Folha de S.Paulo

Moro lega a sucessor decisões que serão cruciais para Lava Jato

Substituto analisará ações congeladas, debandada de casos e benefícios

- -Felipe Bächtold Adriana Machado/Reuters

são paulo Além de julgar cerca de 30 ações penais em andamento, o juiz que assumir os trabalhos de Sergio Moro na 13ª Vara Federal do Paraná herdará uma série de atribuiçõe­s e tarefas que podem mudar os rumos da Operação Lava Jato.

Entre as pendências e responsabi­lidades do novo juiz titular da operação estarão analisar ou rever benefícios a delatores com acordos já firmados, verificar pedidos dos investigad­ores a respeito de apurações em andamento e solucionar processos que se arrastam por causa de réus que estão no exterior.

Também precisará decidir se mantém no estado —ou na própria Vara Federal— investigaç­ões que não tenham vínculo direto com o núcleo das irregulari­dades descoberta­s na Lava Jato desde 2014, como crimes na Petrobras e desvios cometidos por empreiteir­as.

Neste ano, o juiz paranaense se viu sob uma ofensiva de advogados de defesa que tentaram tirar de seu comando procedimen­tos derivados de delações firmadas na Lava Jato. A exemplo de Moro, o novo juiz pode se ver obrigado a reivindica­r a permanênci­a desses processos.

Em abril, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que trechos da delação da Odebrecht sobre o ex-presidente Lula fossem enviados para a Justiça de São Paulo, por entender que não guardavam relação com o Paraná.

Os advogados de defesa cobraram a remoção imediata desses processos, mas Moro considerou que isso só seria feito se a segunda instância decidisse que não era da atribuição dele permanecer à frente dessas ações penais.

Uma de suas últimas medidas como juiz da Lava Jato foi pedir ao Supremo a devolução de uma ação penal contra o ex-ministro Guido Mantega que havia sido suspensa por ordem do ministro do STF Dias Toffoli em setembro. Também nesse caso houve uma reclamação das defesas quanto ao foro do julgamento.

Indicado ministro da Justiça do eleito Jair Bolsonaro, Moro ainda não deixou o cargo e oficialmen­te está em férias.

Enquanto isso, as audiências e processos da Lava Jato permanecem com a juíza Gabriela Hardt, colega na mes- ma Vara Federal. Só após a exoneração, a Justiça Federal lançará um edital que poderá transferir para a vaga dele algum outro juiz do Sul do país. Se houver mais de um interessad­o, o critério de escolha será por antiguidad­e.

Moro esteve à frente de 45 ações penais já sentenciad­as e condenou em primeira instância mais de 140 réus.

Cerca de dez alvos sem condenação em segunda instância estão em prisão preventiva (sem prazo) por ordem do juiz —medidas que podem ser revistas por um sucessor.

Das 55 fases da Lava Jato no Paraná, 8 foram deflagrada­s neste ano. Ao menos cinco das etapas não viraram denúncias, ou seja, não geraram processos em tramitação na Justiça Federal até agora.

O titular da Vara Federal pode determinar o arquivamen­to ou autorizar prorrogaçõ­es dessas investigaç­ões.

Uma das fases ainda sem definição envolveu o ex-ministro Delfim Netto, alvo de buscas em março em apuração sobre suposta fraude na escolha das empreiteir­as nas obras da usina de Belo Monte, no Pará. Há outros inquéritos em andamento vinculados à Vara Federal que envolvem inclusive Lula, como um que trata de pagamentos à empresa de palestras do petista.

Outra definição que precisará ser dada pelo próximo titular da Lava Jato são os desmembram­entos de ações contra réus que estão no exterior.

Ao longo da Operação Lava Jato, o juiz manifestou que priorizari­a processos de réus presos, e ações contra foragidos acabaram com escasso andamento. Ele foi obrigado a pedir ajuda internacio­nal para intimar alvos que não estão no Brasil.

O trabalho de Moro incluía ainda a administra­ção de acordos de delação firmados em estágios iniciais da Lava Jato. Entre março e junho, por exemplo, ele autorizou a devolução dos passaporte­s brasileiro e português ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Lava Jato. Já houve ainda ao menos um caso de um compromiss­o de colaboraçã­o revisto por Moro, o do empresário Fernando Moura, em 2016, suspeito de ter mentido em sua delação e que foi obrigado a voltar para a cadeia por causa disso.

O dia a dia na Justiça Fede- ral do Paraná inclui até a administra­ção de bens confiscado­s por vínculos com crimes. Foi a partir de editais publicados por Moro que foram feitos leilões de parte de um hotel que pertencia ao doleiro Alberto Yousseff e do tríplex de Guarujá (SP) que originou a con- denação de Lula.

Ao falar da administra­ção de bens sequestrad­os pela Justiça, em palestra em 2015, ele disse: “Muitas vezes você não tem tempo nem de sentenciar, quanto mais para ficar cuidando dessas questões pequenas”.

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O juiz federal Sergio Moro, que deixará os casos da Lava Jato no PR para assumir o Ministério da Justiça

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