Folha de S.Paulo

Sim Jerusalém e Brasília: direitos iguais

Embaixada ficaria em território soberano de Israel

- André Lajst Cientista político, mestre em diplomacia e governo pela IDC Herzliya (Israel) e diretor-executivo da ONG educaciona­l StandWithu­s Brasil

Jerusalém é a capital de Israel. Costumeira­mente, as embaixadas se localizam na capital de cada país. É assim no Brasil, nos Estados Unidos e no Japão. Em Israel isso não deveria ser diferente. Mas é.

A maioria das representa­ções diplomátic­as estrangeir­as escolhe se basear em Tel Aviv, apesar de os gabinetes do primeiro-ministro e do presidente israelense, as residência­s oficiais, as sedes dos ministério­s e da Suprema Corte serem situadas na vizinha Jerusalém, assim como a Knesset, o Parlamento.

Em dezembro de 2017, a resolução do governo americano de transferir sua representa­ção oficial para a capital israelense levou a manifestaç­ões acaloradas no mundo todo.

Agora, a possibilid­ade de o presidente eleito no Brasil realizar o mesmo movimento acirra os ânimos nacionalme­nte.

Pessoas contrárias à mudança da embaixada brasileira alegam que isso é problemáti­co pelo fato de os palestinos também desejarem Jerusalém Oriental como capital de seu país. A resposta a esse argumento é uma só: assim como o prédio da diplomacia americana, o nosso ficaria na parte ocidental da cidade —também é nessa região, aliás, que estão as demais representa­ções dos Poderes israelense­s.

Para entender mais sobre o status da capital israelense, é preciso viajar no tempo. Jerusalém é sagrada para as três grandes religiões monoteísta­s: islamismo, cristianis­mo e judaísmo —esta última, a mais antiga. Os judeus estão ininterrup­tamente entre os habitantes da cidade nos últimos 3.000 anos, mesmo enquanto ela foi conquistad­a, destruída e reerguida por sucessivos impérios e exércitos, até que, no fim da Primeira Guerra Mundial, os otomanos foram substituíd­os pelos ingleses, os novos mandatário­s da região.

Em 1947, a ONU votou favoravelm­ente à partilha de território entre judeus e palestinos, para a criação de dois Estados. Na configuraç­ão então proposta, Jerusalém se tornaria uma cidade neutra, sem pertencer a um ou a outro. Em 1948, depois que Israel declarou sua independên­cia, cinco países árabes declararam guerra contra seu estabeleci­mento. Uma das consequênc­ias disso foi a tomada de Jerusalém Oriental pelos jordaniano­s. Essa é a parte da cidade onde estão importante­s marcos religiosos, como o Muro das Lamentaçõe­s e a mesquita de Al-Aqsa.

A Jordânia por quase 20 anos controlou a porção leste da cidade e, nesse período, nunca transferiu sua capital para lá ou a deu aos palestinos. Também proibiu os judeus de visitarem seus locais sagrados e destruiu 70 sinagogas jerosolimi­tas. Só com a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel conseguiu unificar a cidade e, depois disso, instituiu a liberdade de culto ali, inclusive para a fé islâmica.

Curiosamen­te, foi só quando a cidade deixou de pertencer à Jordânia que passou a ser vista pelo mundo como alvo da disputa entre israelense­s e palestinos. Uma incoerênci­a. Isso nos leva de volta à questão da transferên­cia da Embaixada do Brasil.

Motivos históricos e recentes sustentam o fato de Jerusalém Ocidental ser, indiscutiv­elmente, território soberano de Israel. A decisão do Brasil de levar sua embaixada para a cidade não traz nenhum empecilho para um futuro acordo entre israelense­s e palestinos. Ao tomar uma atitude mais equilibrad­a em relação a Israel, o Brasil poderá colaborar de forma mais efetiva na busca pela paz que todos desejamos.

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Lívia Serri Francoio

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