos Lawrence Nassar, 54, e seus abusos sexuais contra ginastas em um centro de treinamento da modalidade no Texas, que foi fechado.
Diversas ex-ginastas acusaram Nassar de agredi-las sexualmente no centro de treinamento, sob o pretexto de realizar procedimentos médicos. Nassar está servindo o que na prática equivale a uma sentença de prisão perpétua, por múltiplas acusações de delitos de conduta sexual e pornografia infantil.
O comitê vinha estudando havia meses uma intervenção na federação, disse Patrick Sandusky, porta-voz do comitê. A entidade estava muito frustrada com os tropeços da USAG em seu esforço para deixar para trás o escândalo Nassar e reconquistar a confiança da comunidade da ginástica e dos principais atletas.
Nos dois últimos anos, a USAG teve três presidentesexecutivos. O vazio de liderança surge em um momento em que a organização está cambaleando ao peso de processos apresentados por mulheres e meninas que sofreram abusos cometidos por Nassar.
A probabilidade de que ela encerre esses casos por acordo rapidamente não é alta, e é possível que os pagamentos relacionados a qualquer acordo resultem em sua falência.
O mistério que cerca os documentos levou o comitê olímpico a decidir que a USAG, em sua forma atual, talvez não seja capaz de se reformar, e que uma nova entidade talvez tenha de ser criada.
Funcionários do governo e ex-ginastas vêm insistindo em que isso é essencial há meses.
De acordo com uma pessoa informada sobre o acontecido, Sarah Hirshland, presidente-executiva do Comitê Olímpico dos EUA, vinha considerando privar a USAG de seus poderes como entidade esportiva nacional, um procedimento conhecido como “descredenciamento”, desde que assumiu o posto, em agosto.
Ela decidiu no final de semana passado levar a ideia adiante, depois que a equipe nacional retornou do Mundial em Doha, onde as ginastas americanas conquistaram o quarto título por equipes consecutivo. O anúncio foi recebido positivamente por muita gente no mundo do esporte.
“Se eles pretendem descredenciar a federação”, disse Dominique Moceanu, ganhadora do ouro olímpico em 1996 e dona de uma academia de ginástica, “precisam agir rápido para que os atletas possam se preparar para a próxima Olimpíada”.
O processo de descredenciamento pode levar meses. Para descredenciar a federação de ginástica e cancelar seu papel supervisório sobre todas as categorias da ginástica no país, o comitê olímpico tem de constituir uma comissão de revisão, que preparará um relatório. Só depois disso o conselho do comitê votaria o descredenciamento.
Nesse meio tempo, o comitê olímpico anunciou que administrará as equipes nacionais de elite. A organização ainda está tentando determinar de que maneira vai administrar as demais responsabilidades da federação, como a fiscalização de academias locais, credenciamento de treinadores e gestão das responsabilidades legais em função de processos relacionados ao escândalo de abuso sexual.
A decisão do comitê, porém, está longe de ser uma panaceia. Nas próximas semanas, o escritório de advocacia Ropes & Gray deve divulgar um relatório muito aguardado sobre a maneira com que o órgão lidou com o caso Nassar.