DEM é esquerda, ensina ‘príncipe’ em aula para colegas eleitos do PSL
são paulo Em 2010, no discurso em que caiu na jugular da “direita raivosa”, Lula defendeu “extirpar o DEM da política brasileira”. Mas o DEM? De direita? Dá zero pra ele.
Ao menos na aula de Luiz Philippe de Orleans e Bragança, a esquerda é o melhor enquadramento ideológico para o partido que, na atual encarnação ou com o nome de PFL, já agregou ACM (avô e neto) e Cesar e Rodrigo Maia.
Trineto da Princesa Isabel e hexaneto de dom João 6º, Luiz Philippe acumula vários títulos, de empreendedor no ramo de motopeças a príncipe —embora esclareça que o pai “renunciou a meus direitos dinásticos antes de eu nascer”. Se o Brasil restaurasse a monarquia, não seria ele a ser rei.
Em outubro, novo afazer: deputado eleito pelo PSL de Jair Bolsonaro. Na quinta (8), mais um: classe, conheçam o professor Orleans e Bragança.
Luiz Philippe reuniu na Assembleia Legislativa de São Paulo colegas do PSL —como ele, futuros deputados (estaduais e federais)— para ensinar um pouco de teoria política à moda Orleans e Bragança.
Um dos slides divide as principais legendas brasileiras em quatro guaridas. PT, PSOL, PSB, PPS, PDT e PC do B são classificadas como esquerda revolucionária. Entenda revolucionária como marxista, diz à Folha e logo faz a ressalva: “Na verdade, é uma perversão da palavra ‘marxista’. No fundo são modelos stalinistas, não levam à estabilidade social,e sim à instabilidade”.
A esquerda progressista é onde entra o DEM, na companhia do PSDB de João Do- ria, o MDB de Michel Temer, o Podemos de Alvaro Dias, a Rede de Marina Silva e o PP de Paulo Maluf. Isso mesmo, diz o “príncipe” que, em agosto, frequentou o noticiário como possível vice de Bolsonaro.
Em seu entendimento, são legendas apegadas a “pilares do socialismo”, como SUS, CLT e programas à Bolsa Família.
O degradê político continua com duas direitas: conservadora (PSL) e libertária (Novo).
Deputado há 27 anos, Bolsonaro respaldou posições pouco liberais (como isenções tributárias). Na campanha, puxou a orelha do vice, o general Mourão, quando ele chamou o 13º de “jabuticaba”. Aliás, prometeu incorporar a parcela extra no Bolsa Família.
Luiz Philippe reconhece: “Óbvio que você tem que descontar que uma pessoa que vem dos militares, não é que é socialista, mas defende interesses nacionais. Também tende a ser estatizante”.
Só que o capitão reformado “é muito sagaz, viu?” e, aposta, já marcha no compasso liberal de seu apontado para a pasta da Economia, Paulo Guedes.
O deputado eleito conta que tem falado com investidores externos inquietos com o novo governo de direita do Brasil. “Todos têm medo da ditadura militar.” Procura acalmálos: dizqueopróximo Planalto é como o “conservadorismo americano”, sem tanto poder concentrado no presidente.
Ainda na campanha, este Orleans e Bragança já havia dito à Folha que golpe mesmo foi o de 1889, quando assumiu o generalíssimo Deodoro da Fonseca, e não 1964 ou 2016, como a esquerda clama: “Foi o golpe da República. Aí você tem a ditadura militar”.