Folha de S.Paulo

Rede em SP oferece registro de arma para ‘proteger sua família’

- Elaine Granconato

Na onda da eleição de Jair Bolsonaro (PSL), uma empresa de São Paulo começou a oferecer serviço para ajudar a comprar e registrar armas. Uma das bandeiras do presidente eleito para a segurança é a flexibiliz­ação do Estatuto do Desarmamen­to, para ampliar a posse e o porte de armas pela população.

Uma das unidades da empresa Rede Cartório Fácil fica em Santo Amaro, na zona sul. Logo na entrada da loja, um banner divulga o serviço e traz o telefone de contato pelo WhatsApp para “você que deseja proteger sua família”.

Inaugurada há um mês, a unidade faz parte de franquia que oferece atividades cartorária­s com a mesma função de um escritório de despachant­e.

O processo de obtenção do registro é burocrátic­o e leva 30 dias. A reportagem entrou em contato com a empresa na terça (6), sem se identifica­r. O atendente disse que cobra R$ 1.600 pela autorizaçã­o de compra e registro da arma.

O Cartório Fácil ajuda o interessad­o a agilizar a documentaç­ão, com certidões negativas e atestados psicológic­os e de aptidão. Segundo o atendente, houve “seis registros de arma” só na última semana.

Sem o serviço, o interessad­o tem de pagar cerca de R$ 580. A Rede Cartório Fácil, com sede no interior, foi procurada pela reportagem por dois dias, mas não se manifestou.

O despachant­e André Ribeiro, dono da unidade da Rede Cartório Fácil em Santo Amaro, disse nesta quinta (8) que, para evitar “polêmica”, retirará da porta de sua loja o banner de divulgação do serviço oferecidos aos interessad­os em registrar sua arma de fogo.

A superinten­dência da Polícia Federal afirmou que o processo para obtenção do registro da arma pode ser feito por despachant­es, mas que não há atendiment­o prioritári­o.

O advogado e gerente de relações institucio­nais do Instituto Sou da Paz, Felippe Angeli, diz que a legislação barra a publicidad­e para venda de armas, exceto em publicaçõe­s especializ­adas. A multa pelo descumprim­ento varia de R$ 100 mil a R$ 300 mil.

“No banner, não consta venda, mas apenas o registro da arma”, justificou Ribeiro.

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