Folha de S.Paulo

Bolsonaro vai receber rombo de R$ 259 bi do Congresso

Dez projetos com renúncias e gastos avançam no Congresso; parlamenta­res negam estratégia

- Bernardo Caram

No último ano de mandato, deputados e senadores armaram para o governo Bolsonaro bomba fiscal de ao menos R$ 259 bilhões, mostra levantamen­to da Folha.

O valor se refere ao impacto nas contas públicas, em quatro anos, causado por dez projetos aprovados ou que avançaram no Congresso, a despeito do teto de gastos.

No último ano do atual mandato, deputados e senadores armaram para o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), uma bomba fiscal de ao menos R$ 259 bilhões, mostra levantamen­to da Folha.

O valor refere-se ao impacto nas contas públicas, nos próximos quatro anos, causado por dez projetos aprovados ou que avançaram no Congresso em 2018.

Apesar de o Orçamento estar sob regência de um teto que barra a expansão de gastos, os parlamenta­res aceleraram propostas que vão na direção contrária, seja com matérias de autoria do Legislativ­o, pressão por concessões em projetos editados pelo governo ou derrubada de vetos presidenci­ais.

As eleições deste ano, que vão deixar a maior parte dos atuais parlamenta­res sem vaga no Congresso a partir do ano que vem, não impediram a aprovação da chamada bomba fiscal. O resultado das urnas vai promover uma renovação de 51% da Câmara e de 85% das vagas disputadas no Senado.

Nesta semana, os senadores aprovaram aumento de 16% nos salários dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). O reajuste provoca um efeito em cascata que leva a aumentos salariais em todas as esferas do serviço público.

O impacto anual da medida chegou a ser estimado em R$ 4 bilhões, mas novo cálculo da consultori­a de Orçamento do Senado diz que o custo será de R$ 5,3 bilhões ao ano.

Aplicada aos quatro anos de mandato de Bolsonaro, essa conta somará R$ 21,2 bilhões. Utilizando a mesma lógica aos outros projetos analisados que geram impactos anuais diversos, essa fatura chega a R$ 259 bilhões.

Também nesta semana, os parlamenta­res aprovaram a medida provisória do Rota 2030, que estabelece incentivos fiscais a montadoras de veículos. O projeto contraria as ideias da equipe de Bolsonaro, que critica a concessão de benefícios setoriais.

O custo anual será de R$ 2,1 bilhões, mas o texto foi alterado para incluir pendurical­hos que vão elevar o impacto.

Benefícios do Reintegra, regime que dá crédito tributário a exportador­es, foram ampliados e novos setores foram desonerado­s. Não há estimativa de custo dessas alterações.

Também foi incluída a prorrogaçã­o do regime que concede benefícios a montadoras instaladas no Nordeste. O programa tem custo anual de R$ 4,6 bilhões e terminaria em 2020. Agora, irá até 2025.

Após a aprovação, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), negou que o Congresso esteja produzindo bombas para estourar no governo Bolsonaro.

“Para evitar manchetes de jornal de que estamos produzindo pautas-bombas, quero evitar esse discurso fácil de pauta-bomba. Ao mesmo tempo que se prorroga o prazo [dos benefícios], faz uma redução dos incentivos hoje existentes em 40%”, disse na quinta-feira (8).

Entre as medidas aprovadas pelos parlamenta­res neste ano, está o refinancia­mento de dívidas para pequenos produtores rurais. Na tramitação, houve ampliação dos benefícios e do número de agricultor­es aptos a aderir ao programa, elevando o custo ao Orçamento de R$ 1,6 bilhão para R$ 5,3 bilhões. O texto foi parcialmen­te vetado e será novamente analisado pelo Legislativ­o.

O Congresso também entrou em Confronto com o governo depois que Temer editou um decreto que reduziu a alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrial­izados) de concentrad­o de refrigeran­tes de 20% para 4%. Quanto menor a alíquota, menos créditos fiscais são gerados pelo setor.

Primeiro, o Senado aprovou uma medida para derrubar o decreto. O texto aguarda análise da Câmara. Depois, com pressão do setor e de parlamenta­res, o governo editou novo decreto restabelec­endo parte do benefício. O recuo vai custar cerca de R$ 700 milhões aos cofres púbicos em 2019.

A lista da pautas-bomba tem a liberação da venda direta de etanol das usinas aos postos de combustíve­l (custo R$ 2,4 bilhões ao ano), benefícios para transporta­doras (R$ 9 bilhões ao ano) e a derrubada de vetos para autorizar o refinancia­mento de dívidas de pequenas empresas (R$ 7,8 bilhões em dez anos) e reajuste salarial a agentes comunitári­os de saúde (R$ 4,8 bilhões).

O governo ainda tenta adiar reajustes de servidores de 2019 para 2020, o que poderia gerar uma economia de R$ 4,7 bilhões. Apresentad­a em setembro, a medida que trata do tema nem sequer teve comissão instalada pelo Congresso. O texto precisa ser aprovado até 10 de fevereiro de 2019, ou perderá a validade.

Parlamenta­res pressionam também pela compensaçã­o da União aos estados pela desoneraçã­o de ICMS na exportação. Projeto sobre o tema, com custo anual de R$ 39 bilhões, foi aprovado em comissão mista e precisa ser votado nos plenários da Câmara e do Senado.

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